DE MELGAÇO A TIMOR
17 anos passaram desde o massacre no cemitério de Santa Cruz em Díli. Do massacre recordo o que passou na Tv; imagens reais, distorcidas, encomendadas? Não sei nem me interessa, cada qual faça o julgamento que entender.
E qual a relação entre um blogue que fala de Melgaço e Melgacenses e o que aconteceu há 17 anos do outro lado do planeta?
Amizade.
O meu amigo Maquico chegou a Portugal vindo de Timor em 1975/6, passado dois ou três anos, desapareceu.
O meu amigo Quico, primo do Maquico seguiu o mesmo rumo.
O Lobato, esse sim, deixou cair duas palavras: vou regressar à minha terra.
A minha amizade por eles ainda hoje perdura, estejam onde estiverem.
Um dia, anos depois, encontrei o Zé, irmão do Maquico, farda do exército português vestida e trocamos umas palavras, misto de recordação e informação.
Maquico e Quico viviam na Austrália, Lobato entrou clandestino em Timor.
Ele, Zé, casado e filhos, residiam ao pé de mim em Queluz.
Voltamos a falar e o Zé fez-me uma confidência: “O Papa João Paulo II foi um dos maiores responsáveis pelo genocídio do povo timorense”.
O Papa idolatrado por milhões, sempre que chegava de visita a qualquer país, descia a escada do avião e beijava o solo em sinal de reconhecimento de soberania.
“Em Timor, na altura da visita, contra todo um povo filho da terra em que nasceu, ocupado por um invasor chamado Indonésia, não beijou o solo à saída do avião.”
Indonésia era soberana.
Ultrapassou Kissinger a meio da corrida.
Legitimou a ocupação e o genocídio dum povo.
Aos meus amigos, vivos ou mortos, que tudo fizeram para ter uma pátria, o meu abraço.
Timor Lorosae, judeus na II Guerra Mundial, republicanos da Guerra Civil de Espanha, desconhecidos portugueses caídos nas mãos do Cerejeira-Pide, a quem uma Santa Sé, agora governada por um ex-inquisidor geral, fidedigno de Torquemada e Santo Escrivá, nazi de formação, um dia abençoará, e esquecerá.
Para bem dele e sua camarilha, contra a fé dos povos católicos.
Mas o sangue não se lava na fonte, fica sempre uma marca que nunca será esquecida.
E a marca de sangue, qual sudário de Cristo, permanecerá.
Em nome de Cristo assassinais.
E nós damos uma esmola durante a eucaristia.
Cambório Refugiado