MEMÓRIA DA GUERRA CIVIL DE ESPANHA V
O que o chamou às Astúrias da segunda vez?
“Tinha lá um irmão na construção de estradas.”
E nas minas, em que trabalhava?
“Não trabalhava nas minas, mas para as minas, era serrador.”
Mas aquela história das imagens a arder…
“Olhe, a madeira dos santos estava pintada e ardia bem, mas chiava. E um companheiro lá da cozinha comentava: filho da p*ta, ainda bufas!”
O construtor da estrada?
“Era um tal Martins, português, aqui de Crecente. Éramos 80 homens a trabalhar.”
Mas o sr. Manuel Alves recorda-se de fuzilamentos?
“Aqueles que os nossos apanhavam. Pediam sempre voluntários para fuzilar, mas nunca quis, nem para ver. Também não faltava quem quisesse.”
Com o cair da tarde, a conversa tomou rumos práticos e Manuel Alves diz que não tem documentos de ter pertencido ao exército da República.
“Mesmo assim, digo-lhe, há registos em Salamanca, em Madrid, nos arquivos espanhóis, é uma questão de os mandar procurar.”
Afinal, trata-se da primeira vez que lhe aparece a probabilidade:
“Sempre era mais uma reformazinha…”
Entrevista de Viale Moutinho, Diário de Noticias 11/08/98, com Manuel Alves “o manco do talho”.