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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MUSEU DE CINEMA DE MELGAÇO JEAN-LOUP PASSEK

melgaçodomonteàribeira, 04.05.24

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MUSEU DE CINEMA DE MELGAÇO: UMA COLEÇÃO A NÃO PERDER

Jorge Montez

O francês em itálico tem aqui uma razão de ser particular. É que o museu vive da coleção particular de um francês que se apaixonou pelo concelho mais a norte de Portugal. Jean Loup Passek doou a importante coleção de uma vida ao município ainda em vida e ajudou a construir o espaço que merece a visita de todos quantos passam pela vila.

A sala de exposição permanente exibe uma fantástica (não há que ter medo dos objetivos) coleção de lanternas mágicas, fenaquistiscópicos, zootropos e praxinoscópios. São nomes esquisitos para aparelhos que foram as grandes atrações dos salões elegantes e das feiras da França do século XIX.

Antes dos irmãos Lumiére terem inventado o cinematógrafo e promovido uma exibição de pequenos filmes a 28 de dezembro de 1895 no Grand Café de Paris, já as imagens em movimento atraíam multidões e a imaginação de inventores.

Até então, recorria-se a placas de vidro pintadas que, ao serem passadas, criavam a ilusão de movimento. O efeito era sempre semelhante, mas consoante o aparelho, o material utilizado variava. Tanto podia ser o vidro, como bandas ou discos.

Tudo isto se pode apreciar no Museu de Cinema de Melgaço. A coleção de Jean Loup Passek espanta não apenas pela qualidade e quantidade, como também pelo excelente estado de conservação dos objetos, nomeadamente as placas de vidro, que estão pristinas.

Se pensarmos que a maioria deste material andava de terra em terra e era exibido em feiras, fica o espanto de serem exibidas num tal estado que muitas parecem nunca ter sido utilizadas. Por isso, a lanterna mágica foi um dos 7 objetos com história que selecionamos entre Melgaço e Castro Laboreiro.

O Museu de Cinema de Melgaço alberga ainda uma exposição temporária que é mudada anualmente. Atualmente, está em exibição uma mostra de cartazes de cinema polacos, que aconselhamos vivamente.

Jean Loup Passek passou a sua vida adulta a colecionar objetos relativos ao cinema e teve o cuidado de zelar pelos objetos. Os cartazes, por exemplo, nunca terão sido enrolados, o que permite agora apreciar em toda a plenitude o trabalho dos artistas plásticos e gráficos que os conceberam.

UM FRANCÊS COM CORAÇÃO PORTUGUÊS

Jean Loup Passek (1936-2016) foi um nome importante no panorama cinéfilo francês. De ascendência russa, começou por se dedicar à poesia, mas rapidamente fez da sua paixão pelo cinema o seu modo de vida, tendo sido o concelho para a sétima arte do Centre de George Pompidou, diretor editorial do Dictionnaire Larousse du Cinéma, fundador e diretor do festival de La Rochelle e o criador do prémio Camméra d’Or do Festival de Cannes, para primeiras obras.

Foi um acaso que fez com que o homem de “espírito eslavo e nacionalidade francesa” ficasse com um “coração português”.

Nos anos 70 estava a fazer um documentário sobre a emigração e conheceu nas obras de ampliação metropolitano parisiense dois portugueses. A conversa correu bem e António Souto e António Alves convidaram-no para jantar em casa.

Desse encontro fortuito nasceu uma forte amizade e mais tarde um verdadeiro amor pelo nosso país. Jean Loup foi convidado para conhecer a terra de António Souto e apaixonou-se por Melgaço e pelas paisagens e montanha de Castro Laboreiro. Apaixonou-se pela gastronomia minhota e pelas gentes que o receberam como um dos seus.

E com o tempo, a paixão transformou-se em amor, de tal forma que Jean Loup Passek mudou-se definitivamente para Melgaço, tendo ainda construído uma segunda habitação na Nazaré.

Vendo que o tempo lhe fugia, o francês com coração português decidiu doar a sua coleção ao município de Melgaço, com a obrigatoriedade de que fosse exposta de forma permanente. Nasceu assim o Museu de Cinema de Melgaço Jean Loup Passek. A abertura oficial foi a 29 de abril de 2005, na presença do colecionador que afirmou, em declaração ao Público: “Estou contente. É um verdadeiro milagre que o museu tenha podido nascer aqui, em Melgaço. Ninguém me propôs nada de concreto em França. Gastei o meu dinheiro a comprar isto tudo, e não queria que a colecção ficasse em França. Sinto-me um pouco egoísta. Para mim, Portugal é que é importante”.

Melgaço ganhou assim um equipamento de excelência com uma das mais importantes coleções mundiais de objetos da pré-história do cinema. Mas durante os 50 anos que dedicou a recolher objetos, Jean Loup Passek interessou-se não apenas pelas lanternas mágicas e cartazes, mas também por fotografia, livros, câmaras e tudo o que de alguma forma estivesse relacionado com o cinema.

A coleção parece não ter fim e por isso se vão fazendo exibições temporárias. O Museu de Cinema de Melgaço Jean Loup Passek é, verdadeiramente, a não perder.

 

http://portugaldelesales.pt/museu-cinema-melgaco-nao-perder

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