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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, ENTREVISTA A UM EMIGRANTE

melgaçodomonteàribeira, 30.03.24

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estacionamento em agosto na vila  anos 1980

ENTREVISTA

 

Nome: Entrevistada número 2

Idade: 29 anos

Género: Feminino

Profissão: Licenciada em Direito

País de Acolhimento: França

 

Inv: Porquê é que emigrou?

Id: Os meus pais ‘tão em França, e, eu nasci lá, sou francesa e portuguesa ao mesmo tempo. Felizmente, os dois países deixam haver dupla nacionalidade.

Inv: A situação política portuguesa, nomeadamente, a guerra colonial pesaram na sua decisão?

Id: Não sei, para os meus pais…, isso é do tempo deles. Mas, como ‘tão sempre a dizer mal de Portugal, é bem possível.

Inv: E o regime fascista do Estado Novo?

Id: Devias ter escolhido uma pessoa mais velha para fazer a entrevista.

Inv: Porque não se dirigiu para as antigas colónias portuguesas?

Id: Olha, nos dias de hoje, não seria má ideia. Quando entramos nas perguntas do picanço?

Inv: É rápido, não te preocupes.

Inv: Como imaginava a sociedade de acolhimento, antes de emigrar?

Id: Pois, essa só se for Portugal, eu, a bem dizer emigrei para Portugal. Sou francesa e passava mais tempo na França. É normal que sinta isso. Sou advogada e não posso exercer cá, se não fossem os meus pais a trabalharem ‘tava tramada, mas quero ficar cá, em Portugal, tenho que fazer o exame na Ordem. De Portugal conhecia Melgaço, era a imagem que tinha. Há dois meses ‘tive em Lisboa, no Algarve e no Alentejo, é muito bonito.

Inv: Conhece algumas artimanhas usadas pelos emigrantes para dar “o salto”?

Id: Em França? Nem sim nem não. Não tenho nada contra a França. Na faculdade, como sou loira e alta, quando dizia que era portuguesa não acreditavam. Na minha faculdade, que eu saiba, era a única portuguesa. Na França não se liga tanto como cá de onde vimos, há muita mistura. Os portugueses, em França, portando-se bem, não são notados. O problema deles é que se portam sempre bem. E os outros, os árabes, os asiáticos ficam com os direitos todos, passam-lhes a perna. Nem com a União Europeia se notou diferença, falam em direitos, mas não os dão. Quem gosta dos portugueses é o Le Pen. Esse é um hipócrita. Há uns anos chamou os portugueses de porcos, incluindo o presidente de Portugal e, nas eleições, precisa dos portugueses. Os emigrantes não sabem lutar pelos seus direitos.

Inv: Alguma vez se sentiu descriminada no país de acolhimento?

Id: São os mais velhos que falam disso, mas só falam disso nas férias, em França não falam, sentem vergonha. E, em Portugal, quase se gabam.

Inv: A sua integração no país de acolhimento foi difícil ou fácil? Poderia descrever algumas peripécias?

Id: Nasci lá, nunca senti nada disso, acho que os muçulmanos são descriminados. Na França, é proibido enviar currículos com o nome e fotografia porque eles não são empregados. Os portugueses não são descriminados, acho que são consentidos, se se portarem bem. Mas, há problemas com os portugueses, há portugueses a viverem muito mal. Mas, a isso ninguém liga, nem cá nem lá, desde que trabalhem e se considerem franceses, tudo bem.

Inv: São conhecidas as disputas (picanços) entre emigrantes e residentes, por exemplo, durante as férias, era realizado um jogo de futebol entre emigrantes e portugueses, qual nem sempre acabava da forma disciplinar mais correcta. Poderia descrever outras formas de “picanço”?

Id: Isso ainda existe, nas discotecas. Em Monção na (nome da discoteca) há sempre problemas, aqui, não há discotecas.

Inv: Como explica esse comportamento, por parte dos residentes? Ou seja, na sua opinião, qual seria a razão dos residentes” picarem” os emigrantes?

Id: Só os parvos é que picam os emigrantes. Às vezes, mandam uma boca, mas isso é tudo. Só os parvos é que vão mais longe.

Inv: Sendo portuguesa, alguma vez se sentiu descriminada ou mal tratada, em Portugal, pelo facto de ser emigrante?

Id: Só nas bocas, o resto, evito os sítios com essas pessoas parvas.

Inv: Durante as férias, quando o número de emigrantes era superior ao de residentes, os emigrantes e residentes frequentavam locais públicos diferentes. Na sua opinião, qual era a razão para tal comportamento?

Id: É o que acontece nas discotecas com os mais novos. Talvez porque só falam francês. É muito fácil assim.

Inv: Como explica o facto dos residentes, durante as férias, se reunirem somente entre eles?

Id: É a mesma coisa, mas ao contrário, quando era mais nova, nas discotecas, os rapazes de cá, vinham falar connosco e os rapazes emigrantes tinham ciúmes, na altura, até era giro, mas é realmente uma estupidez.

Inv: Em espaços públicos, por exemplo, num café, alguma vez foi “olhada de lado” pelos residentes não emigrantes?

Id: Pois, é… é bem assim. Explico: porque os portugueses nunca se juntaram, não têm força.

Inv: Como pode explicar esta afirmação normal entre os emigrantes: “Em França somos portugueses, em Portugal somos franceses”?

Id: Claro, sou francesa, mas é cá que me sinto melhor. Na França, as pessoas são mais isoladas, aqui, é mais fácil conhecer as pessoas, fazer confiança com elas. Foi por isso que, eu, vim para Portugal.

Inv: Acha que adquiriu formas de estar, de viver, do país de acolhimento? Quais?

Id: Em algumas coisas sim, noutras não. A sociedade francesa é mais fria, não querer saber das pessoas.

Inv: Acha que os residentes teriam a ganhar se adoptassem também essas práticas?

Id: Antigamente, reparava que, às vezes, não gostamos dos emigrantes e não ligava a isso. Mas, como ‘tou cá, às vezes, vejo que alguns emigrantes, realmente, não são normais.

Inv: Acha que os residentes tinham razão quando diziam que os emigrantes eram todos uns convencidos e uns arrogantes?

Id: E…

Inv: Como explica o facto de que Portugal, sendo o país dos descobrimentos espalhados pelos cinco continentes, “obriga-se” os portugueses a passarem pelas dificuldades de quem emigrava?

Id: É a história, nós somos emigrantes.

(Fecho da entrevista)

OS EFEITOS DO VAIVÉM DA EMIGRAÇÃO CONTINENTAL:

UM ESTUDO DE CASO EM MELGAÇO

Joaquim Filipe Peres de Castro

Universidade Fernando Pessoa

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

Porto, 2008

MELGAÇO, PARQUE TERMAL DO PESO

melgaçodomonteàribeira, 23.03.24

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O RENASCER DAS TERMAS DE MELGAÇO

Localizado num dos recantos mais belos do nosso país, o Parque Termal do Peso está a renascer e prepara-se para voltar a ser uma referência a nível nacional e internacional.

O Parque Termal do Peso, onde funciona a Estância Termal de Melgaço, tem uma longa história. Iniciou o seu funcionamento comercial na segunda metade do século XIX, quando as propriedades terapêuticas das águas foram descobertas. Em 1885 engarrafaram-se as primeiras águas e, quatro anos depois, foi aprovada a licença para a sua aplicação terapêutica. Do Parque Termal fazem parte as duas nascentes, a Buvete, o Balneário e a Oficina de Engarrafamento. À frente das instalações, há um belo jardim banhado pela ribeira da Bouça Nova, dando ao lugar um espírito bucólico, onde podemos relaxar.

Aproveitando esta beleza natural, o património arquitetónico e a qualidade das águas, a Estância Termal de Melgaço foi alvo de uma requalificação completa e encontra-se desde 2013 aberta ao público com novos equipamentos. Desde julho deste ano, há uma nova gestão das termas e uma nova estratégia: “vida em pleno”. O objetivo é atrair novos visitantes, nacionais e internacionais, e de todas as idades, de forma a devolver as termas ao esplendor de outrora.

Além do tratamento de patologias específicas, as Termas de Melgaço oferecem agora tratamentos focados no bem-estar, na estética, beleza e relaxamento, tais como diferentes tipos de massagem, tratamentos de beleza e faciais. A estância terá também disponíveis rastreios de colesterol, glicose, tensão arterial, triglicerídeos, entre outros. Mesoterapia, Pilates, Fisioterapia, Reiki e Zumba são algumas das atividades de lazer e terapêuticas disponíveis.

As Termas de Melgaço estão abertas todos os dias, entre as 09h30 e as 19h30 ao público em geral. O espaço, pelo seu esplendor e beleza, está disponível para reservas de eventos.

Para o futuro, está planeada também a recuperação do Hotel do Peso, hoje uma ruína nostálgica que lembra outros tempos. A unidade hoteleira complementará a oferta da estância termal e será um hotel-boutique de 4 estrelas, com 44 quartos.

Para já, quem visite as Termas de Melgaço, poderá ficar no Parque de Campismo ou na vila de Melgaço, a cerca de 10 minutos de carro.

SAPOVIAGENS

11 dez 2017

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UM PASSEIO POR MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 16.03.24

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AQUI AVISTA-SE O PONTO Nº 1 DE PORTUGAL. ATÉ LÁ, VAI SER SEMPRE A SUBIR E DEPOIS SEMPRE A DESCER, MAS O QUE IMPORTA MESMO É O CAMINHO

Mariana Falcão Santos - texto

10 ago 2020

É na capital do rafting que um passeio de UMM pela montanha nos ajuda a perceber melhor o que é que torna a terra mais a norte de Portugal tão especial. Entre caminhos vertiginosos e as paisagens pintadas de verde banhadas pelo Minho, as surpresas que Melgaço tem guardadas não são só para os que têm sangue na guelra.

O convite inicial prometia um passeio de moto4, pelas montanhas da vila de Melgaço. Um contratempo logístico mudou o meio de transporte para um modelo de todo-o-terreno que ficou conhecido nos anos 80, um UMM. À priori, já sabíamos que nos esperava uma viagem por terreno atribulado.

“Não via um destes há anos” foi uma das primeiras frases dita pela nossa equipa. Quem nos ia conduzir montanha acima era Paulo Faria responsável pela Melgaço Whitewater, uma das empresas que se dedica à dinamização de atividades outdoor na zona. Professor na Escola Superior de Desporto e Lazer e formado em Desportos da Natureza, há três anos que se dedica a apresentar as potencialidades da vila a quem tem curiosidade de conhecer.

Esperava-nos um percurso de média montanha e campo, com início no centro histórico de Melgaço. A vila tem uma área envolvente superior a 230 quilómetros quadrados e conta com cerca de 9 mil habitantes. Em anos normais, por esta altura, muitos portugueses, muitos espanhóis – que Espanha é já ali – mas também de outras paragens. Visitantes que ali chegam atraídos por um binómio que casa na perfeição: uma imensa natureza a explorar e um vinho que dá nome à rota da região. Como dirá o nosso guia, Paulo Faria, “vir a Melgaço e não beber Alvarinho é como ir a Roma mas não ver o Papa” – mas isso são outras histórias.

A viagem começou com a promessa de que, passando o cliché, o que veríamos ao chegar ao destino valeria a pena – mesmo que o percurso fosse atribulado. Mas, até chegar ao destino, a história de Melgaço começou a ser contada ainda em estradas de alcatrão. Lá fora, à medida que íamos saindo em direção à periferia da vila, as casas, alinhadas numa disposição pouco orientada, eram maioritariamente constituídas por pedra, e, como em qualquer ambiente rural, havia uma história daquelas que passa de boca em boca que o ajudava a explicar.

Em tempos, ali, em Melgaço, houve um mosteiro, o Mosteiro de Santa Maria de Fiães, onde residiam monges. Os mais antigos da terra contam que o monumento foi destruído por populares que posteriormente utilizaram as pedras do mosteiro para fazer as suas próprias casas. Mas até chegarmos ao local que serviu de casa a muitos devotos, esperava-nos um caminho de terra pela zona montanhosa. Já lá vamos.

Dos dois lados da estrada, vegetação de tons inimagináveis de verde tapa-nos qualquer tipo de visão. Não são precisos muitos minutos para percebermos que neste trilho de média montanha em UMM uma das premissas é acreditar. Acreditar que apesar de uma mata densa que pouco ou nada faz adivinhar haver caminho, ele existe – e se vale a pena!

Ajuda muito ter alguém que conhece as montanhas de Melgaço como a palma da mão. Não é por acaso que Paulo Faria faz o que faz e tem a empresa que tem, mesmo que também haja quem opte por explorar caminhos íngremes e apertados de forma autodidata – o que nem sempre corre bem.

O percurso pode ser feito de três formas: Moto4, Buggy ou UMM, consoante o nível de adrenalina, conforto e autonomia procurado, mas a última opção é a mais confortável na hora de passar entre lençóis de mato que se atravessam pelos caminhos e que apenas são abertos com a perícia de um condutor experiente ao volante de um “bicho” que é dotado para estas missões.

Os trilhos que hoje em dia servem para passeios turísticos foram noutros tempos os sítios mais procurados de passagem de contrabando entre Espanha e Portugal. Ladeados pelo rio Minho, eram os atalhos que atravessavam a montanha. “Há várias povoações, especialmente na zona perto do rio que se formaram devido às trocas entre países e contrabando. Somos uma zona de contrabandistas e não temos problema nenhum em dizê-lo”.

O contrabando é uma marca desta terra, não uma cicatriz. As gentes e os locais fizeram a sua história – e as suas famílias em muitos casos – nessas vidas em que a troca de produtos, então ilegal, de um lado e do outro da fronteira, era parte do dia-a-dia. De Espanha traziam bananas e chocolate, de Portugal havia quem levasse sabão e café. Do cimo de um dos muitos miradouros encontrados pelo caminho conseguimos ver que há alguns percursos alternativos que a vegetação farta não consegue esconder – o que indica que por ali passaram e continuam a passar pessoas entre um lado e outro.

sapo.pt

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MELGAÇO, PESQUEIRAS NO RIO MINHO

melgaçodomonteàribeira, 09.03.24

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pesqueira no peso

PORTUGAL AVANÇA COM CLASSIFICAÇÃO DE PESQUEIRAS DO RIO MINHO

A PATRIMÓNIO IMATERIAL

A candidatura das pesqueiras do rio Minho ao registo nacional de património imaterial foi apresentada em Melgaço, Viana do Castelo. A classificação também ocorrerá na Galiza.

A candidatura das pesqueiras do rio Minho ao registo nacional de património imaterial foi hoje publicamente apresentada em Melgaço, no distrito de Viana do Castelo, classificação que também ocorrerá na Galiza para preservar um saber comum aos dois territórios. Promovida pelo Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT) Rio Minho, a candidatura portuguesa foi submetida em fevereiro. Do lado espanhol, existe a intenção, mas o processo ainda não avançou.

Em declarações à agência Lusa, à margem da apresentação pública da candidatura nacional, hoje, na Câmara Municipal de Melgaço, a Secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Ferreira, explicou que são processos autónomos, apesar de se tratar de um património transfronteiriço. “Cada um dos países avança com a candidatura ao registo nacional. Do lado português a candidatura é coordenada pela Direção-Geral do Património Cultural e, do lado espanhol, pela sua congénere. São processos autónomos que visam preservar um saber partilhado pelos dois povos vizinhos”, explicou Ângela Ferreira.

Fronteira natural entre os dois países, o rio internacional concentra, nas duas margens, só no troço de 37 quilómetros, entre Monção e Melgaço, cerca de 900 pesqueiras, “engenhosas armadilhas” da lampreia, do sável, da truta, do salmão ou da savelha.

Desde a foz em Caminha até Melgaço, o peixe vence mais de 60 quilómetros, numa viagem de luta contra a corrente que termina, para alguns exemplares, em “autênticas fortalezas” construídas a partir das margens, “armadas” com o botirão e a cabaceira, as “artes” permitidas para a captura das diferentes espécies.

As estruturas antigas de pedra, são descritas como “habilidosos sistemas de muros construídos a partir das margens, que se assumem como barreiras à passagem do peixe, que se via assim obrigado a fugir pelas pequenas aberturas através das quais, coagido pela força da corrente das águas, acabando por ser apanhado em engenhosas armadilhas”.

As construções, “umas milenares outras centenárias, pressupõe um saber e compreensão da bacia do rio, das suas características biológicas, eco ambientais, físicas, orográficas, e as artes de pesca, testemunhas do conhecimento e vida das comunidades ribeirinhas e do seu sentimento de pertença a uma unidade cultural e identitária”.

Segundo Ângela Ferreira, a candidatura esta quarta-feira apresentada “vai ser analisada por técnicos da Direção-Geral do Património Natural”, podendo estar ainda sujeita, “a pedidos de esclarecimentos adicionais à equipa científica que a produziu”.

“Depois, obviamente, o processo culminará com a consulta pública, antes de ter o despacho final de inscrição no registo nacional de património natural e imaterial”, especificou, escusando-se a estimar um prazo para a conclusão do processo, por “variar muito, mediante os pedidos de esclarecimento ou a necessidade de investigações adicionais”.

Ângela Ferreira sublinhou a importância da “preservação do saber e do conhecimento” que as pesqueiras encerram, para garantir a “passagem às gerações futuras” de “um conhecimento imemorial”, uma “parte incontornável da história do rio Minho”.

“Esse vai ser um pilar fundamental da divulgação tanto nacional como internacional, desta prática e do território que acompanha o rio Minho, tanto do lado português como espanhol”, sustentou.

Já o presidente da Câmara de Melgaço, município que “deu o pontapé de saída” da candidatura, sublinhou que o objetivo do reconhecimento agora em curso, “mais do que guardar a história que as pesqueiras encerram é dar-lhe dinâmica, do ponto de vista económico, tornando-as numa referência para o setor de turismo”.

Intitulado “A pesca nas pesqueiras do rio Minho”, o estudo que sustenta a candidatura foi desenvolvido, nos últimos dois anos, por um grupo constituído por entidades portuguesas e galegas e liderado pelo antropólogo Álvaro Campelo. Esta quarta-feira, na apresentação do documento, Álvaro Campelo referiu a existência de pesqueiras noutros rios portugueses e espanhóis, mas “não com a dimensão, qualidade e relevância” das registadas no rio Minho.

“É um património vivo, mas que está em risco, claramente. Esta candidatura é uma oportunidade de dar valor a esta prática viva e um momento único para os jovens voltarem ao rio, onde tem estado praticamente ausentes, alertou.

Segundo o investigador, das 900 pesqueiras existentes no rio Minho, em Portugal estão ativas 160 e, do lado espanhol, cerca de 90.

Em Portugal, a Comunidade Intermunicipal do Alto Minho, que agrega os dez concelhos do distrito de Viana do Castelo, suportará cerca de 50 mil euros, e a província de Pontevedra, em Espanha, 45 mil euros.

AGÊNCIA LUSA

26/ago/2020

Estela Silva/LUSA

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PÃO, REBANHOS E BRUXAS EM CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 02.03.24

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forno em castro laboreiro

EM CASTRO LABOREIRO, NO EXTREMO NORTE DE PORTUGAL,

AINDA SE FAZ PÃO À MODA ANTIGA

António Catarino

5 de maio de 2017

Na aldeia moldada pelo granito e pelos rigores climatéricos da região das brandas e inverneiras, por onde correm garranos e cães da famosa raça local, o pão castrejo ainda resiste.

No lugar de Vido, a três quilómetros de Castro Laboreiro, Almerinda Rodrigues, Rosa Martinho e Isalina Pereira, mulheres de duas gerações, meteram mãos à massa e prepararam uma fornada à moda antiga. Almerinda Rodrigues, 79 anos, quase a bater nos 80, com o saber de experiência feito, foi explicando todo o processo e preparando o forno, enquanto recordava os tempos em que o povoado tinha mais habitantes que os sete atuais e o rebanho contava com duas centenas de cabeças, entre ovelhas e cabras.

Resignada, Rosa Martinho, 78 anos completados, enuncia as casas hoje desabitadas e aponta com o dedo em várias direções. Sabe de cor para onde foram os que partiram em busca de uma vida melhor, com mais comodidade. À conversa vêm estórias de tempos idos, quando havia bruxas por aqueles lados, como afiança Almerinda Rodrigues, desafiando, entre sonoras gargalhadas, alguns episódios ocorridos naquela terra onde o contrabando era prática mais ou menos generalizada.

O pão foi cozendo no forno, cumprindo-se rituais e preceitos ancestrais. O primeiro pão a sair, a tenda, como por ali lhe chamam, é para repartir, manda a tradição castreja. Mas, é preciso alguma cautela, como Isalina Pereira adverte, quando os pães bem quentes, são colocados no tabuleiro de madeira mesmo ao lado do forno.

Perto dali o velho forno comunitário espelhava a ignomínia do abandono, enquanto a água continuava a correr na fonte da empinada rua empedrada, onde um púcaro de esmalte, que já terá dado de beber a muitos caminhantes sequiosos, baloiçava ao sabor do vento fresco.

Com pão quente no bornal e sem beber água fria, era tempo de partir. À redescoberta da região de Castro Laboreiro.

TSF – Rádio Notícias

tsf.pt

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