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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

7 OBJETOS COM HISTÓRIA I

melgaçodomonteàribeira, 23.11.24

7 OBJETOS COM HISTÓRIA ENTRE CASTRO LABOREIRO E MELGAÇO

JORGE MONTEZ 

Do planalto a 1200 metros de altitude ao vale do rio Minho, este é um território surpreendente e com muito para contar. Entre Castro Laboreiro e Melgaço, contamos a história de 7 objetos que nos ajudam a melhor conhecer o concelho mais a norte de Portugal.

Da necrópole megalítica ao museu do cinema, do fato castrejo ao castelo de Melgaço, do vinho Alvarinho ao contrabando, são muitas as histórias que se cruzam e os objetos que as simbolizam. Escolhemos 7 objetos que contam histórias entre Castro Laboreiro e Melgaço.

919 b castrejas-traje.jpg

1 – O fato castrejo

O tradicional fato da mulher castreja ainda hoje é vestido pelas mais velhas da remota aldeia serrana de Melgaço. Em Castro Laboreiro, quando o frio se instala, põem a capa à cabeça e, sempre agarradas ao cajado, tornam-se pontos negros nos campos do planalto ou nas encostas da Serra da Peneda.

O traje castrejo é quente, feito de burel e lã de ovelha, que por aqui não se compra nem se vende, apenas se troca havendo em demasia. Quando novas ou em dia de festa, permitem um toque de cor no negro carregado que todos os dias carregam. A camisa pode então ter um tom de vinho ou de verde, mas sempre escuros. A alegria da cor fica escondida e só quem a veste sabe que a tem.

Quando os maridos emigravam, ou o luto se fazia, as mulheres vincavam ainda mais o negro. Viúvas de Vivos, chamou-lhes José Cardoso Pires e o nome ficou.

A peça mais peculiar são os calções. Esta espécie de alpercatas é sempre branca e feita de lã grossa de ovelha, tendo uma dupla função: protege do frio, mas também do mato.

Maria Olinda Gonçalves explica-nos o fato castrejo. Este é composto por três saias. A saia branca – que é de linho – o saiote vermelho, “para dar um pouco de cor, a saia negra e o avental que aqui chamamos de Mandil”. A blusa é também ela negra e o lenço da mesma cor é preso com um nó no topo, que este era um vestuário do dia-a-dia. Finalmente, nos dias de chuva ou muito frio, as mulheres de Castro Laboreiro vestiam ainda uma capa também ela de burel grosso que permitia que o corpo se mantivesse seco.

919 c 7-Castro Laboreiro, 1971 - concurso de cães

2 – O CASTRO LABOREIRO

São conhecidos como os boca negra e o nome passou também para os habitantes da aldeia serrana. Os cães Castro Laboreiro levam o nome da terra onde nasceram. Esta que é uma das mais antigas raças da Península Ibérica é também uma marca identitária do povo que habita o alto da Serra da Peneda.

De pêlo malhado, parecendo quase uma camuflagem, o Castro Laboreiro foi fundamentalmente cão pastor, sendo hoje conhecido como cão de guarda. É um animal de grande porte, mas os olhos cor de mel não enganam ninguém. Pode ser de guarda, mas é dócil para os donos e adora crianças.

Quem o afiança é Sara Esteves a criadora que – juntamente com o marido e os filhos – conseguiu travar o que parecia ser a extinção do Castro Laboreiro e deu nova vida a esta raça muito peculiar.

Pela aldeia, é usual cruzarmo-nos com estes cães pelas ruas. De pouco adianta chamá-los, que são poucos os que aceitam festas de estranhos. Esta é uma das suas caraterísticas. “O Castro Laboreiro está sempre alerta e lê muito bem as pessoas”.

Como marcas distintivas da raça estão o céu da boca negro, as orelhas sempre caídas, a cauda sempre em baixo, os quadris direitos e aqueles olhos cor de mel que nos perdem. Mas as histórias que se contam nos serões à lareira de Castro Laboreiro – uma aldeia que é um caso único no mundo – envolvem quase sempre lobos.

Quando era pastor, o Castro Laboreiro usava sempre uma coleira com pregos para tornar mais justa a luta com as matilhas. Mondego ou Fiel eram então alguns dos nomes mais comuns e há sempre alguém que lembra aquele cão que um dia desafiou o lobo. “O Mondego era um cão muito bom, que conseguia vencer uma luta com um ou dois lobos, mas a sua principal preocupação era nunca deixar que a matilha o rodeasse”, lembra Filipe Sousa. É também por isso que o cão é um dos 7 objetos com história entre Castro Laboreiro e Melgaço.

919 d anta.jpg

3 – A NECRÓPOLE MEGALÍTICA

O planalto de Castro Laboreiro é um local diferente, com uma energia muito própria, não é pois de estranhar ter sido este local escolhido pelo povo que aqui habitou entre o 5º e 4º milénio a.C. para erigir uma série de monumentos funerários.

A necrópole megalítica do planalto de Castro Laboreiro é a mais importante da Península Ibérica e ao todo tem mais de 80 monumentos. A maioria deles apenas são visíveis depois de se treinar a vista. São as mamoas, que se percebem na paisagem como pequenas elevações.

As mamoas cobriam as antas onde eram enterrados os mortos deste povo que vivia da caça e da recoleção. As escavações feitas permitiram datar os achados e ainda pôr a descoberto pinturas rupestres, com alguns vestígios de tinta.

É o caso do monumento 5 do Alto da Portela do Pau, onde na pedra aposta à entrada da anta são ainda perceptíveis os ziguezagues gravados na rocha.