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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MAIS UM DOMINGO I

melgaçodomonteàribeira, 06.03.13

 

Largo da Calçada - Melgaço

 

 

   Mais um domingo. Nada tinha previsto de especial. Na Vila, a Discoteca propunha música e de beber. Os arredores, nada. A escolha impôs-se rapidamente. Iria dar uma volta à Discoteca, beber uns copos com os amigos que encontrasse e tentar curtir um pouco. Não havia mais nada que se pudesse fazer em Melgaço. Às vezes, passavam-se bons momentos. Os amigos vinham dos arredores, onde viviam, ou das cidades onde estudavam. Todos traziam a mesma vontade de festa. Uns, depois de dois copos, já não havia quem os mandasse calar. Falavam e contavam coisas nas quais nem eles acreditavam. Outros, maissnobes, contavam que na cidade, ó pá, aquilo é que era, Melgaço, um atraso de vida. Os da Vila não podiam perceber. O que ali havia de melhor era a camioneta que ia até Monção, onde se apanhava o comboio para a civilização. O ditado dizia : "Se pões um pé na cidade, ficas tentado ; se pões os dois, ficas perdido". A maioria perdia-se.

   E depois havia os que só viam e que só falavam  doartigo. Para estes, era uma partida de caça permanente. O andar e a posição eram estudados e utilizados segundo a gaja que se queria engatar. Estudavam-lhe os movimentos, espiavam a cara dos possíveis concorrentes que à volta delas se amotinavam, com o fim de saber se caçavam nas mesmas terras. Mesmo o olhar delas era vigiado, não tivesse abela já alguém  em mira. E alguns, como eu, quando tinham vontade, vinham rir disto.        

   A agitação provocada pelas motorizadas e pelos carros na Calçada era grande. Passavam devagar diante dos três cafés do largo, para os quais olhavam descaradamente, e, em seguida, desciam para ir dar a volta à Avenida, regressando novamente à Calçada. Faziam isto várias vezes como se, ao voltar da Avenida, alguma coisa pudesse ter mudado.

   Obaile ia estar bom. As belezas mais cortejadas marcavam presença. Bom presságio. Estas arranjavam, sem problema, quem lhes pagasse a entrada. Claro que o pagador tinha direito a uma ou duas danças que ele explorava ao máximo. Mostrava às outras que tinha saída. Pagando-lhes a entrada, comprava um espaço publicitário. E, com as de fora, chegava a funcionar.  Havia de tudo e para todos os gostos : da menina bonita à leiteira do campo (a preferência de um amigo meu). O facto é que todos gostavam da Discoteca. Vinham mesmo do "lado de lá", sem esquecer os que vinham  do "corno de baixo", como dizia alguém de quem  gosto imensamente.

   Fui para a Discoteca, ver o ambiente. Era composta pelo café e pelo salão de baile, por debaixo. Foi o primeiro local de divertimento a ter o nome de discoteca, termo que nessa altura (segunda metade dos anos setenta) não existia em Portugal. Trouxeramo-lo da Espanha vizinha, onde era moeda corrente havia já alguns anos.

 

(continua)