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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

O ENTERRO DO ESTUDANTE VII

melgaçodomonteàribeira, 05.03.13

 

 

Logo o Louro teve que pagar as favas, porque se não fosse o mijo dele estar tão carregado de tinto e cerveja a nossa situação não estaria tão mal.

E a filha a quem nunca pusemos o olho em cima? Bem, o problema da filha estava ultrapassado, também era só o olho.

Agora o problema do estômago, já era outra conversa. Amigos, amigos, mas fazer da casa um campo de concentração, ainda por cima pago, essa é que não.

E como quatro cabeças pensam melhor que uma, falava-se, falava-se e aguardava-se o dia em que …

Férias! Férias de Carnaval!

Contas feitas à vida, o insucesso escolar mais do que esquecido, só havia o problema dos velhos pagarem ou não, mas quem é que vai pagar para um menino teso ser grande entre os grandes? Férias na cidade? Não há nada para ninguém.

Mas o último dia tinha que ser comemorado … todos sabiam que depois das férias tudo seria diferente.

Recolhida a nota, dava para comprar cem gramas de gambas. Feita a compra, o Pequeno saltitava, irritante como sempre. “E beber? Bebemos o quê?”

O Padeiro fez-se sério, não fosse aquela cidade que deu origem à ditadura e, num abrir de braços, declarou:

— Vamos para casa; é lá que bebemos.

Ao subir a rua ninguém esquivou um olhar de lado para o Quartel da Polícia, quase lado a lado com a casa.

Polícia de Segurança Pública, PIDE, DGS … se outros nomes não arranjaram foi porque não tiveram tempo para tal.

Fosse o que fosse, na cabeça do Padeiro o grito de guerra era um por todos, todos por um e prejudicados daquela treta toda ou era a D. Maria, ou o magarefe, ou a dita filha, porque os verdadeiros culpados, isto é, os hóspedes pagantes, não podiam ter nada a ver com o assunto.

Reunião ….

 

(continua)