ENCONTRO COM INES II
Quem é ela? Quem é? Porque é que a conheces tão bem? Quem é? Lembras-te bem dela. Quem é? Quem é … quem é … quem??? Éééé …? quem?
Apetece-me blasfemar, gritar bem alto … quem é ela?
Quando levanto os olhos para a mesa em frente e … aí está!
Quem é? Está sentada a beber a bica, a olhar o vazio.
Fiquei estarrecido. O “taft-taft”, o quem é, o finalmente ela chegou, o é hoje, é hoje, bateram-me no estômago. Autêntico K.O. De repente, a força dum conhecimento antigo ao olhar novamente para ela acalmou-me. Sim, conhecíamo-nos há muito. Muito tempo e chegou a hora de nos reencontrarmos.
A mosca do empregado, vindo não sei donde, fez-lhe o troco e quando eu quis reagir … ela saía do café. Fiquei como uma estátua e na cabeça uma martelada, é ela … ela! Elaaaa … Só lhe falta o nome, mas é ela …
No quiosque, à saída, encontrei-a. Aí explodi:
— Olá! …
Olhou-me com um sorriso nos lábios e, como velhos amigos que se reencontram, gargalhou:
— Olá …
Feitas as compras e as apresentações, a sensação do murro no estômago voltou.
— Chamo-me Inês
Tinha um ligeiro sotaque que me fazia lembrar alguém … um lugar … não sei o quê.
Um passeio pela Avenida, naquela noite de Verão, conversa … sussurro, sentados na relva a ouvir ao longe o barulho do trânsito, o Mozart que eu curtia, Frederico gregoriano em missas que eu não assisti …
Os bombos e as gaitas de foles, o tio Miro e os putos com faixa vermelha à cinta e tigela no Ti Raul, para baixo porque para cima a paragem era na Maria do Nau …
Cheirava ao estanho do Frederico, aos ácidos do Pires, ao som do Reinales e à reguada do Professor Afonso.
Afinal, e proposto por ela, fomos para junto do rio.
(continua)