A FILHA DO PADRE
À tia Maria, mãe do Jacob, do Reinaldo e da Lígia.
O Pe. António de Jesus Rodrigues, moço, dinâmico, ensinava além do catecismo, aos sábados na escola cantoria folclórica.
Chegou a comprar uma bola de couro para a rapaziada jogar futebol. Para quem jogava com bola de meia foi um grande melhoramento desportivo.
Além desses atributos era intransigente em seus princípios morais e religiosos.
O irmão dele, Armando, o único que não estudou enamorou-se por uma moça filha do Padre de Corçães. Ex-padre, abandonara a carreira eclesiástica, não sei se para assumir a filha ou outro motivo.
Ora o padre António opôs-se a tal namoro pois achava que a rapariga era filha do pecado pois fora gerada enquanto o pai era padre. Só que o irmão e a família não deram importância ao protesto e o casamento acabou por acontecer.
Entretanto o padre António desesperava-se e como tinha um génio exaltado por conta da questão familiar descarregava em todo o mundo. O homem vivia num estado de nervos insuportável.
Uma noite, mês de Maio, durante a novena, na hora de preparar para a bênção do Santíssimo, a rapaziada, eu entre eles, por qualquer coisa sorria em surdina. Isso era comum. Algum fazia uma palhaçada e os demais não se continham.
Acontece que naquela noite o padre António estava desesperado e ao ouvir os cochichos e o riso, virou-se, apanhou o rapaz que estava mais ao jeito e levou-o debaixo de bofetadas até à porta da rua pelo meio da mulherada que estava participando da novena. À tia Maria pareceu-lhe o neto dela, o Chatice (não era, era um outro das Carvalhiças que não me lembro mais o nome) e começou a resmungar.
Que aquilo não se fazia, que o rapaz tinha mãe e pai, etc., etc..
O padre, ainda “possesso”, com dedo em riste ordenou que ela se retirasse, e ela saiu sempre protestando.
Ainda na mesma época, o Tenente Peres levou o padre António até à sua adega para tomar uns goles e espairecer a agrura familiar.
Só que a conversa demorou até à hora do enterro do Tino Betrana, moleiro que vivia nos moinhos acima de Eiró, e o padre estava bêbado de cair.
Ele nem aguentava a luz da vela que o ritual exigia. Amparado, cambaleando acompanhou o enterro, acho que não chegou ao cemitério. Coisas do passado.
Autor conhecido mas não identificável.
Camborio Refugiado