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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MÉZINHAS DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 27.05.23

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ENSALMO PARA TALHAR O AR (MELGAÇO)

Toma-se sal virgem (que nunca tenha servido), e com ele na mão, fazem cruzes sobre o rosto do paciente, dizendo:

 

Talho mau ar,

Corrimento (dos ventos)

E tolhimento

Bota-te fora deste corpo,

Vai-te para o mar coalhado:

Ar de vivo,

Ar de morto,

Ar de excomungado,

Ar de empecimento

E ar de inveja,

Q’antas calidades d’ares

Possa haver e empecer,

Eu te desconjuro

Para o mar coalhado.

Deixa este corpo

São e salvo

Como na hora

Em que foi nado.

 

Deita-se o sal em cruz para trás das costas do doente e para os lados. Toma-se mais sal miúdo e cola-se com cuspo na testa, queixo e fontes, dizendo, simultaneamente:

 

Nada tirei,

Mezinha farei

Pela graça de Deus e da Virgem Maria.

 

 

Para desmanchar um feitiço toma-se um quartilho de azeite, benzido por um padre que não seja amante de mulheres e o indivíduo com feitiço vomita-o imediatamente (Melgaço, 1918)

 

Ao pôr-se a conta (de azeviche) numa criança, dizia o sábio de Melgaço:

«Azebiche! Te ponho nesta criança, que corte’las bichas e o mau ar».

 

PORTUGAL SOBRENATURAL

Manuel J. Gandra

O CASTELO DE CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 20.05.23

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 castro laboreiro  séc. xvi

CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO

CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO

O CASTELO

Para uma melhor compreensão do tema, e também mais generalista, antes de prosseguir para o estudo de caso, dá-se a palavra a Mário Barroca: “A origem do castelo, na acepção restrita do termo, enquanto estrutura muralhada definindo o pequeno espaço onde se concentra um guarnição de soldados, deve procurar-se nos primórdios da reconquista cristã, encetada por D. Afonso I das Astúrias a partir dos meados do século VIII. No entanto, no estado actual dos nossos conhecimentos, é ainda difícil localizar com precisão no tempo o aparecimento destas novas estruturas. Sabemos que o Entre-Douro-e-Minho possuía, nos finais do século X e no século XI, uma rede bastante densa de castelos, na sua maioria fruto da iniciativa das populações locais” (Barroca, 1990, p. 91). Foi nesta rede de estruturas defensivas, designados nas fontes por monte, alpe ou castro, que as populações procuraram abrigo das sucessivas investidas de outros povos, até se formarem os reinos das monarquias do Norte. “A partir del siglo XI se percibe una mayor jerarquización de los centros de poder feudal, una mayor capacidade de control y ordenación de los territórios (commissa, mandationes, terras, alfoces…), parejo a una mayor implantación del domínio sobre los hombres y sobre la producción agraria. La acción señorial no se produce en el noroeste con formas de incastellamento similares a las de otros ámbitos mediterráneos, sino mediante la erección de pequeños castillos y recintos amurallados y dotados de torres, encaramados en altos cerros dominantes sobre el entorno o território (político, fiscal, administrativo)” (Gonzales, 2001, p. 26). Em suma, o formato de fortaleza medieval que hoje nos é comum, resulta de uma progressiva centralização de poderes e concentração de territórios sob a égide de um dirigente cuja administração e defesa só poderia ser feita com devida organização, em torno de um único símbolo de poder, como se verifica com o primitivo castelo roqueiro de Castro Laboreiro, e seu posterior refinamento. O castelo é um elemento fundamental para a compreensão da dinâmica política, económica, social e militar de um território. A contextualização histórica e arquitectónica de um castelo tem vários níveis de estudo e interpretação. As informações estão dispersas, a cronologia da sua actividade é extensa, carecendo de um trabalho aprofundado de investigação. Por isso, os parágrafos seguintes, sugerem um enquadramento do Castelo de Castro Laboreiro concebido a partir de algumas fontes bibliográficas, focando as linhas dominantes da história nacional, como os reinados e principais eventos militares, e menos a evolução administrativa e económica do território e das sociedades. É imperativo relacionar os grandes feitos militares dos reis portugueses com as consequências na arquitectura militar, em geral e em particular com o estudo de caso, uma vez que Castro Laboreiro, durante vários séculos foi na sua essência uma povoação fronteiriça, guerreira, destinada à protecção dos seus limites e da nacionalidade.

 

CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO

CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO

Diana Carvalho

Mestranda em História e Património

dianacarvalho.pt@gmail.com

ABELTERIUM

Volume III

Maio 2017

 

O PALEOLÍTICO EM MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 13.05.23

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VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS DOS PRIMEIROS HABITANTES DO CONCELHO

 

Suspeitando que em Melgaço terão sido realizados os primeiros achados de vestígios da presença do homem paleolítico na região, aí recolhemos agora colecções de peças arqueológicas associáveis a estes primeiros habitantes numericamente expressivas. Mas também susceptíveis de permitirem caracterizar tecnologicamente os seus processos de fabrico e de, ao mesmo tempo, nos darem dados sobre os constrangimentos que acompanhavam a escolha das matérias-primas usadas e as condições em que se processava o seu aprovisionamento. E se com tais elementos poderemos tentar delinear parte das estratégias de sobrevivência por eles adoptadas, os locais de proveniência desses mesmos vestígios indiciam algumas das suas distintas estratégias de ocupação do território. Instalavam-se nalguns casos junto às linhas de água, noutros prefeririam ocupar locais não muito distantes, mas em sítios a elas sobranceiros onde tinham fácil acesso às matérias-primas necessárias para a manufactura das suas ferramentas em pedra. Pontualmente fixavam-se ainda em locais afastados do rio, em pontos altimetricamente mais elevados, para onde tinham de transportar as suas ferramentas ou os suportes de matéria-prima que as permitiam depois fabricar, certamente procurando tirar partido dos distintos recursos a que localmente poderiam aceder e/ou da estratégica posição dos sítios para o efeito escolhidos. Poder-se-ia até dar o caso de esta situação ser bem mais frequente do que o registo arqueológico nos permite documentar, dado que as condições de sedimentação que dão origem ao desenvolvimento de depósitos capazes de preservar tais testemunhos são mais fáceis de ocorrer nas zonas mais baixas e menos declivosas dos vales.

Mas se sobre estas questões podemos já esboçar algumas ideias e sugerir outras, temos consciência do muito que ainda há por fazer e a descobrir. Será possível vir a encontrar no Baixo Minho e em Melgaço, em particular, vestígios da presença do homem anteriores ao aparecimento das indústrias acheulenses, como está devidamente documentado noutras regiões da Península? E as indústrias acheulenses locais, que por ora testemunham a mais antiga presença do homem na região, desenvolveram-se a partir das ferramentas mais primitivas dos primeiros homens que chegaram à Península ou vieram de África, onde eram há muito conhecidas, com uma segunda vaga humana colonizadora da Península Ibérica, como sugere o recente estudo publicado sobre a vizinha jazida de Porto Maior, no concelho galego de As Neves (Méndez-Quintas et alii, 2018)?

E se comprovadamente o património arqueológico do concelho de Melgaço deverá concorrer para o avanço dos nossos conhecimentos sobre como, quando e em que circunstâncias os primeiros homens chegaram remotamente a esta área da Península, importa também que ele seja não só conhecido e destacado pela população local, como possa também contribuir para a valorização do próprio território.

 

O PALEOLÍTICO DE MELGAÇO: VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS DOS PRIMEIROS HABITANTES DO CONCELHO

João Pedro Cunha-Ribeiro, Sérgio Monteiro-Rodrigues, Eduardo Méndez-Quintas, Alberto Gomes, José Meireles, Alfredo Pérez-Gonzáles, Manuel Santonja

Boletim Cultural de Melgaço

Nº 10

2018

 

CASTRO LABOREIRO, HISTÓRIA DA HABITAÇÃO

melgaçodomonteàribeira, 06.05.23

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ARQUITECTURA VERNACULAR AGRO-PASTORIL

CASTRO LABOREIRO

HISTÓRIA DA HABITAÇÃO

Os inícios da ocupação humana na zona do PNPG, na qual a freguesia de Castro Laboreiro é pertencente, datam de 5000 a.C. As provas desta presença consistem nos túmulos megalíticos, tais como as mamoas, as antas ou as cistas, existentes nos planaltos de Castro Laboreiro e de Mourela, e também nas serras da Peneda, Soajo e Gerês (Rocha, J., 1993: 121). Com efeito, foi na região em estudo que se verificou o surgimento sucessivo de duas culturas com grande relevo – a dolménica e a castreja (Rocha, J., 1993: 122).

Verifica-se então que os aglomerados populacionais de Castro Laboreiro tiveram provavelmente génese nos castros, povoados que datam do final da Idade do Bronze, tendo o seu apogeu com a Idade do Ferro (Marcos, J., 1996:29). Com efeito, várias características, como a nomenclatura dos povoados, a sua posição geográfica, as técnicas, a pobreza do meio, entre outras, são reflexo da influência da “primitiva civilização castreja-céltica, ramo Noroeste Peninsular, que teria nos altos pontos montanhosos a sua principal área de expansão” (Geraldes, A., 1996:12). O isolamento da comunidade de Castro Laboreiro fez com que esta conquistasse individualidade; por outro lado, não pôde usufruir de técnicas agrícolas mais avançadas e de uma vida económica melhor. Enquanto que outras regiões do país tiveram grande influência da civilização romana, tal não aconteceu neste local, verificando-se a inexistência da regularização da divisão do território, do espalhamento da população, do surgimento da urbanização e das funções da mercantilização (Geraldes, A., 1996:12).

Embora a vertente da defesa fosse de grande importância, os castros reflectiam igualmente a sedentarização, com a domesticação de animais e o cultivo; estas actividades ainda hoje são praticadas por alguns dos habitantes de Castro Laboreiro. Os castros normalmente edificavam-se à beira-mar ou junto aos rios, aqueles que se encontravam no interior (Silva, A., 1983: 121).

As habitações castrejas originais possuíam planta circular, típica do empirismo natural do Homem. Outra razão para terem esta forma é a de que os habitantes da época não tinham conhecimentos construtivos e técnicos que lhes permitissem edificar uma planta rectangular; só com a Celtização é que se adaptou essa tipologia (Marcos. J., 1996:71). No entanto, apesar da simplicidade, consegue-se encontrar nos castros nortenhos variações ao nível da “forma, altura e natureza das paredes, tipo de aparelho e cobertura, etc., conforme as regiões e os povoados, os materiais naturais – o granito, o xisto, o barro, a madeira…” (Dias, J., 1946: 75)

As descrições iniciais relativas à primeira grande mudança dos edifícios de Castro Laboreiro remontam a finais do século XVIII; a maioria das habitações seriam caracterizadas pela sua simplicidade, quer ao nível da forma, quer da estrutura, relacionando-se com as casas rudimentares existentes em diversas regiões da Europa Medieval (Chapelot e Fossier, 1980: 222, 223, cit. in Lima, A., 1996: 31). Estas habitações apresentavam principalmente três materiais: a pedra (granito), a madeira (carvalho) e o colmo (palha centeia). Possuíam um único piso, assim como uma só divisão, sendo o solo em terra batida. Ao contrário do que viria a existir em tempos posteriores, as cortes do gado ficavam em anexo (Lima, A., 1996: 31).

De acordo com a autora Alexandra Lima, este período representa uma primeira mudança significativa nas tipologias das habitações presentes em Castro Laboreiro, sendo que a segunda corresponderia às alterações efectuadas pelos emigrantes em meados do século XX. Assim, as casas estudadas neste trabalho correspondem às que restam (sem modificações) após o século XVIII (Lima. A., 1996: 31).

 

UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

A SUSTENTABILIDADE E REABILITAÇÃO DA ARQUITECTURA VERNACULAR – INTERVENÇÃO NA INVERNEIRA DE PONTES

JOÃO DANIEL DA PONTE MARTINS GRAÇA DE MATOS

DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

PORTO, 2013