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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

ALMAS CASTREJAS

melgaçodomonteàribeira, 25.02.23

830 b -Castro Laboreiro, Largo da Igreja - Princí

AMENTAR AS ALMAS

 

O mesmo que encomendar as almas, ementar as almas e obradório (Castro Laboreiro). Lembrar os nomes das almas para as encomendar a Deus. A encomendação é realizada dentro de um signo-saimão, para o operador não ser tentado pelo diabo, concluindo a cerimónia com a exclamação:

«Peço um Padre Nosso e uma Avé Maria por todas as almas em geral que estão nas penas do purgatório», seguida da respectiva recitação em voz muito alta.

Em Castro Laboreiro, consoante informação de Leite de Vasconcelos (Etnografia Portuguesa, livro III, p. 319), um homem ia (às quartas e sextas-feiras, de noite) a um lugar ermo e alto, armado, «por causa das coisas más», fazia um signo-saimão no chão, de modo que uma árvore ficasse no meio dele, subia a ela e, em voz fúnebre, entoava um cântico religioso, com o qual provocava medo a quem o ouvisse.

 

PORTUGAL SOBRENATURAL

Manuel J. Gandra

 

FIÃES E PARADA DO MONTE

melgaçodomonteàribeira, 18.02.23

850 b branda mourim - parada.JPG

  branda de mourim  parada do monte

  1. Setembro.

 

Doação conjunta de Afonso Pais e outros consortes, que legam ao mosteiro de Fiães o território da actual freguesia de Parada do Monte, especificando os seus limites.

 

BRAGA, AD – Cartulário do Mosteiro de Fiães, fl. 15v.

Xesús Ferro Couselo, Tumbo de Fiães, Boletín Auriense, Anexo 20

Museo Arqueolóxico Provincial, Ourense, 1995, pp. 59-60

 

(…) Eu Afonso Pais e minha mulher Urraca Dias a vós Abade Fernando e todos os vossos sucessores do Mosteiro de Fiães. Fazemos carta de testamento da nossa herdade própria que compramos a Goina Midici e Pedro Minici e Paio Minici seus sobrinhos, a saber a oitava parte de Parada. Depois eu Afonso Pais juntamente com meus irmãos e meus sobrinhos temos a quarta parte da sobredita herdade; eu Afonso tenho ainda dois quinhões um meu e de meu irmão Álvaro Pais porque o nosso rei D. Afonso me deu em herdade toda a sua herdade e porção. Além disso eu Afonso Pais e Mendo Pais juntamente com nossas irmãs. Eu Fernando Joanes com meu irmão. Eu Martinho Bernardes com minhas irmãs e sobrinhos. Eu Pedro Peres, com meu irmão Gomes, nossas irmãs e sobrinhos. Eu Pedro Garcia e Afonso Garcia com nossos irmãos e irmãs. Eu Mór Mendes e Órega Mendes. Eu Maria Pais. Eu Urraca Peres juntamente com minhas irmãs. Nós todos sobreditos vos doamos toda a sobredita herdade como a puderdes identificar, por remédio das nossas almas e das de nossos pais. São seus limites: pelo Mourilhão e daí ao Curro de Abril e daí a Fervença e daí ao Parte-Águas daí desce pelo rio Menduro, e fecha no Mouro (…)

 

OS LIMITES DA FREGUESIA DE LAMAS DE MOURO E OS CAMINHOS DA (IN)JUSTIÇA

José Domingues

1ª Edição

Novembro 2014

p. 174

TRANSUMÂNCIA EM CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 11.02.23

teso cl.jpg

teso

MOVIMENTOS TRANSUMANTES DA POPULAÇÃO ENTRE AS BRANDAS E INVERNEIRAS

 

“Em várias das serras existem, como nas montanhas galegas e asturianas, brandas ou brañas, umas de cultura (centeio, milho, algumas fruteiras), outras de pastagem de gado miúdo (Raquel Soeiro de Brito). Casas toscas, de pedra solta, sumariamente divididas e mobiladas, servem para habitação de umas semanas de Verão ou quando a família sobe, por uns dias, a amanhar a terra. Casas e terras pertenciam sempre a gente das aldeias próximas, que aí tem as suas habitações fixas e as casas de lavoura permanentes. Só na Serra da Peneda, em torno da vila do antigo concelho de Castro Laboreiro, existem povoações desdobradas: umas três fixas, a 900-1000 m, são habitadas todo o ano: para o norte ficam as brandas (de venerata), povoações de Verão, habitadas até ao princípio do Inverno, onde se cultivam centeio e batatas e apascentam gados, para o sul, num veleiro fundo e apertado, as inverneiras, com campos de milho em alternância com prados, batatas, umas quantas parreiras junto às casas e algumas árvores de fruto. A grande descida faz-se pelas vésperas do Natal, os gados pelo seu pé, as pessoas também, os trastes armados em carros de bois e até o gato atado a um fueiro por uma guita. As casas da inverneira são mais sumariamente construídas, de tosca pedra solta e telhado de colmo, e as pessoas sentem-se menos à vontade «porque as terras são mais apertadas». Uma grande confusão introduzida por casamentos e heranças faz com que brandas e inverneiras não correspondam exactamente, havendo vários habitantes de uma branda que descem a várias inverneiras e vice-versa. Por Abril voltam à serra, vindo às inverneiras por poucos dias olhar o milho, apanhar as batatas, regar o feno e fazer o vinho.” (Ribeiro, 1995: vol. VI, 293-294)

 

O rio Laboreiro constitui o principal elemento ordenador da disposição das brandas e das inverneiras no território. As brandas localizam-se a norte, na parte montante do rio e seus afluentes – precisamente naquela porção de território que avança sobre a Galiza. Já as inverneiras localizam-se a sul, na parte jusante. Também junto ao rio e a meia distância entre as brandas e as inverneiras localiza-se o lugar de Castro Laboreiro – a sede da freguesia – que é um lugar fixo, tal como outros que se localizam um pouco a norte, a montante do rio e imediatamente antes de um conjunto de brandas.

Dentro do clima genérico, que caracteriza a região, formam-se os microclimas próprios e individualizados que variam conforme a altitude dos lugares. As brandas são procuradas durante as estações do ano mais quentes, onde o clima possibilita a pastorícia e o cultivo das terras. Já as inverneiras são procuradas durante as estações do ano mais frias que, devido à sua localização nas partes mais baixas da montanha, são lugares seguros e aconchegantes, onde as encostas do vale protegem os aglomerados da neve e do frio, (Geraldes, 1996: 23).

As brandas encontram-se junto às ribeiras do planalto, nas vertentes das montanhas ou nas lombas junto aos vales e a altitude da sua implantação varia entre os 1000 e 1200 metros. As brandas de Castro Laboreiro são brandes de cultivo e pastoreio, acolhem o pastor, a família, os animais e os respetivos utensílios pessoais. O aspeto «airoso» das brandas, a localização geográfica, o clima, a qualidade dos solos e a possibilidade de expansão das áreas de cultivo, transformam as brandas em locais de eleição para viver, (Geraldes, 1996: 17-19).

As inverneiras implantam-se no vale, a uma altitude compreendida entre os 750 e 1000 metros. São lugares acolhedores e protegidos das intempéries. Estas são procuradas quando as temperaturas ficam negativas e impossibilitam tanto ao homem como aos animais permanecerem nas brandas, (Geraldes, 1996: 19). As inverneiras implantam-se em vales, logo abaixo da superfície do planalto ou mais distantes, encontram-se abrigadas do vento frio e expostas ao clima favorável do meio-dia invernoso, (Ribeiro, 1991, vol. IV: 254).

A ocupação da branda é feita por altura da Páscoa. A população permanece no planalto cerca de 9 meses até à chegada do Natal, altura em que toda a população deve já ocupar as inverneiras.

O meio das brandas é favorável à agricultura e à criação de gado, a existência de água, o clima tão peculiar, o relevo, a arborização e as zonas de montanha, permitem o cultivo e extração de bens da terra. Das terras de montanha extrai-se essencialmente milho, centeio e, por vezes, também a batata, enquanto o trigo se extrai preferencialmente de locais húmidos e férteis. As áreas para cultivo são divididas em barbeitos e leiras, prados e hortas.

A ocupação sazonal proporcionou vivências próprias e únicas, que culminaram num tipo de arquitetura característico de Castro Laboreiro. O clima inóspito e a topografia acidentada fizeram com que, além do duplo povoamento, a arquitetura se caracterizasse pela sobriedade e pela racionalidade, não só ao nível da habitação como também do aglomerado populacional no seu conjunto, (Território Povoamento Construção Manual, 1999: 29-32).

 

ARQUITECTURA DE TRANSUMÂNCIA: ENTRE AS BRANDAS E INVERNEIRAS DE CASTRO LABOREIRO

Vânia Patrícia Sousa Reis

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

Universidade Lusíada do Porto

Porto, 2014

 

O SÁBIO DE VILADRAQUE

melgaçodomonteàribeira, 04.02.23

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canastro em viladraque

AFONSO, MANUEL

Conhecido por Sábio de Vila Draque (Paços, Melgaço). Natural de Castro Laboreiro, falou no ventre da mãe, circunstância que lhe conferiu a virtude, manifestada aos seis anos de idade de adivinhar (mediante cartomancia) e curar.

Informa Leite de Vasconcelos (Etnografia Portuguesa) que a sua terapêutica se baseava nuns pós de santos, aos quais chamava negrozelo, fornecidos por frades espanhóis de Cela-Nova.

Com tais pós embrulhados num papel, fazia curas do ombro direito para o joelho esquerdo e do ombro esquerdo para o joelho direito, dizendo:

«Negrozelo (i. e., ó doença! ó mal!)

Vai-te embora deste corpo,

Deixa-o são e salvo,

Com pós de santos e negrozelo»

Também curava dor de dentes, de ossos e de pés, com pedra-de-ara, embrulhada em papel e movendo-a em cruz.

 

PORTUGAL SOBRENATURAL

Manuel J. Gandra