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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

FÁBRICA DE CHOCOLATE EM CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 27.08.22

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CARABEL

Falar dos “Carabel”, alcunha da família castreja Alves, é falar de chocolate. A 26/4/1908 Domingos António Alves “Carabel” (1866-1919), funda (com seu irmão Germano) a Fábrica de Chocolates Carabéis, (nesse edifício está instalado o Núcleo Museológico de C. L.), cuja firma era “Domingos António Alves & Cª”. Antes daquela data correra meio mundo no trabalho de pedreiro. Como era assaz curioso, aprendeu a fazer chocolate numa das terras por onde andou. Domingos António morre em 1919 e a fábrica é encerrada temporariamente, porque dos três filhos que tinha só um estava com ele, o Abílio (1896-1956), mas este teve que ir para Valença cumprir o serviço militar. Nessa Vila minhota andou a mirar o que ali se fazia quanto ao fabrico desse excelente produto e segundo parece conseguiu obter algumas receitas preciosas, que aperfeiçoaria depois. No regresso reabriu a fábrica e chamou o irmão Germano (1898-?), que estava no Brasil, para seu sócio. Penso que também o outro irmão, José António, fazia parte da sociedade (Este José António foi para o Brasil em 1928 e nunca mais voltou a Melgaço). A firma passou a ser “Chocolates Carabéis & Sucessores” e a marca “À Espanhola” rapidamente ganhou fama. Como não havia electricidade na freguesia, e o carvão onerava os custos, solicitam aos Serviços Hidráulicos autorização para construir um barracão junto do regato para assim poderem aproveitar a força motriz da água. Apesar de ser no fim do mundo, sem nenhuma estrada, apenas caminhos ruins, foi um êxito! O sucesso foi tanto que em 1927 abriram uma filial em S. Julião, Vila de Melgaço (na casa que pertencia à esposa do Germano), onde o Abílio, solteiro, se meteu, aí por volta de 1947, com a empregada, “Palina”, cuja história se contará noutro lado. Os irmãos, além do fabrico do chocolate, tinham o negócio de caixões e de tamancos, miudezas e fazendas. Eram comerciantes natos. A publicidade faziam-na através do jornal “A Neve”, por eles criado em 1920, o qual duraria pouco tempo. O director era o jovem professor, Abílio Domingues (1900-1978). O Germano viera solteiro do Brasil, com 21 anos de idade, e foi graças ao chocolate que conquistou a mulher com quem casou em Dezembro 1920. Ela, pouco mais velha do que ele, já viúva, e com uma filha pequenita, fora nesse ano à festa da Peneda e na volta lembrou-se de comprar algumas tabletes de chocolate para oferecer aos familiares. Dirigiu-se à banca dos manos “Carabel”, a fim de as adquirir, mas só lhes restavam duas. O Germano prontificou-se de imediato a ir a casa da bela Aurora levá-las na semana seguinte. Apaixonaram-se e deram o nó. Ficou viúvo em 1936. Não assistiu à morte da esposa, pois encontrava-se na Pára a tratar de negócios. Tiveram dois filhos: Maria Teresa, nascida em 1921, e Germano Henrique. Eles levavam o negócio muito a sério. No NM 460, de 3/9/1939, lê-se: «até ao próxima dia 10/9/1939 será posto à venda o afamado chocolate de Castro no seu depositário em Melgaço, Sr. Artur Teixeira». No NM 782, de 7/7/1946, lê-se: «Vês agora aquele velho moinho com um barracão à beira? É a fábrica de chocolates dos “Carabéis”, que tanta fama ganharam, tanta que até a estrada quis passar ali à beirinha para lhe facilitar as comunicações. Segundo me informaram, esteve primitivamente instalada lá para baixo da Ponte Velha, de sociedade com o falecido “Gertrudes”». E no NM 785, de 4/8/1946, continua: «O Abílio Carabel aparece-me lá (na romaria de S. Bento do Cando) com uma graciosa oferta: uma pasta de chocolate, como lembrança pelas referências feitas à sua fábrica de chocolates. Explicou-me como foram os princípios do fabrico, de que não pude tomar a devida anotação, porque uma imprevista zaragata veio separar-nos». (B. Ribeiro de Castro). No NM 905, de 17/7/1949, publicou-se um anúncio interessante: «PRODUTOS – A UNIÃO – Fábrica de Chocolates e Moagem Carabéis, Sucessores – S. Julião – Melgaço – Além dos já conhecidos e afamados “chocolates Carabéis” brevemente apresentará aos seus clientes e amigos mais três produtos da sua especialidade. 1 – Café Belém – gostoso até mesmo sem açúcar. 2 – Cevada S. Julião – em pacotes e avulso. 3 – Cascarilha moída – “El Gaitero”». Esta família, em 1955, tinha as suas propriedades de Castro à venda.

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO II

Joaquim A. Rocha

Edição do autor

2010

pp. 105-106

 

O ADMINISTRADOR DO CONCELHO DE CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 20.08.22

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ENTRE O CRIME E A CADEIA: VIOLÊNCIA E MARGINALIDADE NO ALTO MINHO (1732-1870)

 

Alexandra Esteves

A actuação das autoridades nem sempre era condizente com o cargo que ocupavam, sendo diversas vezes acusadas de desleixo e arbitrariedade, o que, no caso dos administradores dos concelhos, acarretava sérias repercussões no domínio da conflituosidade quotidiana, porque uma das suas atribuições era precisamente zelar pela ordem e tranquilidade pública. Eram muitas as vozes que, na sociedade civil, nos jornais e até nas estruturas do poder, se faziam ouvir para denunciar e condenar os comportamentos impróprios de alguns desses agentes da autoridade. São vários os episódios que atestam esta realidade e que contríbuiam para a emergência de uma conflituosidade espontânea, mas também para alimentar uma revolta latente contra as instituições do poder, cujos representantes, pela sua conduta, não ajudavam a dignificar.*

*(…)

Vejam-se as acusações que, em 1836, o governador civil comunicou à câmara municipal sobre a actuação do administrador do concelho de Castro Laboreiro, que já tinham motivado várias queixas por parte dos habitantes daquela localidade: “(…) alguns dos mesmos feitos como he passar passaportes aos estrangeiros que se querem refugiar neste reino, e outros que entrão com contrabando, e mesmo aos indivíduos deste concelho que continuam a ir aos ganhos, para as províncias de Trás-os-Montes, passando-lhe umas guias em lugar de passaportes, em papel branco, levando-lhe por cada huma cento e vinte, vindo a receber a F. N. grande prejuízo, na falta de sello, escrivando tanto os passaportes como as guias como secretário, asignando como administrador, como tãobem, em hum dos dias do mês de Abril próximo passado, nomeou hum secretário da sua fação, e chamou os livros de todas as confrarias desta freguesia e concelho, e tomou os contos das mesmas confrarias, levando por cada uma coatrocentos e oitenta reis, nomeando por si próprio e sem combinação desta municipalidade, comissários e cabos de polícia, botando fintas aos habitantes deste concelho, para pagar aquém lhe vá levar e buscar os officios ao correio, isto alem de outros factos que delles podem resultar funestas consequências, factos estes que as leis da nação determinão (…)”.

 

http://academia.edu

EM DEFESA DO CONCELHO DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 13.08.22

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DESINTERESSE DO SENHOR PRESIDENTE?...

 

O Secretário Nacional da Informação e Turismo visitou recentemente o distrito de Viana do Castelo.

Pelos relatos da imprensa soubemos que o Presidente da Câmara de Melgaço só pediu uma coisa: um subsídio para as Festas da Vila, também denominadas do Concelho. E vem um membro do Governo à Província com o objectivo de auscultar as necessidades dependentes do seu departamento, e há um Presidente de Câmara que lhe apresenta uma ajuda para as Festas!...

Vendo nos mesmos relatos da Imprensa, que nada mais dizem a respeito de pedidos feitos pelo Presidente da Câmara de Melgaço, achamos que devemos defender a honra da nossa terra, posta em causa, sem dúvida inconscientemente, pelo dr. Sidónio. Não seria mais objectivo pedir um auxílio para a Escola de Música, que se criou na nossa vila com tantos auspícios?

Não estaria de acordo com o Departamento de Informação e Turismo, pedir ajuda para o recheio do Museu, onde um lobo embalsamado guarda as paredes? Não há documentos a fotocopiar que dizem respeito à História de Melgaço? Não há obras publicadas que se devem adquirir? Não há quadros de Jaime Murteira e fotos de Sampayo que devem figurar nesse Museu?

Não carece Melgaço de uma Pousada, já que a de Castro não resolveu o problema central do Concelho e os hotéis do Peso encerram no Outono e Inverno?

Não havia, por imposição das exigências do Turismo, que pedir a influência do Secretário de Estado, que nos visitou, junto do Governo Português para que este interviesse em Madrid a fim de que as barragens do rio Minho fossem construídas de forma a permitir o acesso do peixe – salmão, sável, lampreia e truta – e assim se evitaria o desaparecimento de tão delicioso peixe?

Não seria oportuno falar da estrada do Mezio de forma a liga-la à de Lamas de Mouro, abrindo desta forma Melgaço ao turismo nacional, através das lindas serras que nos dominam com entrada por Castro? Fazendo-o não concorria para se criar o verdadeiro circuito do Minho: Braga, Arcos, Melgaço, Monção, Valença, etc.?

E sabendo-se que os Hotéis do Peso servirão, um dia, de apoio ao turismo do Parque Nacional «Peneda-Gerês», por que razão o dr. Sidónio não levantou o problema tanto mais que a Empresa pensa em construir um hotel?

Como classificar a atitude do Presidente da Câmara que esqueceu todos os verdadeiros problemas turísticos de Melgaço?

Não podem os representantes do Governo adivinhar. Estes factos levam-nos a perguntar: se o Governo Civil e o Ministério do Interior podem estar satisfeitos com um colaborador destes?

O Concelho não está, e a ajuizar pelos relatos da imprensa referentes à atitude do dr. Sidónio perante o Secretário de Estado de Informação e Turismo, mais uma razão e grave veio avolumar o seu descontentamento. Ninguém gosta de ser esquecido, sobretudo quando tem direito a ser lembrado. E o representante dos nossos direitos regionais não cumpriu.

Com vista aos srs. Governador Civil e Ministro do Interior.

 

                                                            JÚLIO VAZ

 

A VOZ DE MELGAÇO

MELGAÇO, 1 DE MAIO DE 1974

ÁGUAS DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 06.08.22

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RECUPERAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DO PARQUE TERMAL DO PESO

MEDEIROS, DANIELA FARIA VILELA LOURENÇO

http://hdl.handle.net/11067/1506

2013

A rede hidrográfica do concelho de Melgaço é reflexo do relevo muito acidentado, onde os rios seguem o traçado definido pela direcção das principais fracturas que afectam o maciço granítico. O rio Minho, os rios Mouro e Trancoso, seus afluentes e o rio Laboreiro, que desagua no rio Lima, são os principais cursos de água que atravessam e delimitam o concelho. À excepção do rio Minho, estes nascem na serra da Peneda e no Planalto de Castro Laboreiro, em Melgaço, dão configuração ao terreno, definindo os seus principais vales interiores (Rocha, 1993).

No lugar do Peso nasceram as águas minero-medicinais, junto ao ribeiro da Bouça Nova um afluente do rio Minho. Foi em 1884 que se registou, na Câmara de Melgaço, o pedido de aproveitamento das águas do Peso para fins medicinais, e no ano seguinte, em 1885, já se engarrafavam as águas num pequeno abrigo. O terreno das águas do Peso foi passando por várias empresas que muito contribuíram para o seu crescimento. Entre 1897 e 1898 a afluência de aquistas teve um grande aumento devido ao desenvolvimento dos meios de transporte e vias de comunicação, encurtando as distâncias entre Portugal e Espanha. Com o aumento do consumo de água termal, foram investidos vários recursos na procura de novas captações para aumentar o caudal da água e, em 1904, foi descoberta e adquirida uma pequena nascente localizada em terrenos adjacentes. O parque é constituído por três fontes próximas, mas com características diferentes a nível de composição química e volume caudal, encontrando-se junto aos limites do ribeiro, o que resulta na união dos dois afluentes. A orientação dos cursos de água está directamente relacionada com a posição das três nascentes. Na direcção Sul/Norte corre o ribeiro da Bouça Nova, passando em frente ao pavilhão da fonte principal, onde a água é captada por galeria e mais à frente existe a fonte mais pequena que abastece o edifício do balneário. Ao ribeiro da Bouça Nova junta-se o ribeiro da Folia, que corre de Este para Oeste, passando por trás da fonte Nova cuja captação é feita por um poço com cerca de dois metros de profundidade. Foi através de análises químicas que se concluiu que a fonte principal continha a mais rica das águas gasocarbónicas bicarbonatadas cálcicas portuguesas (Leite, 2007). Esta água tem propriedades hipoglicemiantes e hipocolestrolémicas, possuindo a fsculdade de ajudar a controlar os níveis de açúcar e gordura do sangue, sendo por isso indicada para o tratamento de doenças do aparelho respiratório, digestivo, cardio-circulatórias, metebólico-endócrinas, reumáticas e músculo-esqueléticas (Barata, 1999). Deste modo, a programática termal revela-se abrangente, contemplando tratamentos para problemáticas de diferentes índoles, permitindo um melhor e completo usufruto das propriedades da água.

 

Lusíada

Repositório das Universidades Lusíada

 

UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

Recuperação e Revitalização do Parque Termal do Peso

Daniela Faria Vilela Lourenço Medeiros

Dissertação para obtenção do GRAU DE MESTRE

Porto 2013