NO CRASTO, MELGACUS SONHAVA COM MELGAÇO
O grupo olhou para o cimo do outeiro sobranceiro ao rio que vinha subindo e, descansando as costas, aguardaram que o druida derrotasse as forças indesejáveis que habitavam o lugar.
Homens rudes, guerreiros experimentados, lobos em campanha a quem nada escapa.
As túnicas brancas justas aos corpos musculados, escudos de peles verdes com os signos da deusa, machados sobre os ombros que encimam braços esculpidos em músculos que as virias adornam.
O cão lobo que seguia Melgacus, chefe da tribo celta, inquieto rosnava. O druida apontou para a rocha que encimava o outeiro e declarou em voz de deus que o lugar sagrado tinha sido encontrado.
Os celtas reunidos no acampamento do clã logo uniram forças para as primeiras saudações à deusa Morgana e o druida cortando um ramo de salgueiro declarou o lugar sagrado e pronto para receber as virgens que iriam regular a vida deste povo.
Guerreiros de rija tempora não demoraram a escorraçar os poucos homens pobres que roídos pela curiosidade dos sons que saíam do grupo se aproximaram. Melgacus acercou-se do solo rochoso onde iria edificar o castro, sonhando já com um castelo roqueiro que deixaria o clã em segurança, enquanto os guerreiros despejados das armas, se agarravam ao arado de rodas e às redes de pesca do salmão, que fumado serviria para alimentar a tribo durante o tempo que demorava a nogueira e macieira, a figueira e o cedro a florescer.
A deusa comandava o tempo da tribo, Morgana reinava em todos os lares.
Morgana reinava com a Dama do Lago nos bosques de carvalho, húmidos de todo o amor que recebiam em troca da paz que os exércitos e os amantes necessitavam.
A macieira, carregada de vermelhos frutos simbolizava o amor da Deusa à mãe Terra.
O cedro fala da confiança na mãe Terra.
Na nogueira encontramos a paixão. Paixão dos lares pela Deusa Modron, a deusa corvo.
A figueira trouxe a sensibilidade.
A Deusa Maeve fez emborcar a Melgacus o Guerreiro o vinho da sabedoria das mulheres.
Os fios de leite que escorre das suas folhas são lágrimas da Mãe Terra fértil, que nunca os deixará dormir com fome.
Quando a rainha Morgana amou Melgacus diante da tribo, todos os seres alados procriaram, as flores desabrocharam e os sapos e rãs redopiaram sobre o musgo mágico à volta do ribeiro.
Rio do Porto chamou-se por aí ter atracado a barca de Artur quando o ritual do Matrimónio Sagrado o uniu a Morgana.
Do castro em construção saiu o grito da canalha miúda, uns agarrados a cabelos e cabeças dos outros. As pedras que se aprontavam para fazer parte das paredes circulares das cabanas não entravam na loita.
A Deusa Macha, Mulher do Sol, filha de Aed o vermelho e de Ernmas a sacerdotisa, velava sobre a guerra e a morte, antes de qualquer mortal pisar terras de Avalon.
Dana trouxe o conhecimento e a escrita e quase derrotou o conto contado nas longas noites de vigília em que a Deusa Flidias, senhora das florestas recebia as graças dos guerreiros e a Deusa Henwen a Porca Branca Velha fugia com seus leitões da espada de Artur e recebia a hospitalidade da Deusa Cerridwen sua irmã no Caldeirão da Inspiração do qual Artur bebeu a força do Santo Graal e Brígida que beijou o escolhido Trovador dos Druidas com o awen, o sopro dos deuses.
Todos coabitavam no castro ora plantado por Melgacus o Guerreiro com o bardo a soprar a gaita e a cantar vivas ao Rei Sol.
O druida, aproximou-se e pensou: “com o tempo aprendes como as palavras ditas num momento de ira podem seguir lastimando a quem feriste, durante toda a vida” e levo comigo a força do javali e a sabedoria do unicórnio.
As crianças corriam sãs e escorreitas prontas para os trabalhos da sementeira e festival de Imbolc que saudava a Deusa Mãe Brigida.
Muitos deuses, muita fartura para que nada falte nas cerimonias conduzidas pelo druida pai e homenageia toda a Mãe Terra, soberana da terra e dos homens, conduzindo-os para a luz e responde às preces das mães do clã.
O fumo que sobe do fogo no interior da casa das noviças, impregnado do cheiro do alecrim e dos maios colhidos na grande orvalhada em honra de Morgana, mãe do todos, afastou os espíritos do druida que chamou Melgacus e lhe impôs as virias de grande guerreiro, chefe da tribo e das tribos que por aí viessem.
Os romanos caíram em emboscadas, foram derrotados e humilhados por aqueles homens guerreiros que com máquinas de guerra, machados, escudos e espadas, esmagaram o panteão de deuses que marchavam sob a águia romana seguindo o destino que as palavras de Cícero elevavam no senado da cidade eterna.
Melgacus deixou o resguardo do castro e estendeu o braço até onde a vista alcança. Estava marcado o território da tribo, o vale do Minho ao Trancoso seria pequeno para os artesãos que iriam contar os feitos de conquista e fundação de Melgaço, terra de Melgacus o Celta, que iria perdurar por séculos afora.
Com a bênção da Deusa e da fada Morgana, deusa libertada do limbo pela graça dos druidas, cantada pelos bardos até ao himno galego.
Camborio Refugiado em procura do Santo Graal sob o comando de Artur no reino gaellico onde arribou Lancelot do lago.