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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

SOMOS TODOS MELGACENSES

melgaçodomonteàribeira, 30.12.22

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RESIDENTES E EMIGRANTES EM MELGAÇO

 

No que diz respeito a Melgaço, o maldizer, o “cortar na casaca”, constatado por A. Gonçalves (1996), era arremetido pelos residentes, sendo que até os emigrantes contavam anedotas de si próprios, embora as remetessem para os “maus emigrantes”, despersonalizando a questão. Nos grupos sociais estudados por A. Gonçalves (1996), os mais cáusticos eram os diplomados. Em Melgaço, portanto, tratava-se de restituir a ordem social simbólica, uma vez que os emigrantes tinham ascendido socialmente, introduzindo elementos culturais distintos e distintivos. Contudo, era-lhes negado o novo estatuto social, a sua ascenção assentava no capital económico e não no cultural, o qual é, segundo Bourdieu (1997), o detentor da “tradição”.

Uma outra forma de discriminação directamente relacionada com o maldizer será o distanciamento espacial e relacional. Em Melgaço, esta foi uma das principais consternações observadas por A. Gonçalves (1996), uma vez que os grupos ocupavam espaços diferentes. Na obra de Elias e Scotson (1994), o fenómeno da separação comunitária era acutilante. Em Melgaço, ao contrário do estudo de Elias e de Scotson (1994), é nos espaços públicos que o conflito agonístico aflora: … é num outro enquadramento, o da vila e das festas de Verão, que eles são preferencialmente atacados”. (Wateau, 2000, p. 194). Em Melgaço, a separação espacial parece apenas operar em alguns locais públicos, até porque a emigração é transversal à maioria dos núcleos familiares. Como se terá oportunidade de contatar, ao contrário da localidade estudada por Elias e Sctson (1994), não se assiste a uma segregação espacial entre os grupos, até porque o povoamento, aqui, é disperso. Em Melgaço, não existem, pois, áreas naturais, no sentido de: “… espaços homogéneos, não planificados, cuja ocupação natural deriva da diferença entre os grupos sociais.” (Maia, 2003, p. 47). Ora, os indivíduos podem pertencer a diferentes grupos, os quais se interligam e se interpenetram. Ainda no registo espacial, segundo Wateau (2000), apesar do verão ser uma época seca, será o factor relacional que faz emergir os conflitos agonísticos resultantes da partilha da água de rega, uma vez que é nesta estação que as pessoas se juntam para discutir a posse da água e que também regressam os emigrantes, ou seja, que as trocas relacionais se intensificam. É, pois, o período propício para a redefinição das disposições sociais, até porque os emigrantes regressam para cuidarem dos seus interesses. De acordo com Hall (1986), o excesso de população é correlativo ao aumento dos comportamentos agressivos por parte dos animais e dos seres humanos. Hall (1986) distingue quatro tipos de distâncias interpessoais: a íntima, a pessoal, a social e a pública. No que diz respeito à emigração, para além do aumento periódico da população, os emigrantes reencontram-se festivamente em situação de férias com os amigos, com a família, o que propiciava o desvio comportamental comparativamente ao resto dos melgacenses.

Por último, a questão do maldizer constatado por A. Gonçalves (1996) e por Wateau (2000), em Melgaço, remeteu a análise da problemática  para a inveja, A inveja emerge como a forma fundamental do conflito social se manifestar: “Para explicar a existência do conflito que os rodeia, assim como de outros tipos de infortúnios, os minhotos recorrem frequentemente ao conceito de inveja.” (Pina-Cabral, 1989, p. 202). Ora, sendo parte constitutiva da sociedade melgacense e do Alto-Minho, não poderia ser apontada como um elemento diferenciador entre residentes e emigrantes. A inveja, tal como o maldizer, é, aqui, encarada como uma forma de agressividade se manifestar de modo agonística, isto é, atenuada, permitindo não romper os laços relacionais, as interdependências sociais, tentando conservar as relações (de poder) entre os intervenientes. Neste sentido, a função da inveja será a destruir o dinamismo social do outro, visando que o outro se transforme de novo num igual e não em alguém afigurado como um rival (Pina-Cabral, 1989). Em qualquer caso, a inveja parece remeter, de imediato, para a mobilidade social ascendente e a ostentação subjacente, assim como para a aculturação dos emigrantes, ou seja, para a parte visível desta: o uso da língua estrangeira, a casa, o carro e o modo de estar.

 

 

OS EFEITOS DO VAIVÉM DA EMIGRAÇÃO CONTINENTAL:

UM ESTUDO DE CASO EM MELGAÇO

 

Joaquim Filipe Peres de Castro

 

Universidade Fernando Pessoa

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

Porto, 2008

 

Dissertação (…) para obtenção do grau de Mestre em

Psicologia da Saúde e Intervenção Comunitária

 

IN FINIBUS GALLECI

melgaçodomonteàribeira, 23.12.22

867 b celanova.jpg

IN FINIBUS GALLECIE 

A RECONQUISTA NO ACTUAL TERRITÓRIO PORTUGUÊS

O CONTEXTO DE UM PROCESSO DINÂMICO, 868 -1064

 

José Alexandre Ribeiro de Sousa

Tomamos como exemplo a expressão subtus monte. A mesma é reflexo da intensa militarização do espaço a Sul do Minho, concretamente nas regiões em torno do eixo Braga-Guimarães, junto dos caminhos de tradição romana, bem como, na região da Feira e nos acessos a Ponte de Lima, tudo vias de penetração das aceifas mouriscas em direcção ao Sul da actual região do Minho e fenómeno ainda parcialmente desconhecido quanto à sua dinâmica de implantação. Curiosamente, e para o território da actual Galiza, tal expressão poderá ser encontrada com alguma frequência, e para cronologias mais precoces, mas nunca com a intensidade revelada logo após as presúrias levadas a efeito no Portugal actual.

Não querendo individualizar nem particularizar casos concretos, não podemos deixar de assinalar, pela sua pertinência e aproximação à realidade encontrada por Carlos Alberto Ferreira de Almeida nos PMH (Portugalia Monumenta Histórica), o caso das propriedades do mosteiro de Celanova.

São inúmeros os documentos onde sobressai o monte Leporario (Castro Laboreiro), não pela sua elevação particular, pois o mesmo não se destaca na orografia dominante, mas por ter sido um espaço ordenador da região em seu redor, tal como refere São Rosendo quando relembra, em Setembro de 942, a fundação do mosteiro, “… construi monasterium ad calcem montis Leporarii, olim dictus Uillare nuper autem Cellenouenses nomine peribetur” e, numa doação de bens efectuada pelos seus pais em Janeiro de 941, “… in cuius nomine monasterium esse dinoscitur dicto Cellanoua, territorio uocabulo ad crepidinem montis Leporarii. Podemos igualmente aportar ouro exemplo, datado de Maio de 927, e referente a uma propriedade localizada na actual paróquia de Sorga (Ourense), não muito distante de Celanova, “… cuius baselica sita est in uilla que uocitant Sancto Petro, iuxta rivilum Sorica et sub monte Leporario.

 

Universidade de Lisboa

Faculdade de Letras

Departamento de História

Dissertação de Mestrado em História

Lisboa, Maio de 2016

 

SANTA CASA DA MISERICÓRDIA ANO DE 1724

melgaçodomonteàribeira, 17.12.22

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RECEITA E DESPESA DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE MELGAÇO

REFERENTE AO ANO DE 1724

 

ARQUIVO DA MISERICÓRDIA DE MELGAÇO – LIVRO DE RECEITA E DESPESA (1717-1749)

 

Despeza que fes o thizoureiro Antonio Gomes de Abreu no dircurço do seu anno de settecentos e vinte e quoatro.

Item despendeu com o capellão mor, o padre Lucas de Abreu, de cappellas que dis, ordenado e missas paticulares, quinze mil quinhentos sasenta e sinco                    15565

Item com o padre Antonio Pinto nove mil e satenta e sinco e se lhe fica devendo para ajuste de suas contas todas athe o anno desta de settecentos e vinte e quatro, nove mil quinhentos e cinquenta                                                                                                09075

Item com o padre Bento de Araujo tres mil reis                                                             03000

Item com o padre Manuel Pinheiro quatro mil reis                                                       04000

(.46v) Pagamento a elle ditto padre com elles se deu por pago do que se lhe devia dos quoatro annos excepto huma cappella que se lhe ficou devendo no anno 719 ou 720   

                                                                                                                                                 22200

E habatidos os ditos vinte e dous mil e duzentos, dos vinte e sinco mil e oitocentos que se achou estava devendo o ditto seu pay de juros do anno de 718 athe o de 724, por athe o anno de 718 mostrar ser satisfeito por cartas de pago que mostrou do thizoureiro Belchior de Castro, fica tam somente devendo o ditto seu pay athe o ditto anno de 724, tres mil e seiscentos reis salvo erro.

Item mais com o padre Bento de Araujo settecentos e sinquenta que se lhe estava devendo.                                                                                                                                00750

Item mais com o padre Bernardo de Araujo quoatrocentos e sinquenta de resto  00450

Item mais com o padre Manuel Alves da Silva dous mil e sesenta e dous reis e meio a conta do que se estava devendo e se lhe fica devendo dous mil duzentos e setenta e tres                                                                                                                             02062 e meio

(.47) Item com o officio dos fieis de Deos mil e setenta reis                                        01070

Item com o officio de S. Martinho tres mil seiscentos e vinte                                     03620

Item com as missas de Natal novecentos e sasenta reis                                               00960

Item com a festa de Santa Izabel tres mil duzentos e vinte                                          03220

Item com o reytor de Crasto, de dous anos que se lhe devião que importavam doze mil reis, mil e trezentos que com mil e duzentos que ja tinha recebido faz soma de des mil e quinhentos                                                                                                                         09300

Item com o legado do senhor de Crasto dous mil reis                                                  02000

Item com o famulo da Caza des mil duzentos e sette reis                                            10207

Item com Francisco Cerqueira de Monção, de armar os Passos, tres mil e cinquenta

                                                                                                                                                 03050

Item com os passageiros pello discurço do anno mil quinhentos e cinquenta         01550

Item com o gasto dos penitentes que se fes na ocasião dos Passos mil e trezentos reis     

                                                                                                                                                 01300

(.47v) Item com o trombeta duzentos e quarenta reis                                                  00240

Item com o mordomo de tanger os sinos duzentos e quarenta reis                           00240

Item com os portadores que forão a Monção settecentos e oitenta                         00780

Item com hum coco de olandilha e factura delle mil seiscentos e satenta               01670

Item com pregos, tacha e guitas tresentos e oitenta reis                                            00380

Item com incenso e papel duzentos e noventa reis                                                      00290

Item com hum alqueire de centeyo duzentos e quarenta reis                                    00240

Item com os monitorios e declaratorias oitocentos e oitenta seis                             00886

Item com os dous que vierão para os anjos e sacerdotes tres mil quatrocentos e sinquenta e sinco                                                                                                                  03455

Item com Manuel de Neiva, da muzica, oito mil reis                                                     08000

Item com o alcaide Manoel Soares e o tabelião Antonio da Rosa dous mil quatrocentos

                                                                                                                                                 02400

(48) Item com Francisca Quintella de resto de dous anos de vinho que deu para as missas e esmola que se costuma dar a Anna Soares dezasseis mil quoatrocentos e satenta reis                                                                                                                            16470

Item com o azeite dos novellos de Quinta Feira Santa trezentos e sinquenta          00350

Item mais em esmolas particulares que se derão em dia de Santa Izabel dous mil e quoatrocentos reis                                                                                                               02400

Item com o cappitam Antonio da Silva que se lhe ficou devendo do seu anno sinquo mil novecentos e quoarenta e sinquo                                                                                     05945

Item com cera que se gastou no discurço do anno trinta e sinquo mil quinhentos e vinte                                                                                                                                        35520

Item com o padre Francisco de Abreu sette mil reis que se lhe estavão a dever, quoatro do anno de Antonio Silva, da cappela dos Domingos e tres mil reis da capella que disse em settecentos e vinte e quatro, os quoais sette mil reis com quinze mil trezentos setenta e sinco que mostrou o pay (. 48v) do ditto padre per cartas de pago feitas por Belchior de Castro, das quais se mostrava ter satisfeito os juros athe o anno de setecentos e dezoito e estes lhe serem carregados em rol, porem vistas as pagas se houve por descarregado deles e com a dita quoantia assim huma como outra os juros per pagos e satisfeitos athe o anno de settecentos e vinte e tres anos incluzive, somentes athe o ditto anno fica devendo tres mil e trezentos e sinquoenta reis de todos os juros, como milhor se pode ver dos habatimentos que se lhe fes nos anos atras nas cappellas que disse, excepto o resto que dei o reverendo e lhe ficou devendo o thizoureiro Hieronimo Ribeiro do anno de 719 e 20.

Achou elle provedor e irmãos que importava a carga atras a folio 45 in fine 445196 reis e que destes se devia habater mais quinze mil trezentos settenta e sinquo que nos rois se lhe deu por erro, tendo-os pagos o sobredito thizoureiro ao thizoureiro Belchior de Castro, como constou das cartas de pago que apresentou, que habatidos estes dos 445196 reis fica somente carregando sobre elle 429821 reis.

(. 49) Acharão que somava a despeza atras feita pello thizoureiro Antonio Gomes de Abreu, cento digo duzentos e seis mil quoatrocentos e quarenta e sinco reis adonde entrão vinte e sette mil reis que se tirou do proprio que com eles se pagou ao reverendo  padre Salvador Gomes Lobarinhas de tres anos que se lhe devião das cappellas.

Habatidos dos duzentos e seis mil quoatrocentos e quarenta e sinco reis, os vinte e sette mil reis do proprio fica liquido para se abater, do que se cobrou cento e setenta e nove mil quoatrocentos e quarenta e sinco e meio                       Despeza 179445 e meio

Habatidos estes do que se cobrou que são cento noventa e seis mil settecentos e settenta e hum e meio fica devendo de entregar ao thizoureiro novo dezassette mil trezentos e vinte e seis e meio alem do proprio e dividas que não cobrou que da em rol que faz a importancia o ditto rol  que da de duzentos e vinte e seis mil oitocentos e quatorze reis que juntos aos dezassete mil trezentos e vinte e seis mil e meio faz tudo soma de duzentos e quarenta e quoatro mil cento e quarenta que de tantos deve de dar conta o sobredito thizoureiro assim em dinheiro                                                 244140

(. 49v) Como em divida, alem do proprio de que deve de dar tambem conta.

E por esta maneira houveram elle provedor e mais irmãos abaixo assinados da Meza esta conta por feita e acavada e ao sobredito thizoureiro por desobrigado, de que para constar mandarão fazer este termo de emsarramento que elles assinarão. Bernardo Pereira Sottomayor, escrivão da Meza, o escrevy.

(Assinaturas)

Gabriel Lopes Ferreira, provedor.

Antonio Gomes de Abreu.

Bernardo Pereira Sottomayor.

Pedro de Sousa Bogarte(?).   

                                                                                                                                                                                     

ORDEM DO HOSPITAL EM LAMAS DE MOURO

melgaçodomonteàribeira, 10.12.22

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As primeiras referências escritas ao couto de Lamas de Mouro, por seu turno, surgem em meados do século XIV. Duas confirmações aos párocos da sua igreja, feitas em Tui (Espanha), continuam a ser os testemunhos escrito mais arcaicos da existência de uma comunidade humana organizada no seu espaço territorial: por denúncia do anterior reitor Estevão Martins, no dia 21 de Abril de 1355 o bispo de Tui confirmou, por apresentação do prior da Ordem do Hospital de S. João de Jerusalém em Portugal, Estevão Eanes de Ceivães como pároco da igreja de Lamas de Mouro – testemunha presente o procurador do bailio do Hospital de Jerusalém – ; falecido o pároco supra referido, foi apresentado pelo prior da Ordem o clérigo Gonçalo Nunes de Melgaço, confirmado pelo bispo de Tui no dia 29 de Setembro de 1362.

Enquanto não surja documento comprovativo, a minha convicção gratuita é de que o Couto de Lamas de Mouro terá sido outorgado por decisão régia à Ordem do Hospital por questões de estratégia militar e defesa do próprio reino. Trata-se de um vale cavado entre ásperas montanhas, encostado à raia seca com Galiza, de forma que a sua situação geográfica e morfológica converte este exíguo espaço territorial no estreito por onde mais facilmente poderia penetrar uma invasão dirigida ao entre Lima e Minho – assim rezam alguns documentos e outros relatos mais fabulosos, que não podemos estar agora a desfiar. – O facto de ser coutado aos cavaleiros maltezes seria um tampão aos intentos invasores mais audazes, fechando a linha defensiva entre os castelos de Melgaço e Castro Laboreiro.

 

OS LIMITES DA FREGUESIA DE LAMAS DE MOURO E OS CAMINHOS DA (IN)JUSTIÇA

José Domingues

1ª Edição

Novembro 2014

 

PONTES CELTA E CAVA DA VELHA

melgaçodomonteàribeira, 03.12.22

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ponte cava da velha

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ponte celta

PONTES DE CASTRO LABOREIRO

O planalto de Castro Laboreiro, desde sempre, se revelou de grande importância na vida de diferentes civilizações como testemunham os vestígios e obras que se distribuem pela paisagem castreja como, por exemplo, os nichos de monumentos tumulares, ou, o conjunto de pontes em que, pelo menos, um efectivo de dez está, muito provavelmente, associado a civilizações tão distintas, como a celta, a romana e a medieval.

Pontes interligadas por eixos de comunicação ao exterior, muitos deles, boas amostras de uma rede complementar implementada possivelmente pelos romanos, que ligava o território castrejo à via Bracara Augusta – Astorga, que atravessa a área em investigação, sensivelmente entre Portela do Homem e o Torno.

Do conjunto das dez pontes castrejas, destacamos a classificada como monumento nacional, a ponte da Cava da Velha, ou, Nova, e a única em estilo celta em Portugal, a ponte Celta dos Portos.

Aquela, a ponte da Cava da Velha, muito próxima de um antigo castro, o da Cava da Velha, possivelmente um monumento romano que na Idade Média teria sido reconstruída, une as duas margens do rio Laboreiro, das quais emana uma calçada, aparentemente romana, que atravessa uma área isolada, coberta por vegetação, em que sobressaem as giestas.

A envergadura desta obra inserida numa área em que se torna evidente o isolamento, poder-se-á entender, se recuarmos à época romana, pelas legiões necessitarem de passagens resistentes a fim de garantirem deslocações rápidas e seguras.

Independentemente dos motivos que justificaram a respectiva construção, a arquitectura associada à austeridade do material que a constitui, o granito, confere-lhe uma majestosidade, que lhe permite integrar-se na paisagem como uma beleza e elegância únicas.

A ponte Celta dos Portos, a única em estilo celta do país, une as duas margens do ribeiro dos Portos, precisamente, nos Portos de Cima, das quais parte uma calçada aparentemente romana em direcção à Galiza, concretamente a Bande. De arquitectura simples, apresenta uma beleza rara e discretamente se integra numa paisagem, que é agreste, mas, simultaneamente, acolhedora.

Elementos de uma rede viária, cujas idades, apesar, de não serem, ainda, bem precisas, reportam-nos, sempre, a civilizações longínquas, o que nos permite colocar a hipótese de que Castro Laboreiro assumiria, nessas épocas, uma posição de hinterland no espaço peninsular.

 

LIMA INTERNACIONAL: PAISAGENS E ESPAÇOS DE FRONTEIRA

VOLUME I

Elza Maria Gonçalves Rodrigues de Carvalho

Tese de Doutoramento em Geografia

Ramo de Geografia Humana

Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

Julho de 2006