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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

A GRANDE GINCANA I

melgaçodomonteàribeira, 06.03.13

 

 

   Corria o ano de 1937. Na vila de Melgaço a vida passava mansa, com certo desafogo. A guerra civil espanhola prosseguia cruenta ali do outro lado do Rio Minho que, a bem da verdade, a não ser as notícias de perseguições e vinganças que redundavam em chacinas, proporcionava aos habitantes de toda a zona fronteiriça do lado português, bons lucros com o contrabando.

   Vinham de lá, de Espanha, toneladas de pacotes de moedas de prata, os duros que apenas valiam cinco pesetas como dinheiro desvalorizado, mas muito mais como metal. Vinham arrobas de ouro e outros metais valiosos em troca de tudo que fosse mantimento. Os camiões carregados de galinhas e ovos chegavam a fazer comboio em direcção a São Gregório. Mais tarde o sabão também entrou na troca.

   Mas esta não é a história que desejo contar.

   Isto apenas serve para justificar a abastança com que se vivia na época na nossa região, infelizmente à custa da desgraça de “nuestros hermanos”.

   Na vila de Melgaço vivia-se uma aborrecida monotonia. Pouco ou nada existia que representasse lazer..

   O passatempo principal era mesmo deixar o tempo passar.

   As romarias tradicionais nos dias próprios, um ou outro baile e os desafios de futebol que o Sport Club Melgacense disputava com as povoações vizinhas.

   Os adultos, para encher o tempo e gastar as coroas que lhes sobravam, organizavam excursões em camioneta que percorriam um roteiro de visitas às cidades nortenhas e romarias de fama.

   Ficaram no anedótico popular algumas dessas excursões.

   O espanto que o mar causava a quem o via pela primeira vez, a grandiosidade de edifícios nas cidades maiores, uma porção de outras coisas estranhas à vida melgacense e, os testículos do cavalo da estátua de D. Pedro IV, no Porto.

   A garotada, entretanto, crianças e jovens viviam uma fase de estagnação.

   Limitavam-se aos brinquedos seculares: jogo de pião, chinquilho, monta-burro, de esconder e, naturalmente, o mais recente, o jogo de bola de pano na avenida recém construída ou no jardim do Cardoso.

 

 

(continua)