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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, HISTÓRIAS DE VIDA II

melgaçodomonteàribeira, 28.09.24

936 c 13-S. Gregório com vista sobre A Notária e

s. gregório com vista sobre a notária e frieira (galiza)

OS PATRIMÓNIOS ALIMENTARES NAS ROTAS DO CONTRABANDO

Lídia Aguiar

A D. Glória Pires transporta-nos para uma dupla realidade. A que ela própria viveu e a que se lembra de o pai ter praticado como grande contrabandista, na passagem de café para Espanha, ainda no tempo da Segunda Guerra Mundial. Nesta fase, por Cevide, pode-se afirmar que os patrimónios alimentares passados para Espanha foram dos mais variados, dadas as carências que o país vizinho vivia.

O marido de D. Glória contrabandeou gado, pela raia seca, pelo que ela nos informa que o gado que vinha era velho e o que ia era novo e de boa qualidade. A população sabedora que a boa carne ia para Espanha, acabava por a ir lá comprar, mesmo tendo de a contrabandear. Porém, o que mais enfatiza é a questão do pão, pois era obrigada a contrabandear, dado que o local onde habitava não tinha padeiro e do outro lado do rio, facilmente acessível se encontrava uma padaria, mas estava já em território espanhol. D. Glória, ainda no presente não compreende a razão de não poder comprar o pão à sua vizinha, de quem até era amiga, só porque estava do lado de Espanha. Revela-se aqui a identidade de fronteira, onde os territórios muitas vezes se confundem e as barreiras alfandegárias pouco ou nada dizem para quem vive na raia.

Este sentimento é comum nos dois povos da zona de fronteira e na linha cronológica em estudo. E isso o podemos confirmar através de quem praticou este ato até bem próximo da abertura das fronteiras. Atente-se na entrevista seguinte:

No tempo do contrabando, vinha muita gente comprar aqui na nossa loja. Tinham de passar a pé pelo rio (Trancoso). Levavam um pouco de tudo. Já foi nos 70/80 que começaram a ir as bananas, os figos, o bacalhau e o marisco. Nós comprávamos grandes quantidades e depois os portugueses mandavam vir os moços carregarem e levarem para lá, mas isso já não era connosco. Sei que levavam para Cevide, onde tinham a carrinha.

Aqui só passava alimentação. Os portugueses vinham e claro, depois tinham de passar a mercadoria pelo rio. A nossa loja esteve sempre orientada para Portugal. Também cá vinha muita gente no tempo de verão, os hóspedes das termas do Peso, e esses levavam muita coisa, faziam mesmo muitas compras. Eu também ia lá buscar o café. Aqui na loja sempre aceitei escudos e francos, pois tinha um senhor de Melgaço que vinha cá e me fazia o câmbio.

Mas as bananas foi mesmo a grande quantidade. Nós comprávamos e guardávamos no nosso armazém. Depois os portugueses é que as iam buscar para carregar pelo regato. Eram muitos rapazes. De Cevide sei que eles as distribuíam para as cidades como Porto e outras. Quem vinha a Cevide não era o grande patrão, era uma filha e dois empregados de confiança, que organizavam tudo.

Cada caixa pesava à volta de 12 quilos. Dependia da força de cada um. Uns levavam duas, outros três, mas havia quem levasse quatro. Amarravam-nas com umas cordas, pois quanto mais levassem mais ganhavam, pois eram pagos por caixa transportada. Começavam ao escurecer e andavam toda a noite a carregar. Os rapazes andavam todos contentes pois ganhavam algum bom dinheiro.

No tempo da fronteira fechada, isto aqui era muito movimentado. Só fechava a loja no dia 25 de Dezembro e no dia 1 de Janeiro. Para passar o regato o mais normal era porem uma árvore deitada e passarem por cima dela. Agora isto morreu. Os dois povos sempre se relacionaram. A fronteira, nada impediu. Aqui não há raças, não queremos saber se somos espanhóis ou portugueses. Claro que com a fronteira fechada sempre havia algum chato, mas nada nos impediu de nos sentir um só povo.

Isabel Fernandez – Frieira. Galiza – 22-1-2014

Isabel Fernandez, relata-nos um contrabando bem mais recente. Espanhola, moradora na Frieira, Galiza, onde ainda mantém a sua loja aberta, mas com uma frequência muito limitada, quando a compara com o negócio do tempo em que a fronteira estava fechada. Realça as boas relações entre os dois povos, que considera que sempre comunicaram como de uma só comunidade se tratasse.

É ainda significativo o seu conhecimento das rotas até às grandes cidades, nomeando a cidade do Porto, sabendo que era em camiões carregados em Cevide, que geograficamente se situa frente a Frieira, Espanha, do outro lado do rio Trancoso, precisamente onde se situa a sua loja.

A corroborar a sua afirmação, Antero, foi um dos que muita carga fez entre a loja da D. Isabel e os camiões em Cevide:

Eu trabalhei com as bananas, mas para o Mário da Corga. Esse era um grande contrabandista, mas também um grande senhor. Nos tratava muito bem e era muito justo a pagar e sempre nos tratou de uma forma muito humana. Era um grande senhor. Seríamos uns 30 homens a carrejar. A minha mãe com pena, lá ia com um caneco de limonada e ali se sentava a dar um copo de limonada a cada um que passava. Eu carregava no início da noite 6 caixas amarradas com uma corda, dava uns 75 quilos, estava com muita força, depois só trazia 50 quilos, ou seja, 4 caixas. Quantas mais caixas mais recebia.

Os guardas aí já eram mais livres. Pagavam-lhe um tanto por caixa. Então eles vinham no fim contar todas que estavam nos camiões, se ainda houvesse que carregar, também ajudavam, pois, mais caixas no camião, mais ganhos. No fim levavam o saco com o dinheiro, mais uma caixa de bananas ou bacalhau.

Antero Pires – Cevide – 23-1-2014

Com o testemunho de Antero, ficamos a saber que quem possuía os camiões eram contrabandistas de elevado poder financeiro, que contratavam rapazes novos para fazer o serviço duro de passar a fronteira com a mercadoria às costas. Neste caso, Antero, considera o seu patrão um homem justo, pois lhes pagaria um valor correto pelo serviço que praticavam. Constata-se igualmente que a guarda fiscal estava inserida nesta rede de contrabando. Porém, quando os camiões se afastam das zonas de fronteira torna-se difícil controlar as sucessivas brigadas que se encontra ao longo da estrada. Atente-se na seguinte entrevista:

Eu também ia trabalhar para os contrabandistas espanhóis, que esses pagavam bem melhor, apesar do caminho ser mais longo e sempre a subir. Trouxe para cá muita carne e azeite, sempre tudo ali pelo Trancoso.

O último contrabando que me recordo, assim forte, foi o das bananas. Eram toneladas por dia. Também veio muito gado, mas aí na minha opinião, ficamos a perder, pois vieram muitas vacas velhas e foram vitelos novos para lá.

As bananas eram grandes e boas. Nós carregávamos para um senhor de Penso que depois fazia a distribuição para Braga, Porto e outras cidades. Cada viagem correspondia a uma carrinha de 3500 quilos, o que dá muito perto de 300 caixas. Mas iam sempre várias carrinhas por noite. Era muita gente para carregar, o que dava dinheiro, aos contrabandistas, mas também aos cafés e ao comércio local, pois logo se gastava o que se ganhava, porque nós sabíamos que íamos ganhar mais.

Com a guarda só tivemos problemas na altura do tenente Zeca Diabo. De resto havia que por os homens a descansar, não sei se me compreende. As apreensões só se verificam de Ponte da Barca para baixo, de resto estava tudo controlado. Porque está a ver, eram muitas carrinhas que saiam daqui todas as noites e as pessoas começaram a falar e as autoridades a desconfiar, claro, começaram a mandar patrulhas para as estradas. Apesar de ir um carro à frente a abrir caminho, os guardas não saíam ao carro, porque repare, nas subidas as carrinhas tinham de engrenar terceira, quando não segunda, o que fazia imenso barulho e ao longe eles notavam logo. Assim nas subidas apanhavam-nos logo.

Também ouvi falar ao meu pai que o café até fazia parar o comboio espanhol para carregar. Penso que até o chefe da estação e o maquinista do comboio deviam estar metidos; mas disso só ouvi contar, mas sei que foi verdade, embora não seja do meu tempo. Não sei quantos sacos poderia levar cada batela, mas olhe que para carregar um vagon de um comboio, havia que trabalhar muitas horas da noite, imagino eu, pois que como não é do meu tempo nunca vi. Eu só usava as batelas para ir aos bailes a Espanha. Era normal ir a Notaria, a Espanha ao cinema, custava 5 pesetas. A verdade é que nos tempos livres passávamos mais tempo em Espanha do que do lado de cá. Ainda hoje tenho lá bons amigos.

A verdade é que no meu tempo a guarda já era mais conivente e por isso era tudo mais fácil. Por vezes faziam apreensões fictícias, eu próprio cheguei a ir à Alfândega levar 20 quilos de café, para depois passar toneladas para a Notaria. Era assim, agora é tudo livre, mas também não se ganha dinheiro.

José Abreu – Paços – 2014

    laguiar@iscet.pt

REVISTA TURISMO & DESENVOLVIMENTO

Nº 33

2020

936 d batela.jpg

batela

 

MELGAÇO, HISTÓRIAS DE VIDA I

melgaçodomonteàribeira, 21.09.24

935 b Castro Laboreiro - Perto do Ribeiro de Baixo

montes laboreiro

OS PATRIMÓNIOS ALIMENTARES NAS ROTAS DO CONTRABANDO

Lídia Aguiar

Rosalina, pacatamente, fazia renda na biblioteca de Castro Laboreiro. Com 77 anos, para lá se desloca nos dias frios de inverno, já que em sua opinião, aí está mais quentinha. Fez questão de dar o seu testemunho, frisando bem que nunca foi contrabandista, embora, como todos os habitantes desta freguesia, foi muitas vezes às compras a Espanha, tendo por isso sido vítima da violência dos guardas, principalmente dos carabineiros. Sublinhou que quando ia nunca retornava pelo mesmo caminho. Era uma questão de segurança, a guarda podia ter visto ela a passar para Espanha e aguardar o seu regresso. Deste modo, quando encetava a volta a Castro Laboreiro escolhia um caminho alternativo.

Eu nunca fui contrabandista pois tinha muito que fazer nos campos e que tratar do gado. Mas claro que ia a Espanha comprar umas coisitas que nós procurávamos sempre o mais barato. Lembro-me bem do azeite, que era mais óleo, aquilo até era branco, mas era barato. Lá íamos então ao Pereiro, à Luísa, vinha em latas de 5l, se nos apanhavam tiravam-nos as coisitas e os guardas espanhóis ainda nos batiam.

(Rosalina Fernandes – Castro Laboreiro – 20-10-2013)

A D. Rosalina indica-nos que nunca entrou em grandes rotas de contrabando. Praticou o ato para sustento da sua própria família. Era hábito as mulheres juntarem-se em grupo, para mais facilmente se furtarem ao controlo das autoridades das fronteiras.

Isolina da Luz, também abrigada do frio na biblioteca de Castro Laboreiro, entra na conversa:

Eu só trabalhei no do gado e mais tarde no das bananas. Mas sei de quem trabalhasse com contrabando de azeite, farinha, milho, ovos (os ovos iam para Espanha em saias especiais que as mulheres vestiam e disfarçavam na sua roupa). Outro contrabando forte foi o do café, esse ia em mulas até à fronteira e depois os galegos vinham busca-lo. De noite eram umas 4h a andar. E também ia dinheiro, muitas vezes escondido nas tranças do cabelo ou na roda das saias. Também fui muitas vezes às compras a Espanha. Mas aí tinha de vir tudo muito bem escondido e havia que escolher bem os carreiros que usar. Era bem difícil. Os guardas, quer os portugueses quer os espanhóis se nos apanhavam tiravam-nos tudo. Mas valia a pena ir lá comprar, pois era tudo muito mais barato.

(Isolina da Luz – Castro Laboreiro – 20-10-2013)

É com D. Isolina que temos acesso a indicações sobre o contrabando alimentar mais antigo e que mais perdurou na fronteira luso-espanhola: o café. Ela descreve a primeira fase deste tráfico, feito por mulheres, dissimulado em coletes costurados de forma especial, vestidos como de roupa íntima se tratasse. Quanto aos ovos disfarçados na roupa, referia-se Isolina a saias rodadas com sacos disfarçados de pregas, onde enfiavam ovo por ovo, até ao máximo de 5 ovos em altura. No que se refere ao café em maiores quantidades, como se verá posteriormente, o primeiro transporte utilizado foram as mulas.

Dada a dificuldade em breve os próprios galegos se deslocavam através do rio Trancoso e o levavam às costas:

No tempo da guerra ia para Espanha muito amendoim, açúcar e café. O meu pai é que foi do tempo mais antigo. Ele sim, fez contrabando de café para Espanha. Lembro-me que vinha muita gente buscar o café e de muito longe, até de Cortegada. Faziam com o saco de café cru, uma mochila para pôr aos ombros, mas tinham muito medo dos carabineiros e dos guardas portugueses também, que naquela altura os guardas eram muito maus. Também levavam do café já embalado, era o Café Sical. Mas por aqui passava muita coisa, que depois da guerra havia falta de tudo em Espanha. Chegou a vir gente de Vigo, eles tinham de procurar pela vida. Quando a vida em Espanha começou a melhorar, então também passou a vir mercadorias de lá. Lembro-me das uvas passas e do bacalhau no Natal. Aqui toda a gente passou a andar nisto, era a única sobrevivência. Mas valha-me Deus, muitos morreram no rio, que às vezes ia alto e as batelas eram fraquinhas e viravam. A carne também se ia lá buscar. É verdade, que vinha muito gado para cá, mas era velho, que o nosso gado novo, esse ia para lá. Isso sei eu bem, que o meu marido ainda andou a ajudar a passar alguns. Então toda esta zona ia lá comprar a carne, mas era contrabando. Até o pão era um problema. Aqui em Cevide não chegava o padeiro, apesar de isto ser muito povoado, não era como agora que a menina vê. Do outro lado do regato havia uma loja que vendia e nós chamávamos a senhora para nos trazer o pão. Atirávamos uma guita e ela amarrava e mandava assim pendurado por cima do regato. Mas os guardas quando viam a guita logo a atiravam ao regato. Por vezes, já estávamos tão habituadas que ela nos atirava mesmo por cima do regato. Mas então, estávamos condenados a não comer pão? É que ir a Melgaço era muito longe e não havia transportes.

Glória Pires – Cevide – 23-1-2014

   laguiar@iscet.pt

Revista Turismo & Desenvolvimento

Nº 33

2020

935 c 4-125-Ameijoeira-195.JPG

fronteira de amenjoeira - castro laboreiro

 

 

FRONTEIRA E VIGILÂNCIA NO TEMPO DA GUERRA CIVIL DE ESPANHA

melgaçodomonteàribeira, 14.09.24

931 c Lámina-Conde-Corbal-cartaz-homenagem.jpg

lámina - desenho de conde corbal

REFUGIADOS EM PORTUGAL. FRONTEIRA E VIGILÂNCIA NO TEMPO

DA GUERRA CIVIL EM ESPANHA (1936 – 1939)

Fábio Alexandre Faria

No distrito de Viana do Castelo a situação apresentava-se mais complicada, sendo constantes os pedidos e as ações de reforço dos postos fronteiriços de vigilância. A 31 de julho de 1936, o Comandante da PSP de Viana do Castelo, Tenente Francisco Pimenta da Gama, comunicava ao comando geral que, em consequência do grande movimento de pessoas na fronteira, resultante do ataque franquista à cidade de Tuy, havia deslocado 22 guardas e um graduado para reforçar os postos fronteiriços da Polícia Internacional e da Guarda Fiscal. Já o governador civil desse distrito, Tomás Fragoso, requeria ao ministro do Interior que fosse reforçado o posto da GNR de Melgaço devido ao facto de se ter registado a entrada por Castro Laboreiro de espanhóis armados que procuravam localizar os adversários políticos que se tinham refugiado em Portugal.

Esta região parece ter sido uma das mais complicadas de vigiar, sobretudo devido ao terreno acidentado e montanhoso. Em finais de agosto de 1936, foi nomeada uma patrulha com a particular missão de investigar se as casas dos habitantes de Castro Laboreiro estavam a ser alvo de buscas por parte de espanhóis armados, concluindo-se que estes eventualmente teriam entrado em Portugal perseguindo algum fugitivo e não para alterar a ordem pública por meio de buscas domiciliárias e ameaças. Segundo este ofício, foram detidos, na mesma altura, quatro cidadãos que estavam escondidos na região de Castro Laboreiro e o chefe da Polícia Internacional de S. Gregório multou os portugueses que tinham acolhido os refugiados, considerando que o fizeram por amizade e não por identificação política.

Para colmatar as dificuldades existentes nesta zona, a PVDE considerava que a reduzida fiscalização dos postos, geralmente levada a cabo por apenas três praças, só melhoraria com um forte reforço, dada a grande extensão da área, e que o destacamento de praças da GNR deveria ser deslocado de São Gregório para Castro Laboreiro de forma a garantir uma fiscalização mais eficaz.

REVISTA PORTUGUESA DE HISTÓRIA 48

Margarida Sobral Neto

Imprensa da Universidade de Coimbra

2017

pp.82-83

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castro laboreiro

 

ÁGUAS DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 07.09.24

910 b águas 1917.jpg

ÁGUAS GASOCARBONOTADAS

ÁGUAS DE MELGAÇO

As nascentes do Peso, freguesia de Paderne, concelho de Melgaço, situam-se a cerca de 2 km a SW da vila de Melgaço. Destacam-se na localidade do Peso duas ocorrências distanciadas 120 m, dispostas segundo direcção E-W (Ribeiro e Moreira. 1986). As nascentes situam-se, concretamente, na confluência entre a Corga de Surribas e o Ribeiro da Cividade (Nascente Principal) e mais a oeste, na margem esquerda do Ribeiro do Peso (Nascente Nova). Estes ribeiros juntam-se e formam um pequeno afluente do rio Minho, o ribeiro da Folia.

Na zona distingue-se, sob ponto de vista hidrogeológico, um granito de duas micas, cortado por filões pegmatíticos orientados segundo direcção N-S, filões de granito claro, de grão mais fino que o granito encaixante, com orientação E-W (Ribeiro e Moreira, 1986).

A nascente principal é captada por galeria ao longo de um filão pegmatítico orientado segundo N-S e a Nascente Nova é captada em poço, contribuindo com o maior caudal.

A água mineral que nasce na Concessão de Melgaço é mesossalina, com reacção ácida e função pronunciadamente alcalina. É uma água gasocarbónica, bicarbonatada, cálcica e ferruginosa (Silva, 2002). D’Almeida e D’Almeida (1988) referem que certas propriedades químicas, nomeadamente a presença de elevada quantidade de ferro num ambiente rico em gás carbónico, conferem a estas águas uma capacidade muito notável, verificando-se a turvação e a precipitação de alguns dos seus minerais pouco depois de expostos ao ar. Tendo em conta as suas propriedades mineromedicinais é comercializada e engarrafada com o nome de Águas de Melgaço.

O primeiro registo das Águas de Melgaço data de 1884, altura em que corre a notícia do caso extraordinário da cura da mulher de um médico de Vila Nova de Cerveira que sofria de uma doença do estômago. A partir daí as águas ganham fama pelos seus poderes ao nível digestivo. Em 1885 efectuou-se a primeira análise química detalhada da água da fonte principal de Melgaço e consecutivamente foi criada uma infra-estrutura de madeira onde se processa o engarrafamento que serviu simultaneamente para abrigo e comodidade dos doentes. Em 1924 foi criada a estância balnear, altura em que recebia pessoas de todo o país, tendo o seu edifício e espaço envolvente contribuído para um maior afluxo de visitantes. Hoje a estância termal encontra-se bastante degradada e sem actividade, estando a decorrer obras de requalificação de um espaço que pelo seu valor cénico e hidroterapêutico muito contribuiu para a divulgação da região.

PATRIMÓNIO GEOLÓGICO DO VALE DO MINHO E SUA VALORIZAÇÃO GEOTURÍSTICA

Marta Susana Fernandes Rodrigues

Universidade do Minho

Escola de Ciências

Novembro 2009

910 c nascente.jpg