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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

ECOTURA

melgaçodomonteàribeira, 27.07.24

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ECOTURA: O CAVALO E O LOBO EM CASTRO LABOREIRO

Jorge Montez

No meio do vale, Stefanie ajusta os binóculos, percorre com o olhar o penedio, fixa-se num ponto e exclama: “estou a ver! Estou a ver!”. Ao fundo, a silhueta duma cabra Montês recorta-se nas escarpas da serra da Peneda. Pedro Alarcão, da Ecotura, sorri e diz que “este é um dos avistamentos de mamíferos mais difíceis da Europa”.

A suíço-alemã Stefanie e a sua filha Greta estão há uma semana em Castro Laboreiro. Este é já o final de uma semana de férias equestres. Todos os dias, saíram com os cavalos e percorreram a serra da Peneda. Aprenderam a montar e a cuidar dos animais e deslumbram-se com as paisagens e as histórias de lobos.

“Já há muito tempo que queria aprender a montar, mas na Alemanha é tudo muito rígido e não queria andar só às voltas no picadeiro. Soube da proposta da Ecotura, vi as muito boas críticas e não hesitei. Ainda bem que o fiz, está a ser uma experiência absolutamente fantástica”.

Ao longo de uma semana, percorreram com os cavalos o território do Lobo Ibérico, viram vestígios e ouviram muitas histórias de lobos. Pedro Alarcão e Anabela Moedas, o casal que montou a Ecotura, são as pessoas indicadas para isso.

Ambos jornalistas, chegaram a Castro Laboreiro em 1999 com o objetivo de fazerem um livro sobre uma família de lobos. O projeto cresceu e seis anos depois nascia o documentário “A Vida Secreta dos Lobos”, que passou na RTP.

TURISMO SUSTENTÁVEL

Entretanto, foram ganhando raízes, passaram a viver permanentemente na serra e lançaram a Ecotura, um projeto turístico sustentável que é um dos meios para “ajudar a divulgar o lobo de todas as formas possíveis. Fazer com que a população local olhe para o lobo com outros olhos e que o medo do lobo mau faça parte do nosso passado. Contribuir para melhorar a imagem desta espécie tão importante e que tem sido alvo de uma perseguição sem tréguas ao longo de vários séculos” é o seu esteio de vida.

Anabela e Pedro fazem questão de promover um turismo sustentável, organizando toda a sua oferta em passeios equestres e pedestres. “Estes passeios são sempre recheados de informação sobre o ambiente que nos rodeia e de acordo com o tema de cada actividade. O número limite de participantes em cada passeio é ainda mais limitado do que as normas legais pedem. Além disso, usufruir a natureza sabe bem melhor se o fizermos no seio de um grupo pequeno. O facto de estarmos no único parque nacional português, o Parque Nacional Peneda-Gerês, traz-nos responsabilidades acrescidas. Com a crescente desertificação das zonas rurais o mosaico agrícola tende a desaparecer. A diversidade da nossa fauna e flora depende da manutenção desse mosaico. A Ecotura assegura a manutenção dos seus cavalos participando na recolha do feno dos campos que vão sendo progressivamente abandonados, os resíduos orgânicos gerados por esses mesmos animais são cedidos gratuitamente à população local incentivando uma menor utilização de adubos químicos”, afirmam no site da Ecotura.

ECOTURA COUNTRY HOUSE

À noite, sentados no jardim da casa tradicional recentemente recuperada, com o vulto das escarpas da serra a recortarem-se num céu que é uma imensidão de estrelas, trocamos histórias com Stefanie. É nesse cenário idílico que percebemos como esta semana de contacto com o cavalo e o lobo a está a marcar. Greta, no fim da adolescência, não perde pitada. Vai sorrindo e aqui e ali acena, como que a dar força às palavras da mãe, que não esconde o espanto com as paisagens e com a gastronomia.

Pela manhã, bem cedinho, Stefanie já estará no jardim a receber os primeiros raios de sol enquanto lê e toma o primeiro café. À sua volta, um imenso carvalhal.

A Ecotura Country House é uma tradicional casa de montanha do início do século XX recentemente recuperada e adaptada para o melhor dos confortos. O piso térreo é um grande espaço aberto com sala e cozinha totalmente equipada. Lá em cima, no primeiro andar, estão os quatro quartos, três dos quais amplos.

A casa é decorada com gosto e com muito do trabalho da família. Muitos dos quadros são da filha de Anabela e Pedro. Anabela é ainda responsável por alguns dos móveis, que essa é outra das suas paixões.

Seja no jardim quando o tempo está mais convidativo, ou à lareira quando o corpo pede calor, este é um local a que voltaremos.

 

http://portugaldelesales.pt/ecotura-cavalo-e-lobo-castro-laboreiro

 

O CONTRABANDO POR AeC

melgaçodomonteàribeira, 20.07.24

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1Consistindo o contrabando em transacções, era incontestável que a natureza e a relevância do que se traspassava fazia, impreterivelmente, que, como na sociedade, o contrabando se dividisse em classes.

O contrabando, como é sabido, é o resultado das fronteiras. Contrabandos houve, há e haverá muitos e, consequentemente, variegados. Hoje as fronteiras são movediças, mas o tráfico, de outras formas e de outros produtos, persiste em quantidades incomparáveis às daquela época.

Mais de quarenta anos antes do petate da banana e utilizando as mesmas veredas – rios Minho e Trancoso e raia seca –, alguns temerários do concelho de Melgaço começaram a enriquecer graças ao contrabando de volfrâmio, ouro, café Sical...

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, Salazar que, por ideologia deixara andar, regulou o volfrámio. A Confederação Helvética tornou-se o destino relevante do ouro. A origem das somas consideráveis vindas do estrangeiro passou a ser vistoriada. Para justificar a procedência dos capitais, os contrabandistas melgacenses dominantes, compraram uma padaria, uma pastelaria e uma ourivesaria em Tanger, Marrocos, nessa altura protectorado francês. Os gerentes eram o Alexandre Araújo Lopes e o Manuel Lourenço. As revoltas de 1954 obrigaram-nos a regressar a Portugal, onde os negócios continuaram.

Em 1958, um deles, o Artur Teixeira, o cambista melgacense mais conhecido, por intermédio do Alexandre Araújo Lopes, de S. Gregório, concedeu um empréstimo de 400 000 escudos – o equivalente a 1 milhão de pesetas na altura – a Antonio Piña Antón, um próximo de A Notaria que tinha uma modesta empresa de autocarros. Foi o primeiro empresário da Península Ibérica a efectuar, em 1973, a primeira ligação internacional de autocarro ; saíam de Ponte de Lima com destino a Paris e vice-versa. Os seus clientes eram os emigrantes portugueses e espanhóis

A meio dos anos 60 do século XX, Manuel José Domingues (Mareco), Manuel Rodrigues (Manecas), Alexandre Araújo Lopes, Artur Teixeira e Manuel Lourenço (Manuel da Garagem) eram indivíduos que possuíam fortunas colossais.

Deste bando de contrabandistas de colarinho branco, o Alexandre, uns anos mais novo, foi o postremo sobrevivente, depois do desaparecimento dos quatro associados no meio dos anos 70 do mesmo século. No início dos 80, ainda transpunha vários dias por semana a ponte da Frieira no seu BMW, sempre com a única filha ao lado que, certamente, lhe servia de latíbulo.

Ninguém estava seguramente a par das suas actividades, mas qualquer zé-ninguém de S. Gregório apostaria que a especulação monetária e os metais preciosos não tinham deixado de ser a sua distracção. Segundo um vizinho da rua Verde, em S. Gregório, onde o Alexandre residia, era frequente ver entrar na sua casa indivíduos de maletas na mão a certas horas da noite. O Alexandre era o maior provedor de pesetas e de outras moedas.

Estes indivíduos constituíram a classe alta do petate no concelho de Melgaço.

Uma pequena parte dos comerciantes situados na raia eram a classe média. Aos rendimentos provenientes das vendas nas lojas juntava-se o do contrabando de café e de tabaco americano de contrabando – o tabaco americano chegou a Espanha em 1971 – e que continuou até pouco depois do 25 de abril de 1974. O Jonjom, o Carminé Coelho e o Zé do Rita eram os principais. O segundo e o terceiro davam-se ao luxo de passar a veniaga de dia.

Na base, havia sobretudo mulheres que faziam um contrabando de subsistência e social. Levavam um ou dois quilos de café, toucinho e traziam azeite.  

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rota do contrabando - em s. gregório

 

 

BRANDAS E INVERNEIRAS EM CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 13.07.24

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foto gonçalo delgado

EM CASTRO LABOREIRO, AINDA HÁ NÓMADAS QUE LEVAM A CASA ÀS COSTAS

DE INVERNO OU DE VERÃO

CATARINA PIRES

30/01/2018

Curva e contracurva. Montanha adentro. Rochas de granito. Muitos carvalhos. Quem entra em Castro Laboreiro pelos caminhos do Soajo parece que desliza por um trilho secreto pouco percorrido, tal a estreiteza da estrada e a natureza em estado de graça. Num instante as nuvens se tornam o chão mais branco onde a vista pousa.

São dez da manhã mas, para Isalina Fernandes e Leonor Rodrigues, mãe e filha, já pouco falta para o jantar, que aqui quer dizer almoço. A esta hora, na mala da carrinha pick-up, à porta de casa, já se veem caixas empilhadas e cestas acauteladas, coroadas por uma tábua de passar a ferro. Não há dúvida: estamos no fim do verão.

Há meses que a estação estival ficou para trás no calendário, mas este dia de inverno assinala a mudança que o mesmo não regista: a tradição secular dos aglomerados à volta da vila de Melgaço, distribuídos pelas duas margens do rio Laboreiro, segundo a qual, duas vezes por ano, a população se desloca entre as terras mais altas, as brandas, entre os 1050 e os 1150 metros de altitude, e as mais baixas, as inverneiras (700 a 800 metros), num nomadismo cunhado pelo sabor das estações.

De dezembro a março a população castreja foge das temperaturas baixas e da neve nas regiões mais altas e, no verão, do calor das regiões mais baixas. As brandas são também os terrenos mais férteis, daí que a maior parte do ano seja passado nestas terras.

Aqui, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, vivem umas 500 pessoas e já são poucas as famílias castrejas com as duas residências anuais. Mas Isalina e Leonor aqui estão para manter a história e a tradição. «É uma vida de ciganos», solta a mulher de 72 anos enquanto ciranda entre a lida da mudança. «Andamos sempre com tudo às costas». Entra no galinheiro, ultrapassando certeira a gaiola onde já encurralou as galinhas. Agora é a vez de pegar nos coelhos pelas orelhas.

Enquanto trabalha tagarela. O galego sai-lhe boca fora com a naturalidade de língua materna. Estamos na raia, a Galiza é já ali. Toda a vida de Isalina, como a dos castrejos da sua geração, foi com um pé cá, outro lá. «Pronto, agora hemos a levar isto abaixo. Que trabalheira», resmunga enquanto pega nas gaiolas dos animais, com um sorriso que não denuncia lamentos.

Sentada no pátio da casa na branda de Padrosouro, um dos 46 aglomerados que compõe Castro Laboreiro, Isalina, com o lenço negro enfiado na cabeça, bochechas rosadas do frio, plainas brancas atadas às canelas e toda trajada de negro, é o retrato vivo da mulher castreja doutros tempos.

O som dos chocalhos que chega desde a estrada desperta-a. Não precisa de ver Rubia e Bonita, as vacas, para saber que são elas que chegam com Leonor. «Distingo-as pelo chocalho. Não há dois iguais». De um salto se levanta para as ir pôr a pastar. Há que abastecê-las para a viagem desta tarde, rumo à inverneira de Cainheiras. Apenas o gado faz a travessia caminhando. «Antigamente até os potes de cozinhar se levavam. Hoje só levamos para a outra casa a roupa de vestir», diz Leonor.

A mudança é bem mais simples agora. Isalina e Leonor põem tudo o que levam na carrinha. Antigamente tudo se fazia a pé e carregado em carros de bois: a roupa para vestir e para a cama, os utensílios domésticos e as ferramentas agrícolas, como uma romaria a cruzar as montanhas. «E por arriba dos carros de bois iam os gatos presos por uma corda», recorda Isalina, para quem estas histórias não são mais que a sua própria. «Quando havia doentes, fazia-se-lhes uma caminha no carro de bois e lá se ia com elas por aí fora. Quantos não morreram por esses montes durante as mudanças!»

Não se sabe quão antiga é esta tradição. Segundo José Domingues, investigador da Universidade Lusíada do Porto, o primeiro registo a dar conta desta tradição data de 1527. Mas «não se torna difícil conjeturar que este nomadismo do Laboreiro tenha as suas raízes em deslocações de pastores, intrínsecas aos povos mediterrânicos de montanha, desde tempos muito recuados», escreve em Brandas e Inverneiras: o Nomadismo Peculiar de Castro Laboreiro (2007).

Isalina é filha de mãe solteira. Ela e cinco irmãos. «Todos filhos de pais diferentes. Mas a minha mãe nunca nos fez faltar nada. Todos aprendemos a ler e escrever. E sempre foi o campo que nos deu de comer». Com a mesma valentia com que a mãe criou seis filhos sem qualquer marido, Isalina seguiu-lhe os passos. À semelhança das mulheres da sua geração, teve o marido – que morreu há quatro anos – emigrado em França por quatro décadas. «Só cá vinha uma vez por ano. Às vezes, de dois em dois», diz com naturalidade. «Tinha de ser, era preciso trabalhar».

A independência é traço que lhe assenta na perfeição. Tanto ela como a filha Leonor viveram sempre do campo, sozinhas cuidaram do seu império. E não se pode dizer que seja coisa pouca. Se hoje a agricultura é ajudada por maquinaria, num passado recente a força do corpo era ferramenta vital. «Aprendemos a fazer tudo desde cedo», diz Leonor. «A cortar feno à foice, plantar, pastar o gado pelas montanhas, adubar os campos carregando estrume nos carros de bois, a domar as vacas. É preciso ensiná-las porque não nascem a saber trabalhar. Não é fácil, elas são bravas».

Depois de deixarem a carrinha na inverneira de Cainheiras, com a primeira remessa de pertences, mãe e filha fazem a segunda viagem da muda. Hoje contam com a ajuda dum vizinho, que lhes dá boleia outra vez até à casa de verão. Leonor põe-se agora ao comando do trator e, com a mãe sentada no atrelado, junto dos cães, começa a descer lentamente os trilhos até mais baixas altitudes, fazendo as curvas do caminho como se nelas se espreguiçasse.

A viagem é lenta, observa-se com vagar cada pedra, cada folha e cada ribeiro que cruzam o caminho. É tudo isto que Isalina vê também, de lenço negro ao vento, sentada no atrelado, afagando distraidamente a mão no focinho da cadela Lassie. «Esta é a terra do descanso, a terra da liberdade. Aqui ninguém nos invade».

Castro Laboreiro é hoje uma vila de população reduzida, mas houve dias diferentes. «Quando era jovem, isto era uma alegria. Íamos para os montes fazer bailes, andávamos sempre por aí. Era uma vida dura mas feliz. Quando veio o 25 de abril evoluiu tudo. Tínhamos um doutor todas as semanas, dinheiro, casas». Isalina vai puxando pela memória. «Mas veio a televisão e foi uma desgraça, estragou o processo. Antes juntávamo-nos a fazer serões a fiar. Está certo que hoje é um viver mais tranquilo, mas é um viver triste».

Depois dos dois carregamentos, falta o gado. Isalina já não voltará a subir à branda. Agora é hora de caminhar, como antigamente. Quem vem ajudar Leonor é a tia Amabélia. Juntas comandam a procissão bovina, falando com as vacas numa língua de urros e exclamações. Nesta travessia, a distância de uma casa à outra não se mede em quilómetros – serão uns dois ou três - mas antes através da disposição das vacas em colaborar com um marchar sem desvios. Quem manda é a vara que Leonor e Amabélia carregam, para as vergastadas no lombo dos animais.

Uma hora depois, quando chegamos à inverneira de Cainheiras, Isalina está à porta, com as mãos na cintura. Outra vez, os chocalhos denunciam. A mudança está feita. «Estou feliz da vida, ainda faço a tradição. A Leonor, por ela, ficava sempre lá em cima. Eu prefiro aqui. A casa lá de cima é melhor, mas gosto daqui. Foi a primeira casa que construí, há cinquenta anos. E foi aqui que morreu o meu marido. Eu, se calhar, também aqui morro. Enquanto mandar, havemos de fazer a muda. Quando morrer a minha filha fará o que quiser».

Comparada com a branda de Padrosouro, onde a casa parece plantada no céu, com a vista limpa para qualquer rota sideral, aqui tudo é resguardado. Mas basta subir a escadaria que leva à cozinha para, do alpendre, ver que os colossais pedregulhos continuam a traçar o horizonte, irreverentes a brotar da terra. É esta a vista para os próximos meses. Até voltarem a subir a serra outra vez.

NOTÍCIAS MAGAZINE

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VOLFRÂMIO EM CASTRO LABOREIRO E GAVE

melgaçodomonteàribeira, 06.07.24

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PATRIMÓNIO, MUSEUS E TURISMO INDUSTRIAL:

UMA OPORTUNIDADE PARA O SÉCULO XXI

Em Melgaço, concelho rural, a exploração de volfrâmio, no decorrer da II Guerra Mundial, trouxe algum alento à economia local. A importância do volfrâmio para as populações locais residia no facto de se constituir, a seguir ao contrabando, como o segundo elemento dinamizador das expectativas na melhoria da vida que se viriam a concretizar, ainda através da emigração.

“Durante a Segunda Grande Guerra, por volta de 1942/43, abriu também a exploração do volfrâmio nos montes de Castro Laboreiro. Era um metal muito procurado para armamentos e pagavam-no bem – em quinze dias que passei lá juntei o dinheiro que precisava para pagar as três vacas que tinha “de ganho”. (Virgílio Domingues, memórias de um emigrante pioneiro).

Em 1942, Portugal estabelece um acordo comercial com a Alemanha, em troca de aço, ferro, e vagões de comboio. Os alemães controlavam a exploração de volfrâmio que lhes interessava para armamento tornando-se essencial ao seu esforço de guerra. Este minério metálico, disputado também pelos ingleses, por razões estratégicas e bélicas, era então intensamente explorado nas poucas grandes e muitas pequenas e médias minas na zona norte e centro do país, para além das companhias e empresas estrangeiras e nacionais, exercendo-se também a céu aberto por indivíduos isolados, conforme testemunhado, como se evidenciou atrás, a título de exemplo, por muitos naturais de Rouças da Gavieira, Arcos de Valdevez e Castro Laboreiro em Melgaço.

Daí que a autarquia projecte, actualmente, a requalificação das antigas minas de volfrâmio de Castro Laboreiro, pretendendo-se transformá-las num novo ponto de interesse no concelho, preservando as memórias de um período importante da sua história, relacionada com a exploração deste minério metálico de grande valor estratégico na 1ª e 2ª Guerra Mundiais e na Guerra da Coreia.

Apesar do número de galerias conhecidas ser superior a 40 e a área total da zona mineira ser grande, prevê a autarquia, apenas a recuperação de duas galerias, de forma a não tornar o percurso de visita repetitivo, para além da recuperação da represa de água.

Mas conhecer Gave, onde se localiza a mina de volfrâmio conhecida por “Mina do Pedro” que ainda nos anos 1950 se encontrava em exploração, é também conhecer a Serra da Peneda, desde as suas paisagens, às tradicionais Brandas ou Verandas.

Por exemplo a branda da Aveleira situada a cerca de 1100 m de altitude é uma zona de montanha onde são ainda visíveis os vestígios da era glaciar conhecida como “Glaciação de Wurm”.

Aqui já foi criado, o primeiro trilho geológico português, iniciativa do Instituto Geológico e Mineiro que configura um interessante atractivo turístico.

(…)

Obtinham assim o mineral volfrâmio que conseguiam vender para o contrabando. O contrabandista mais conhecido a quem vendiam era o Mareco, pertencente à bem organizada rede de contrabando “A Companhia”. Com o lucro obtido nesta transacção, a maioria das mulheres comprou fios de ouro com várias voltas, tal como a tradição minhota.

A caminhada até às minas era dura, pelo que as mulheres superavam-na cantando todo o caminho:

(Versos recitados por antiga lavadora de volfrâmio em Castro Laboreiro, D. Angelina Esteves).

Eu hei-de ir ao minério

Trabalhar o filão

Com o dinheiro do minério

Hei-de comprar um cordão

Eu hei-de ir ao minério

Hei-de ir lá trabalhar

Todo mundo anda no luxo

Eu também quero luxar

II CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE PATRIMÓNIO INDUSTRIAL

22-24 MAIO

2014