trilho do megalitismo - montes laboreiro
CONJUNTO MEGALÍTICO DO PLANALTO DE CASTRO LABOREIRO
Alda Rodrigues
Na chamada raia seca desenvolve-se a Serra do Laboreiro, que começa no vale do rio Trancoso (Galiza) e se estende para Nordeste e para Leste – pelos concelhos de Padrenda, Quintela de Leirado, Verea, Lobeira e Entrimo, na Galiza, e o concelho de Melgaço, em Portugal. Esta serra forma um altiplano, o Planalto de Castro Laboreiro, que se começa a delinear nos concelhos galegos de Verea e Lobeira, mas que se desenvolve, essencialmente, na freguesia de Castro Laboreiro. Neste, desenvolve-se um conjunto de monumentos pré-históricos, em vias de classificação, que serviu de palco à produção da curta-metragem Raízes, de Carlos Ruíz, realizada em 2009. Trata-se de uma representação alegórica da vida e da morte numa comunidade Neolítica.
O cenário onde se implanta este conjunto, inserido no Parque Nacional Peneda-Gerês (PNPG), apresenta uma topografia de natureza suave e é recortado por pequenas linhas de água e por várias nascentes, É também aqui que nasce o rio Laboreiro, que atravessa o altiplano, aproximadamente no sentido Este – Oeste.
Este conjunto de monumentos pré-históricos é o mais setentrional do país e o que se encontra a cotas mais elevadas (Jorge et al. 1997). Desenvolve-se na Galiza e, maioritariamente, em Portugal. Constituí um marco da primeira arquitetura monumental, de um período onde, tal como refere F. C. Boado (1999), se inicia um processo crescente de “domesticação” da envolvente, que não é apenas a expressão de uma nova economia ou aparato tecnológico mas, também, de uma nova relação da sociedade com a natureza, caracterizada por uma atitude que se espressa na sua transformação sistemática e progressiva.
Trata-se de um conjunto importantíssimo quer pela dimensão quer pela diversidade de estruturas (motivada, por outros fatores, pela sua longevidade cronológica) quer, ainda, pela multiplicidade de localizações topográficas.
É ainda relevante o bom estado de conservação dos monumentos e da paisagem envolvente “…belíssima, erma de ruídos e de outros elementos poluidores, procurada por veraneantes que gostam de andar a pé pela montanha, e onde ainda se pode ouvir o silêncio” (Jorge 2003: 109).
Os trabalhos de investigação e valorização patrimonial desta necrópole megalítica datam de 1978, ano em que a Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho realizou ali um primeiro levantamento arqueológico, em parceria com o extinto Serviço Regional de Arqueologia da Zona Norte, sob a orientação de Francisco Sande Lemos. Este trabalho contou com o apoio de António Martinho Baptista, então arqueólogo do PNPG. Em 1992, e no âmbito do projeto “Estudo do Conjunto Megalítico do Planalto de Castro Laboreiro”, desenvolvido por Vítor Oliveira Jorge, Susana Oliveira Jorge, Eduardo Jorge Lopes da Silva e António Marinho Baptista verificaram-se escavações do núcleo megalítico do Alto da Portela do Pau. Deste estudo viriam a resultar diversas publicações (Jorge et al. 1995, 1997; Baptista 1997, entre outros).
A partir de 2006, a equipa de arqueologia do PNPG, coordenada por Henrique Regalo, dirigiu esforços para aprofundar o conhecimento da área, tendo realizado um levantamento georreferenciado do conjunto megalítico, com vista à revisão do Plano de Ordenamento do Parque Nacional. Foram então, identificados 66 monumentos megalíticos no território português, dispersos por uma área aproximada de 50 km2. Alguns deles encontram-se isolados, mas a maioria está organizada em grupos (definidos pelo critério da proximidade geográfica).
Tendo em conta os resultados dos vários trabalhos desenvolvidos neste sítio, sobretudo das escavações arqueológicas no Alto da Portela do Pau podemos afirmar que a humanização do planalto de Castro Laboreiro se encontra atestada desde o Neolítico Médio/Final, mais precisamente desde os finais do V milénio AC (datas calibradas), momento em que foi construída a Mamoa 3 daquele grupo (Jorge et al. 1997). Trata-se de um monumento com uma câmara funerária apenas definida por um anel constituído por pequenos blocos de pedra. Em termos de espólio, o único resto de artefacto cerâmico digno de nota encontrado na área deste monumento é um fragmento da pança de um vaso campaniforme, achado fortuitamento à superfície (Jorge et al. 1997:86).
Na primeira metade do IV milénio AC ergue-se, neste lugar, a Mamoa 2 do Alto da Portela do Pau, um grande monumento com câmara aberta, virada para nascente de planta poligonal que ostenta motivos gravados nos seus esteios e alguns ténues vestígios de pintura. Os motivos são, essencialmente, geométricos (zigzagues e ondulados), dispostos verticalmente, mas também apareceram outros motivos simbólicos, como antropomorfos e círculos concêntricos (Jorge et al. 1997, Baptista 1997). Neste monumento as práticas funerárias implicaram o depósito de uma possível “estatueta” antropormórfica, de vários percutores em quartzo, de uma ponta de seta, entre outros. Este imóvel foi objeto de trabalhos de conservação em 2011.
Nesta área também foi intervencionada a Mota Grande, já em território galego. É um monumento de grandes dimensões, com câmara de planta poligonal e com gravuras sobre os seus esteios, onde se destaca uma representação do tipo “idoliforme”, em baixo-relevo, rodeada por figuras meândricas (Baptista 1997). Nas suas imediações apareceu um menir com aproximadamente 1,90 m de altura máxima e 0,70 m de largura máxima, que ainda jaz no solo, a cerca de 20 metros para sudoeste da Mota Grande.
Durante o Calcolítico o Planalto de Castro Laboreiro continuou a ser frequentado. Disso é prova a reutilização da Mamoa 1 do Alto da Portela do Pau (Jorge et al. 1997), verificada através da deposição de, pelo menos, três vasos campaniformes (Jorge et al. 1997).
No planalto, perto das mamoas de Porcoito e do Alto dos Piornais a 2,3 km do Alto da Portela do Pau para sudoeste, existe ainda um santuário rupestre de arte esquemática que terá sido usado desde o Neolítico até à Idade do Ferro/Romanização (Bettencourt & Rodrigues, neste vol.).
O grupo do Alto da Portela do Pau, será pois, o mais interessante em termos de visitação quer pelo que sobre ele se sabe em termos científico quer por ser acessível através de um percurso pedestre que se inicia na Branda do Rodeiro. Este percurso está marcado no terreno e as informações sobre o mesmo podem ser obtidas no Núcleo Museológico de Castro Laboreiro; no Centro de Informação de Castro Laboreiro; na Porta do Parque Nacional em Lamas de Mouro e na ADERE-PG (Associação de Desenvolvimento das Regiões do Parque Nacional da Peneda-Gêres).
TERRITÓRIOS DA PRÉ-HISTÓRIA EM PORTUGAL
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Ana M. S. Bettencourt