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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

ZÉ DAS PETAS II

melgaçodomonteàribeira, 06.03.13

 

 

ARRELIAS

 

— O sôr “chanfer” quer uma ajudinha?...

— Se me arranjasse umas câmaras novas…

— Home goberne-se côas que tem.

— Estas já deram o que tinham a dar. Tapei-lhe todos os furos, mas outros logo apareceram.

— Por onde andou vomecê p’ra ficar com as rodas neste estado?...

— Nem me fale tio Zé. Tive um frete p’ra Cabana e ia ficando sem carro. A estrada é nova mas tem cada trincheira, que até servem para plantar videiras…

— Olhe que a vinha tamem faz falta.

— Faz… mas o diabo da estrada foi um grande furo…

— Sim mas essa Cambra é um verdadeiro cribo.

— Olhe: este aqui foi ao pé do correio. Ia a dar a volta junto daquele jardim, que tem um buraco ao meio, e veio de lá uma bufarada… outro furo.

— Pois olhe que esse buraco, que está no jardim do Sôr Cardoso, é uma retrete nova com todas as modernices.

— Será… mas tive de ir consertar o pneu para longe. Só com mascaras contra gazes se poderá descer àquela nitreira.

— O sôr é muito esquesito.

— Este aqui, foi já a tempos em frente à Samaritana… Mas que valente furo esse! Ali calhou-me bem: tinha lá um miradouro, com erva fofinha onde pude trabalhar à vontade.

— Vomecê é burro. Aquilo não era um miradouro.

— Então era ring.

— Não, era um palanque para uma museca pequena. Mas como as festas cá já acabaram, e com elas, a nossa museca; resolveram acabar com ele para os rapazes poderem melhor jogar a bola.

— Depois quando ao dar a volta pela avenida marginal… Outro furo.

— O que lhe valeu foi o local ser bonito.

— Sim, é muito lindo e não lhe faltam as escadas de salvação.

— Por ultimo, em frente àquele armazém; o mar tornou-se bravo e… outro furo.

— Qual armazém? Aquilo é o mercado. E qual mar? O mar está longe, lá para Caminha.

— O mar, tio Zé, o mar dos motoristas é o piso irregular destas ruas.

— O sôr é um maldoso. Mas para castigo tem que se haver co essas cambras que num prestam para nada. Avie-se que é quasi noite.

— Não que eu já parei ao pé deste candieiro.

— Ah!Ah!Ah! Candieiro!? Estes carecas só servem para vista. Não se pode contar com a sua luz.

— Sim como certos cérebos que eu conheço…

— Adeus, sôr chanfer. O sôr é mais ilustrado e disse o que eu queria mas não sabia dizer.

— Obrigado, veremos se para o ano, com câmaras novas… Terei menos furos…

 

Transcrição da 2ª página, que é acompanha de desenho do Tio Zé e do sôr chanfer.

  

Autores:

 

Vasquinho na escrita

 

Manuel Igrejas no desenho