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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

ENCONTRO COM INÊS VI

melgaçodomonteàribeira, 06.03.13

 

 

    Estive sentado na primeira fila aquando do assalto frustrado ao Congresso dos “fascistas” do CDS a assistir ao assalto e destruição da sede no Largo do Caldas, a fazer de plantão na Central de Comunicações, na Ribeira, no 11 de Março, a sanear PC’s na Central de Correios, a beber copos com o Álvaro (Cabeça de Vaca) nas Escadinhas do Duque. Na Trindade, com o Canelas, madeirense, que depois do jantar gritava:

   — Rapazes, vamos tomar a bebedeira!, com um sorriso que abarcava meia Lisboa.

O velho Brito, anarquista, dos tempos do Jornal Batalha e dos atentados, infelizmente falhados, contra o Salazar. O Luís Pacheco, escritor, a quem rendo a minha homenagem, sempre mais bêbado que nós todos juntos, mas que se fosse chatear para a p*ta que o há-de parir não fazia mal nenhum. O Jaime, o Janita, os charros de “haxe”, as músicas que todos queriam fazer, os bares de p*tass que desfazíamos, as meninas queques que tínhamos, e eu, eu sempre à espera que Inês aparecesse.

    Desapareceram BR’s dos PRP, apareceram FP’s. Acabaram os fascistas de ontem, apareceram os fascistas de hoje. Os velhos donos deram lugar aos donos novos e o meu suspiro sem fim continua.

    Inês não aparece.

    Eu só lembrava os seus cabelos dançando ao som duma valsa que só ela ouvia. Lembrava porque a toda a hora ela estava presente.

    Muito antes, quando o Franco, “hijo de p*ta”, “caudillo de m*rda”, mandou para o garrote os rapazes dos GRAPO, Consulado e Embaixada de Espanha foram pelos ares, todos nós gritávamos a máxima da ETA: Viva Franco, mais alto que Carrero Blanco, ela estava presente. Sentia-a a meu lado, o olhar fundido com o rio de que ela não gostava, mas a sorrir, sem sorrir, do seu segredo.

    Tantos tombos, tantos bares, tanta mulher, cerveja a jorros, amigos até nos “sem casa” de qualquer lado de Lisboa, só faltam beatas e outras tais … Ela tem que estar próximo. Eu sinto-a, eu cheiro-a e vou encontrá-la. Voltar aos velhos lugares que nunca deixei, ao rio a que chamo nosso e a … Inês.

 

(continua)