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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MEMÓRIA DA GUERRA CIVIL DE ESPANHA IV

melgaçodomonteàribeira, 05.03.13

 

 

O CONTRABANDO


“Um carabineiro disparou contra mim e acertou-me na perna. Foi no contrabando, estive internado no Hospital de Ourense…”

Manuel Alves, regressado das Astúrias, integrava-se perfeitamente nas andanças do contrabando, levando para lá o que fazia falta na Espanha e trazendo o que fazia falta em Portugal. Poderíamos dizer que eram graças de São Gregório.

“Ao passar o rio, aparecem os carabineiros aos altos. Íamos uns 15 e eu o da frente. Escondi a carga num sítio e fugi para o outro. Estava a ver os meus companheiros e fiz-lhes sinal. Havia um penedo por onde podiam voltar para Portugal. Não contávamos ali com aquela tropa. E eles lá conseguiram passar. Com a minha carga escondida na Espanha, só a queria recuperar e sair dali…”

Que contrabandeava nessa altura?

“Ovos e galinhas. Os meus companheiros conseguiram fugir, mas eu, como tinha ali a minha carga, arrisquei, mas dei de caras com um carabineiro que queria saber onde ela estava. Disse-lhe que não tinha carga nenhuma. Obrigou-me a acompanhá-los. Eu falava bem espanhol e queria ir a Portugal, a ver se os levava. Então, um deles puxa de uma pistola e pumba. A bala entrou-me por aqui, atravessou esta perna, rebentando ossos, artérias, veias, não houve remédio, e ainda me feriu a perna esquerda. Esta, em oito dias ficou boa, mas a direita perdi-a e foram três meses no Hospital de Ourense. Depois fui à Alemanha comprar esta prótese.”

Isso foi quando?

“Aí à volta de 1940. Depois casei e recomecei a vida, a trabalhar. Não larguei o contrabando, claro. Mas era como organizador, mandava outros. As coisas escondiam-se perto de minha casa. Pusemos um comércio na vila. Era uma casa de comidas e dormidas, mercearia e talho. Desenvolveu-se, criámos três filhos.”

O que se contrabandeava nessa altura?

“De lá para cá, ferragens, bicicletas, e de cá para lá, ovos, galinhas, alimentos. Sabão, café, o que fosse.”

 

(continua)


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