ZÉ DAS PETAS II
ARRELIAS
— O sôr “chanfer” quer uma ajudinha?...
— Se me arranjasse umas câmaras novas…
— Home goberne-se côas que tem.
— Estas já deram o que tinham a dar. Tapei-lhe todos os furos, mas outros logo apareceram.
— Por onde andou vomecê p’ra ficar com as rodas neste estado?...
— Nem me fale tio Zé. Tive um frete p’ra Cabana e ia ficando sem carro. A estrada é nova mas tem cada trincheira, que até servem para plantar videiras…
— Olhe que a vinha tamem faz falta.
— Faz… mas o diabo da estrada foi um grande furo…
— Sim mas essa Cambra é um verdadeiro cribo.
— Olhe: este aqui foi ao pé do correio. Ia a dar a volta junto daquele jardim, que tem um buraco ao meio, e veio de lá uma bufarada… outro furo.
— Pois olhe que esse buraco, que está no jardim do Sôr Cardoso, é uma retrete nova com todas as modernices.
— Será… mas tive de ir consertar o pneu para longe. Só com mascaras contra gazes se poderá descer àquela nitreira.
— O sôr é muito esquesito.
— Este aqui, foi já a tempos em frente à Samaritana… Mas que valente furo esse! Ali calhou-me bem: tinha lá um miradouro, com erva fofinha onde pude trabalhar à vontade.
— Vomecê é burro. Aquilo não era um miradouro.
— Então era ring.
— Não, era um palanque para uma museca pequena. Mas como as festas cá já acabaram, e com elas, a nossa museca; resolveram acabar com ele para os rapazes poderem melhor jogar a bola.
— Depois quando ao dar a volta pela avenida marginal… Outro furo.
— O que lhe valeu foi o local ser bonito.
— Sim, é muito lindo e não lhe faltam as escadas de salvação.
— Por ultimo, em frente àquele armazém; o mar tornou-se bravo e… outro furo.
— Qual armazém? Aquilo é o mercado. E qual mar? O mar está longe, lá para Caminha.
— O mar, tio Zé, o mar dos motoristas é o piso irregular destas ruas.
— O sôr é um maldoso. Mas para castigo tem que se haver co essas cambras que num prestam para nada. Avie-se que é quasi noite.
— Não que eu já parei ao pé deste candieiro.
— Ah!Ah!Ah! Candieiro!? Estes carecas só servem para vista. Não se pode contar com a sua luz.
— Sim como certos cérebos que eu conheço…
— Adeus, sôr chanfer. O sôr é mais ilustrado e disse o que eu queria mas não sabia dizer.
— Obrigado, veremos se para o ano, com câmaras novas… Terei menos furos…
Transcrição da 2ª página, que é acompanha de desenho do Tio Zé e do sôr chanfer.
Autores:
Vasquinho na escrita
Manuel Igrejas no desenho