ZÉ DAS PETAS III
Desenho de Manuel Igrejas
MÁGUAS DA D. LÂMPADA
Penduraram-me
Para quê?
Nuns fios retorcidos de metal
Mas… e a luz?
… Nem sinal.
A minha utilidade
É a de dar à luz
Quando há
Electricidade.
Dar a Melgaço um ar
De Civilização,
O progresso mostrar
A este sertão.
Mas a falta de energia
Tudo isto contraria.
O fio vem
D’além da Galiza.
Mas nada por ele passa
Nem desliza.
Estando vento
É um tormento.
Se a chuva cai
Mal se me vai.
Se está calor
É um horror.
Se nem venta nem chove
A electricidade não se move.
Tempos a tempos, raramente,
Surge misteriosamente.
Mas à tarde,
Sem alarde,
Sem tirte nem guarte,
A luz parte.
O povo manso e ordeiro,
Acende então o candieiro,
E às vezes sem reparar
Que ela já regressara.
Luz tão débil e fugaz
Vais e vens quando te apraz.
Não me seduz
A tua luz
De Pirilampo fraco e vil
Duma energia… senil.
Mas sendo das luzes a pior
Consegues avançar o contador
Para o Torcato mensalmente
Ir apanhar dinheiro à gente.
Transcrição da 3ª página de Zé das Petas, que é completada com desenho de D. Lâmpada.
Autores:
Vasquinho na escrita
Manuel Igrejas no desenho
Camborio Refugiado