Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

PADERNE MILITAR

melgaçodomonteàribeira, 26.08.23

890 b paderne 1907.jpeg

PADERNE MILITAR

(…)

A relevância militar dos monumentos religiosos poderia converter-se num pau de dois bicos para o monarca. A necessidade premente de defesa do território do reino acolhe qualquer iniciativa do fortalecimento do sistema defensivo, mas, em contrapartida, essas construções particulares poderiam servir de baluarte à rebelião contra o próprio poder régio. Essa dificuldade tem sido debatida sobretudo em relação às torres solarengas dos fidalgos, que, segundo uma lei de D. Dinis, só podiam ser levantadas mediante prévia licença régia, mas também se fez sentir em relação aos próprios monumentos religiosos.

Neste âmbito, não é, com certeza, demasiado pretensioso sublevar o papel militar do mosteiro raiano de Paderne – sem esquecermos esse outro cenóbio melgacense (o de Fiães), responsável pela construção, em meados do século XIII, e manutenção de uma torre e dezoito braças do muro da vila de Melgaço, conforme ficou exarado em documento do seu cartulário.

Passemos então aos subsídios documentais militares do mosteiro de Paderne. Antes de outros, na afonsina carta de couto, outorgada em 16 de Abril de 1141, ficou registado um escasso pormenor do dinamismo militar do século XII, nesta zona noroeste de Portugal – a tomada do castelo de Laboreiro por D. Afonso Henriques. É o próprio monarca a referir expressamente que concede a carta de couto pelo remédio da sua alma, da alma de sua mãe e dos seus parentes e pelo tributo de dez éguas com suas crias, trinta moios de vinho, um cavalo avaliado em quinhentos soldos e cem moedas de ouro, que a abadessa Elvira Sarracine lhe tinha prestado.

(…)

O tributo foi prestado quando o rei tomou o castelo de Laboreiro. Sendo esta a única fonte documental conhecida para este sucesso militar do primeiro Afonso de Portugal, dada a sua laconicidade, difícil se torna avaliar a amplitude e o enquadramento cronológico do feito. O P.e Bernardo Pintor situou-o, sem mais, nas proximidades do recontro de Valdevez. Augusto Botelho da Costa Veiga, que escreve antes, conjectura que uma reconquista portuguesa pressupõe uma evidente perda anterior da fortaleza para as forças de Leão, situando ambas as expugnações entre a batalha de Cerneja e a carta de couto de Paderne, ou seja, no “intervalo de meados de Outubro de 1140 aos princípios de Abril de 1141”. O armistício de Valdevez, por sua vez, situou-o em Setembro de 1141 – muito próximo, mas a seguir à reconquista do castelo de Laboreiro.

Apesar da manifesta proximidade, quer geográfica quer cronológica, dos embates de Laboreiro e Valdevez, parece inconcebível que, até à data, não se tenha, pelo menos, tentado relacioná-los.

 

PADERNE MILITAR

José Domingues

Boletim Cultural de Melgaço

2006