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Gare de Hendaia
Cheguei a S. Sebastian e o frio já se fazia sentir. Gente e mais gente como nunca tinha encontrado nas minhas andanças por Portugal. Uma volta e só policias olhar para o mapa e Irun é que interessava. Uns míseros dez quilómetros e estava no local almejado. França em frente, quase palpável mas com a treta dum rio a separarmo-nos.
Os Bascos não ajudavam em nada, entrava numa bodega e logo eles mudavam de língua. Depois de dois a atirar umas palavras pseudo espanholas resolvi mudar para português legítimo. Mudança radical no comportamento daqueles velhotes; não mudavam de linguajar.
Com os cartos curtos só dava para olhar as chicas com olhos de predador, e já chegava a hora de atacar o objectivo. Uma volta junto à passagem do caminho-de-ferro deu logo para perceber que por ali não havia safa, e pior ainda, deu direito a uma chamada em voz militar dum guardia civil:
— Que haces aqui?
Los cogones se fueram.
O parceiro que tinha encontrado na viagem, portista da Sé, ia abrir a boca quando perguntei:
— Es esta la carretera para Bilbao?
— Esta es la carretera para tu madre se no te vas.
Dei meia volta e pirei-me que o homem não tinha boa cara. Uns dias antes os bascos da ETA tinham feito o primeiro-ministro saltar acima dum quarto andar:
— Viva Franco mas alto que Carrero Blanco – palavra de ordem na altura dos martirizados bascos.
Realmente começamos a calcorrear a estrada de Irun-Bilbao. Meio quilómetro e um camião pára ao sinal de boleia. Corremos e o filho da p*ta arrancou quando nem meio metro nos separava. A berrar contra o corno quase não demos com um guardia civil que do outro lado da estrada nos acenava. Treta, que o porco camionista se desfaça aos bocados. Cabrão, franquista de merda, tu madre non te pariu, tu madre cagoute.
Primeiro identificação, depois espiolhar o que trazíamos. Quando descobriu na pasta do meu compincha três garrafas de Porto sorriu. Apalpou-me e encontrou a faca de mata que sempre me acompanhou. Um grito e pistola encostada à minha cabeça. Correu connosco depois de ficar com a faca e uma garrafa de vinho fino como o meu companheiro de viagem designava o Porto que transportava e me informou a seguir serviria para corromper um chef de chantier e arranjar trabalho e papéis.
Depois de muito andar pelas serras pirenaicas chegamos a Hendaia. Cobertos de picos do mato que as constantes passagens de helicópteros nos obrigavam a abraçar.
Um comboio até Paris e muitos picos para tirar.
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