Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, EMIGRAÇÃO CLANDESTINA

melgaçodomonteàribeira, 27.04.24

929 c ti esperança.jpg

    ti esperança  passadora de parada do monte

 

MEMÓRIA DO CONTRABANDO E EMIGRAÇÃO CLANDESTINA EM MELGAÇO:

PATRIMONIALIZAÇÃO E MUSEALIZAÇÃO

Lídia Aguiar

CIIIC-ISCET

EMIGRAÇÃO

O emigrante visava fundamentalmente um emprego, com contrato e salário certo. Surgiu, na falta de recursos vindos da exploração do volfrâmio, o segundo grande surto migratório, desta vez dirigido primordialmente a França. Este país em reconstrução após a II Guerra Mundial necessitava de muita mão-de-obra. Os franceses procuravam os trabalhos menos duros e com horários reduzidos e bem remunerados. Abriu-se, assim, uma nova oportunidade para os portugueses.

E o patrão francês rejubilava com este homem do sul da Europa, este homem bom e robusto, insensível à fadiga, sem exigências que trabalhava das sete da manhã às onze da noite…” (Rocha 1965 pp 75 cit in Castro & Marques, 2003).

Segundo o sociólogo Albertino Gonçalves, o grande surto de melgacenses para França começou a verificar-se nos finais da década de 50, início de 60. A larga maioria partiu de forma ilegal tornando-se impossível obter dados concretos, pela falta de registos, pelas mortes frequentes durante a viagem. De muitos, nunca mais se obteve qualquer notícia.

A emigração clandestina teve na sua origem praticamente a impossibilidade de obtenção de passaporte. Este era obtido através da respetiva Câmara Municipal, desde que cumpridas várias condições, tais como: ter trabalho assegurado no país de destino; situação militar regularizada; garantia da subsistência da família a cargo que ficava em Portugal. Além disso, os processos tornavam-se muito demorados. Deste modo, o candidato a emigrante preferia a clandestinidade.

Estes homens, alcançado o destino, conseguiam o visto de trabalho, mas durante longos anos, não mais podiam regressar à sua terra natal, pois incorriam a uma pena de cadeia de dois anos (Pereira, 2014).

Neste contexto, a decisão de partir não era fácil, mas o sonho de uma vida melhor se sobrepôs. Foram maioritariamente os homens que se lançaram nesta viagem, longa e dura, já que devido a um acordo que existia entre Portugal e Espanha, só se encontravam a salvo quando alcançavam terras de França. Surgiu, assim, uma nova personagem, maioritariamente mulheres, que tomou o nome de “passador”. Criaram verdadeiras redes que conduziram os emigrantes até ao seu local de destino (Silva, 2011).

“Comecei a levar homens para França. Iam de camionete ou de carro. Demoravam entre 5 a 7 dias a lá chegar. Muitos foram presos e eu também fui porque era um grande crime ser passador. Mas os homens precisavam de ir ganhar a vida e eu precisava muito do dinheiro. Eles pagavam 7 contos que era dividido por mim pelo passador Espanhol e pelo Francês. O melhor sítio para os passar era aqui o rio Trancoso. Amarrava uma corda por baixo dos braços, puxava-se e chegavam ao lado da Espanha sequinhos e limpinhos. Entregava-os ao Espanhol junto com o dinheiro dele e do Francês. Andei uns bons anos nisso”. Requelinda Augusta Pereira – Cevide 13-11-2013

Ultrapassar a fronteira nos Pirenéus era o momento mais temido. Tornava-se necessário faze-lo a pé, pois a vigilância era muito apertada. Na bagagem, pouco seguia, indispensável um bom vinho para o futuro patrão e uma morada de familiar ou amigo que já residisse ou trabalhasse em França.

“Os emigrantes chegavam com as suas malas atadas com cordéis, as suas sacas, os seus embrulhos, traziam as máquinas a petróleo para cozinhar, vinho do Porto para oferecer ao patrão ou amigos franceses”. (Rocha, 1965 p. 88)

Este movimento migratório, fundamentado em razões económicas, move classes que vão desempenhar trabalhos desqualificados. Enfrentam trabalhos árduos e por vezes com pouca segurança, habitações precárias (caso dos bidonvilles em Paris), mas os autos salários que auferem, comparativamente ao que poderiam obter em Portugal, permitem-lhes concretizar os seus anseios (Baganha, 2000).

O facto de viverem em comunidade ajuda-os a suportar a distância, a dureza do trabalho e a longa separação da família.

A emigração foi também encarada como uma forma de ascensão social. Em breve começaram a chegar as primeiras remessas de dinheiro dos emigrantes para as suas famílias (Castro & Marques, 2003).

“Semanas depois recebia a mulher uma encomenda, um pequeno transístor que ela olhava embevecida e fascinada. Depois (…) perante a surpresa dos vizinhos, atónitos, ela encaminhou-se para o banco e levantava alguns contos de réis” (Rocha, 1965 p.18)

Um dos principais objetivos era a construção de uma casa, que tanto irá alterar a paisagem do concelho. Esta casa “afrancesada” é hoje, no entanto, um símbolo do fenómeno emigratório para França, em Melgaço, como o são os antigos palacetes “abrasileirados”.

Os Melgacenses enviando remessas avultadas, têm contribuído para o desenvolvimento económico da sua terra. Segundo Rocha (1965) o envio de quantias consideráveis de dinheiro promoveram o consumo e criaram novos vínculos entre emigrantes e residentes.

Se é certo que foi a emigração a grande alavanca da mobilidade social e económica do concelho de Melgaço, para a história ficarão sempre vincados o contrabando e a exploração do volfrâmio como os primeiros motores geradores de expectativas e ilusões em alcançar novos padrões de vida (Castro & Marques, 2003).

REVISTA CIENTÍFICA DO ISCET

PERCURSOS & IDEIAS

Nº 7 – 2ª SÉRIE 2016

929 b rota cont s gregorio (9).JPG

rota do contrabando e emigração clandestina

 

 

MELGAÇO, MAMOA DO BATATEIRO

melgaçodomonteàribeira, 20.04.24

942 b mamoa-melgaco-2.jpg

ESTA MAMOA NO PARQUE NACIONAL PENEDA-GERÊS TEM MAIS DE

CINCO MIL ANOS E FOI RECUPERADA

26/02/2021

A mamoa do Batateiro, localizada há mais de cinco mil anos em Melgaço, foi recentemente reabilitada com a inclusão de um parque de merendas, foi hoje anunciado.

Para além desse novo espaço de lazer, foi ainda realizada a pavimentação de uma área para permitir o estacionamento de várias viaturas naquele local situado na freguesia da Gave, já dentro do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

De acordo com uma nota publicada nas redes sociais, a autarquia de Melgaço destaca ainda a delimitação entre aquele espaço arqueológico e terreno de cultivo de batatas, impedindo agora a entrada de automóveis na plantação.

Também o monumento megalítico está agora delimitado.

Segundo a Câmara de Melgaço, a Mamoa do Batateiro é um monumento megalítico de razoáveis dimensões, com significativos vestígios estruturais, no que concerne à câmara dolménica, constituída por sete esteios.

Na superfície interna do esteio da cabeceira detetam-se ténues vestígios de gravuras.

De salientar que esta mamoa se encontra situada a poucos quilómetros do planalto de Castro Laboreiro, onde existe uma necrópole megalítica com cerca de uma centena de monumentos da pré-história.

O MINHO

ominho.pt

 

COUTO MIXTO EM MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 13.04.24

925 b couto mixto foto vortegmax.net.jpg

couto mixto  foto: vortegmax.net

EMBAIXADA DO COUTO MIXTO EN MELGAÇO

Xosé Glez.

Redondela

13/08/2019

(…)

Tivo que transcorrer case un século para que os versos publicados en “Ares da Raya” en 1902 deixaran de ser un laio e unha utopia. Hoxe, cando as fronteiras que nos separaban foron suprimidas, no Museo Espaço e Memória da Fronteira de Melgaço están rexistradas as historias das miserias dos pobos dun e doutro lado do rio por falta de medios para subsistirem.

O concello de Melgaço é o máis galego de todos os que son raianos. Porque linda con varios concellos das provincias de Pontevedra e Ourense. Por isso compartimos unha mesma antropoloxia como estudou a socióloga francesa Fabienne Wateau no seu ensaio sobre a organización social no Val de Melgaço “Conflitos e Água de Rega”. Un dereito consuetudinario de oríxe xermánica que serviu para regulamentar usos e costumes común que ten as súas oríxes na Gallaecia, antes de que existisse o actual Portugal.

Acordei disto cando mirei a festa conmemorativa do costume da xente do rural que repartían os meses do ano vivindo nas brandas e nas inverneiras. Subían ás brandas (serras) en abril e voltaban en setembro ás inverneiras (aldeas do val). A festa, como non podía ser doutro xeito, foi amenizado polas gaitas que é o instrumento musical que comparten connosco. O vindeiro día 16 volveremos cruzar o río pola ponte de Arbo, camiño da antiga vila balnearia do Peço, na que estivo acubillado durante algún tempo Pepe Velo, o noso egrexio revolucionario máis universal, que foi capaz de soñar unha acción e realizala, secuestrando o “Santa Maria”, un buque de pasaxeiros de bandeira portuguesa, para chamar a atención do mundo das ditaduras salazarista e franquista. Algún día – tamén somos de soñar – pedirémoslle á Cámara Municipal a colocación dun monólito que lembre a importancia estratéxica que tivo aquela freguesía para acoller aos fuxidos da sublevación militar española, como xa fixemos en Turei, a freguesía lindante co Couto Mixto, onde o mestre Manuel Barros déulles apoio a Luís Soto e outros compañeiros fuxidos da represión.

A Asociación de Amigos do Couto Mixto en colaboración coa Cámara Municipal celebrará na Praza da República de Melgaço, ás 12:00 horas, a presentación da historia do Couto Misto cunha representación do grupo teatral Xeitura seguida dunha mesa redonda e a proxección dun documental no Museo Espaço, Memória e Fronteira na que participarán, amais do presidente da Cámara, Manoel Batista, Luís Garcia Mañá, Padre Fontes e Xosé Rodríguez Cruz. Será unha xornada lúdica que coincidará no tempo coa celebración da Festa do Emigrante e a feira semanal, que encherán as prazas e rúas de miñotos en ledo convívio amenizado polo grupo de música tradicional Airiños de Caldelas.

GALICIA CONFIDENCIAL  

http://galiciaconfidencial.com

 

MELGAÇO RADICAL

melgaçodomonteàribeira, 06.04.24

mr.jpg

foto: melgaço radical

MELGAÇO DOS DESPORTOS RADICAIS PARA PAIS E FILHOS

Mariana Falcão Santos

Lá em cima, entre a fusão de azul do céu e verde das plantas, distingue-se o caudal do rio Minho. De um lado Espanha e do outro Portugal. Ao fundo, vê-se uma das barragens espanholas que controla o leito do rio e aquele que marca o ponto número 1 das terras lusitanas. É um romantismo, claro que é, mas há uma certa solenidade na ideia de “aquele” ser o ponto número 1, ali começar Portugal. Desde o início do Planalto que a fronteira é feita pelo Trancoso que ali nasce e desce até ao rio Minho (até Cevide, junto a S. Gregório), na freguesia de Cristóval. E é por isso que nos esforçamos para do cimo da montanha apurar a vista e procurar as referências que Paulo Faria nos vai dando. É ali.

Rio abaixo, o caudal do Minho vem servir de pano de fundo para as mais variadas atividades náuticas e parece ter sido feito (depois das devidas alterações pela mão humana) a pensar nos amantes da adrenalina aquática.

O rafting, desporto do qual Melgaço é capital ibérica, deu os seus primeiros passos no início dos anos 90 e foi ganhando cada vez maior popularidade. Atualmente, a oferta de atividades é diversificada mas o rafting, que consiste na descida de rios dentro de um barco insuflável, está no topo da tabela de desportos náuticos mais procurados na zona, junto com a canoagem, o paddle e o canyoning.

Se muitos vêm esta atividade como algo direcionado para adolescentes que gostam da adrenalina, a experiência de Paulo com a Melgaço WhiteWater diz-lhe o contrário. “Somos essencialmente procurados por portugueses, especialmente por famílias com filhos mais novos. Acontece muitas vezes termos miúdos muito felizes com a experiência e pais e mães apavorados de medo”, conta a sorrir.

O truque é, acima de tudo, garantir sempre a segurança e trabalhar com aqueles que percebem do assunto e se sentem como peixe dentro de água, passando a redundância. O rio Minho convida a tudo isto. As condições do rio e a sua classificação baixa tornam as práticas mais seguras e flexíveis, diminuindo o risco e o perigo. Aqui, atividades como o rafting são feitas para todas as idades e gostos, e podem até decorrer à luz das estrelas, numa das três descidas noturnas do rio que a Melgaço WhiteWater organiza anualmente, nos meses de verão.

Em terra, o nosso passeio chegou ao fim na Igreja de Fiães, sítio onde os monges terminavam as suas caminhadas. Na fachada, um tronco oco desgastado pela idade serve de amuleto a quem por ali se casa. O mosteiro já não está lá. Restam as ruínas e a Igreja que ainda hoje serve o povo de Fiães.

Voltamos a colocar os pés em solo de alcatrão com a certeza de que esta é uma experiência que não se esquece.

SAPO 24

24.sapo.pt

918 b Digitalizar0014.jpg