O NOSSO CÃO
Castro Laboreiro
UM CÃO DA NOSSA TERRA
O cavaleiro, que capitaneava estes homens, cavalgava um magnífico e fogoso cavalo murzelo sem mancha, ao lado do qual trotava bizarramente um daqueles gigantescos e valentes cães de Castro Laboreiro, igualmente preto retinto, cuja grandeza faz apavorar os que pela primeira os vêem.
O cavaleiro puxou de uma chave, que trazia consigo, e abriu uma porta falsa, que havia no lado direito do grande portão de ferro. O enorme cão de Castro Laboreiro, que o tinha acompanhado, lançou-se de um salto para dentro.
As nuvens estalejavam em trovões estridentes e prolongados; e os relâmpagos fendiam nelas longos sulcos caprichosos que iluminavam pavorosamente o espaço.
— Belzebu aqui! – disse então o cavaleiro, em voz surda e dominadora, ao cão, que olhava inteligentemente ora para ele ora para o terraço.
O gigantesco animal lambeu com humildade e afecto a mão, que imperiosamente apontava para a terra, e, em seguida, deitou-se de barriga e estendeu o focinho sobre as mãos, cravando ao mesmo tempo no amo um olhar cheio de tino e de intrepidez.
Ana Maria dos Santos Matos
O Satanás de Coura
Memórias do sec. XVII
Por
Arnaldo Gama
(Romance Inédito)
Este cheirinho ao nosso cão de certeza que abriu o apetite ao resto do romance. Vamos viver o que já passou há muito.
http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/18641/3/5252TM02PAnaMariadosSantos