O CERCO A MELGAÇO
A GUERRA EM MELGAÇO
(…) A grande prova da eficiência dos engenhos de torsão e contrapeso utilizados na guerra de cerco portuguesa dos finais do século XIV, apresenta-a Fernão Lopes ao descrever o cerco de Melgaço, no primeiro trimestre de 1388:
nove dias após o início do assédio, e «tendo jaa os da villa lamçadas lx. pedras de troons, que nam fezerão porem dapno, mandou el-Rey armar huum enjenho açima da ponte da villa. E logo esa quarta feyra lançou cimquo pedras, e tres foram dentro no logar e duas deram no muro. E respomderan-lhe de dentro com doze pedras de troons, que nenhuum dapno fezeram. A quynta feira lançou o enjenho xxv. pedras; das quaees deram xvj. no muro e duas em dous caramanchões que foram logo deribados. E as noue cahiram dentro na villa, que fezeram gram perda em cassas que deribarão».
O cerco de Melgaço terminaria com a rendição da praça aos 53.º dia, e o balanço da artilharia utilizada não podia ser mais expressivo:
«(…) temdo lançadas da villa de dentro ao arayal cento e xx. pedras de troons, que nenhuum nojo fezeraão, e do arayal a villa trezemtos e xxxvj., que danaram gram parte della».
p. 354
(…)
Um caso de alguma maneira aparentado – porque oriundo da mesma matriz supersticiosa e mágico-protectora – é descrito por Fernão Lopes e tem como cenário a rendição de Melgaço às mãos de D. João I, em Março de 1388. (…), a preitesia acordada com os minhotos previa que os sitiados abandonassem a praça simplesmente em gibão; ora, acrescenta Fernão Lopes que um escudeiro fidalgo de D. Juan I, homem mancebo dos seus 20 anos, veio então pedir ao monarca português que o autorizasse a preservar as suas armas – que eram as primeiras que tinha – ,não pelo respectivo valor, mas «porque me parece que jaa com outras nam poderia aver nenhuum boom aquecimento se estas em tal guyssa perdesse».
p. 464
A GUERRA EM PORTUGAL NOS FINAIS DA IDADE MÉDIA
João Gouveia Monteiro
Editorial Notícias
1ª Edição
Novembro de 1998