O PALEOLÍTICO EM MELGAÇO
VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS DOS PRIMEIROS HABITANTES DO CONCELHO
Suspeitando que em Melgaço terão sido realizados os primeiros achados de vestígios da presença do homem paleolítico na região, aí recolhemos agora colecções de peças arqueológicas associáveis a estes primeiros habitantes numericamente expressivas. Mas também susceptíveis de permitirem caracterizar tecnologicamente os seus processos de fabrico e de, ao mesmo tempo, nos darem dados sobre os constrangimentos que acompanhavam a escolha das matérias-primas usadas e as condições em que se processava o seu aprovisionamento. E se com tais elementos poderemos tentar delinear parte das estratégias de sobrevivência por eles adoptadas, os locais de proveniência desses mesmos vestígios indiciam algumas das suas distintas estratégias de ocupação do território. Instalavam-se nalguns casos junto às linhas de água, noutros prefeririam ocupar locais não muito distantes, mas em sítios a elas sobranceiros onde tinham fácil acesso às matérias-primas necessárias para a manufactura das suas ferramentas em pedra. Pontualmente fixavam-se ainda em locais afastados do rio, em pontos altimetricamente mais elevados, para onde tinham de transportar as suas ferramentas ou os suportes de matéria-prima que as permitiam depois fabricar, certamente procurando tirar partido dos distintos recursos a que localmente poderiam aceder e/ou da estratégica posição dos sítios para o efeito escolhidos. Poder-se-ia até dar o caso de esta situação ser bem mais frequente do que o registo arqueológico nos permite documentar, dado que as condições de sedimentação que dão origem ao desenvolvimento de depósitos capazes de preservar tais testemunhos são mais fáceis de ocorrer nas zonas mais baixas e menos declivosas dos vales.
Mas se sobre estas questões podemos já esboçar algumas ideias e sugerir outras, temos consciência do muito que ainda há por fazer e a descobrir. Será possível vir a encontrar no Baixo Minho e em Melgaço, em particular, vestígios da presença do homem anteriores ao aparecimento das indústrias acheulenses, como está devidamente documentado noutras regiões da Península? E as indústrias acheulenses locais, que por ora testemunham a mais antiga presença do homem na região, desenvolveram-se a partir das ferramentas mais primitivas dos primeiros homens que chegaram à Península ou vieram de África, onde eram há muito conhecidas, com uma segunda vaga humana colonizadora da Península Ibérica, como sugere o recente estudo publicado sobre a vizinha jazida de Porto Maior, no concelho galego de As Neves (Méndez-Quintas et alii, 2018)?
E se comprovadamente o património arqueológico do concelho de Melgaço deverá concorrer para o avanço dos nossos conhecimentos sobre como, quando e em que circunstâncias os primeiros homens chegaram remotamente a esta área da Península, importa também que ele seja não só conhecido e destacado pela população local, como possa também contribuir para a valorização do próprio território.
O PALEOLÍTICO DE MELGAÇO: VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS DOS PRIMEIROS HABITANTES DO CONCELHO
João Pedro Cunha-Ribeiro, Sérgio Monteiro-Rodrigues, Eduardo Méndez-Quintas, Alberto Gomes, José Meireles, Alfredo Pérez-Gonzáles, Manuel Santonja
Boletim Cultural de Melgaço
Nº 10
2018