CASTRO LABOREIRO – ENQUADRAMENTO HISTÓRICO I
O TERRITÓRIO
A síntese histórica que se segue procura agregar em linha cronológica os eventos que tiveram lugar na área territorial de Castro Laboreiro. Como nem sempre as fontes permitem a elaboração de uma cronologia específica e linear, o texto que se segue situará o território no Norte peninsular, no noroeste hispânico, nas montanhas do Alto Minho interior, na Calécia, na Galiza e no território nacional, conforme foi possível enquadrá-lo na historiografia, esperando que daqui resulte uma brevíssima história local, prolongada no tempo, desde a ocupação romana deste território. Enumeram-se também elementos patrimoniais das diversas épocas, que substituem até hoje, por funcionarem como indicadores cronológicos na ausência da informação documental e reforçarem a existente.
Relativamente à ocupação humana do território de Castro Laboreiro, sabe-se que desde a pré-história tem sido palco de sucessivas ocupações. Os vestígios megalíticos de culto funerário situados no planalto a nordeste de Castro Laboreiro, o povoado castrejo a sudeste do castelo (cujas fundações datam da Idade do Ferro), e outros elementos, como o altar de cremação do Alto da Cremadoura, assim o indicam. As escavações arqueológicas locais desvelaram uma linha contínua de ocupação de vários povos, subsequentes a este período e prévios à fundação da nacionalidade, como os romanos, suevos e visigodos. Durante a época romana havia duas grandes áreas, a bracarense, mais urbana e civilizada, e a lucence, mais selvagem, contudo, a vinda dos povos suevos e visigodos alterou este panorama dando origem a uma maior concentração e dispersão dos núcleos habitacionais intercalares dessas duas regiões. Neste contexto histórico, o território de Castro Laboreiro situou-se entre as cidades de Bracara Augusta e Lucus Augusti, fazendo uma transição daquilo que seriam as duas grandes regiões citadas.
Mais tarde, após a vinculação visigoda ao cristianismo e sua definitiva ocupação do noroeste português, quando os reinos godos se confrontam com as invasões muçulmanas, “a organização territorial e administrativa introduzida e fixada pela implantação do sistema paroquial com S. Martinho de Dume não podia, no entanto, deixar de contribuir para dar grande solidez à distribuição dos principais centros e dos povoados que deles dependiam,” (Mattoso, 1997, p. 396).
Relativamente ao legado romano este encontra-se presente nas variadas pontes e pavimentos estrategicamente distribuídos em todo o território da freguesia, pela Geira, situada na proximidade do território e pelo forte romano, Aquis Querquennis (“a Cidá”), situado em Baños, Concelho de Ourense, que terá sido construído para vigiar uma das vias que ligava a Bracara Augusta e para controlar a região. Dada a sua proximidade a Castro Laboreiro, este terá exercido influência sobre o território. Os vestígios suevos e visigóticos (séc. V-VI) encontram-se na política pública (direito visigótico; vindo do baixo império romano), nas liturgias e na arquitectura religiosa cristã. O povoado a sudeste do castelo é um forte indicador da presença destes povos, pois a quadratura das estruturas a par com outros elementos exumados durante as escavações arqueológicas revelam também presença romana e visigótica, além da ocupação humana durante a idade do ferro (Lima, 1996).
As invasões muçulmanas de 711, diluem a ocupação sueva e visigótica e acentuam o carácter rural do território noroeste hispânico, não por influência directa, pois a economia dos grupos dominantes do norte peninsular baseava-se no intercâmbio dos géneros e bens provenientes do saque e despojo militar resultante das constantes guerras, era incompatível com a economia urbana do Sul: “tudo leva a crer que o váli de África e os chefes árabes e sírios estivassem muito mais interessados nas cidades das antigas províncias da Bética e da Tarraconense do que nas selvagens montanhas do Noroeste, difíceis de controlar militarmente e bem poucas rendosas para uma economia monetária como a do mundo muçulmano” (Mattoso, 1997, p. 397). Contudo, a influência árabe no território de Castro Laboreiro faz-se sentir através da toponímia, do vocabulário, das lendas e em algumas práticas gastronómicas como o bolo da pedra, entre outras influências de carácter mais generalista como a numeração, por exemplo.
Em meados do séc. XVIII, as guarnições muçulmanas do Ocidente Peninsular, incluindo as da Galécia, rebelaram-se contra os seus chefes por motivos relacionados com injustas distribuições de terras, e por motivos religiosos. “As tropas colocadas na Galécia, abandonaram as suas fortalezas e não se saber sequer se voltaram a ser ocupadas. A sua revolta desencadeou uma guerra civil, que durou até 756” (Mattoso, 1997, p. 397). A debilidade da ocupação islâmica foi perturbada sobretudo na parte final pelo rei Afonso I (739-757 d. C.), das Astúrias. As cidades “reconquistadas” enumeradas na Crónica de Afonso III abrangem praticamente todos centros urbanos de alguma importância situados entre as montanhas cantábricas e a margem sul do vale do Douro, onde se situam também os montes do Laboreiro. A Crónica atribui-lhe também a iniciativa de levar consigo para o Norte a população cristã de todas as cidades. O chamado “repovoamento”, nas suas diversas expressões, fez também uso da presúria, contudo, nas zonas montanhosas do Noroeste peninsular “algunas comunidades rurales se verían libres de presión, pudiendo organizar sus espacios de producción de forma más autónoma y con menor – o ninguna – carga fiscal. Se trataria de “comunidades castreñas de montañas”, instaladas em castros de origen prerromano o romano, que se sitúan en el centro de un valle rodeado de altos montes, donde predomina el bosque y los pastos de montaña” (González, 2001, p. 24). Neste caso o autor exemplifica com o caso de Castro Pelaggi (Valdoré), mas também Mattoso (1997) refere as zonas montanhosas do Entre Douro e Minho (Peneda, Laboreiro, Gerês, Gralheira, Cabreira, Marão e Montemuro), como potencialmente excepcionais. Em suma, a Reconquista cristã, é um momento de oportunidade que aproveita a debilidade das forças muçulmanas e que se inicia com as guarnições visigodas refugiadas nas montanhas asturianas nesta altura organizados com os dirigentes do reino das Astúrias sob o comando de Afonso I. Este é o processo que desencadeia a formação das primeiras monarquias do Norte peninsular que por sua vez darão origem ao reino de Portugal.
(continua)