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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

O RAIO DA COBRA

melgaçodomonteàribeira, 26.02.22

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casa do sr. mareco

 

A caminho do meu moinho, uma cobra negra atravessou o carreiro, escondendo-se, célere, numa tufa de ramalhos de carvalho à minha direita.

O meu pensamento voou para os tempos da minha primeira adolescência, quando jovem aluno da escola primária, hoje ensino básico, regressava da escola do Vido.

Já então, era um ser um tanto solitário, caminhando só, longe dos meus companheiros de escola; eu atirava a minha boina ao ar num movimento de rotação sobre si mesma, que a fez sair do troço de estrada, ainda em construção, e cair sobre uma cobra preta, que bem enroscada em círculo, dormia tranquilamente à sombra de uns arbustos espinhosos.

Claro que o ofídio, subitamente incomodado na sua sesta, com a rapidez do relâmpago, me mordeu no pulso direito, e se precipitou numa fuga salvadora, para longe do intruso, que assim perturbava o seu descanso reparador.

Ainda persegui o réptil à pedrada, mas, mais astuto e rápido do que eu, conseguiu escapulir-se, desaparecendo numa moita de arbustos à beira do rio.

Foi então que ao olhar para o meu pulso, vi que este inchava desmesuradamente, não distinguindo já o pulso da mão.

Muito preocupado, mas sem algum indício de dor, subi rápido a ribanceira da estrada, e chamei pelos companheiros já distantes de algumas centenas de metros.

Constança! Olinda! Uma cobra mordeu-me! Gritei.

A Constança, minha irmã, olhou para trás, riu-se, mas continuou sem ligar nada.

- Lá está o pantomineiro do meu irmão, disse ela; sempre a brincar, a gritar ó lobo, ó lobo.

Como não fui ouvido, voltei a chamar com alguma veemência, talvez mesmo com algum dramatismo: Tança, Olinda, acudam, acudam, uma cobra mordeu-me!

Desta vez, a minha irmã reparou no tom diferente da minha voz, onde passava algo de estranho, e na dúvida, resolveu esperar, e ver o que se passava.

Ao ver o estado do meu pulso, desatou a chorar e a chamar pela sua amiga:

- Oh Linda, olha o meu irmão, ai ai ai… ela vai morrer…Olha!

A Olinda começou também a chorar, seguida da sua irmã, a Otília, e da minha prima Sara. Foi um lindo concerto de choradeira que se apoderou do grupo, que me olhava como um herói trágico, com ar triste e comovedor.

A minha irmã e a Olinda, queriam levar-me de força às costas, e eu bendizia que podia andar, que a cobra ma mordera no pulso, e não no pé, que não tinha dores, mas nada a fazer, tinha de ser transportado às costas, pois podia estar muito doente, e o esforço matava-me; isto, apesar de elas não poderem comigo, de não terem força para o fazer.

Foi então que o meu primo se chegou junto de mim, e com uma voz, mistura de gozo e de inquietação, me sussurrou:

- Oh pá, estás fodido!

A este insulto, libertei-me dos braços das moças, dizendo:

- Não estou nada pá, e mais preocupado do que parecia, corri para casa, ainda distante de algumas centenas de metros.

O meu pai, examinou o pulso, tratou logo de fazer um garrote para não deixar circular o sangue, do local da mordedura para o coração, e disse para a minha irmã, que entretanto chegava a chorar com o grupo das amigas.

- Vai a casa do tio Manuel Mareco, em “Borja-Travessa”, que nos venha buscar, para levar o teu irmão ao médico. Diz-lhe que foi mordido por uma cobra. Nós, uma vez o teu irmão preparado vamos ao vosso encontro, e esperamos no fim da estrada, na ponte de Picotim. Ala, vai numa perna e vem noutra, pois o tempo urge.

A viagem até Melgaço, foi uma revelação de coisas novas. O carro do senhor Manuel Mareco era um buick luxuoso e potente e para mais o único carro da freguesia.

Eu olhava pasmado este monstro a fender o ar, com um assobiar que me encantava; as árvores e as coisas desfilavam vertiginosamente para trás, sentia o coração e as tripas subir para a garganta, sempre que havia uma lacada, ou uma descida súbita.

A minha admiração pelo tio Mareco crescia a olhos vistos, ao ver a mestria com que ele conduzia o automóvel, sem abrandar nas curvas, às vezes com uma só mão! Era um grande homem! Que digo eu, uma espécie de semi-deus, e para mais, era amigo do meu pai!

O meu contacto com Melgaço, deixou-me mudo de espanto e admiração: As casas eram todas bonitas, com as paredes pintadas, havia postes de iluminação pública, e as mulheres eram muito lindas e asseadas, apesar de ser um dia de semana!

De vez em quando passava um carro nas ruas, e havia sempre gente a passar de um lado para o outro.

Ao chegar à Loja Nova, uma senhora muito elegante, bem vestida, com os lábios pintados de vermelho, com um cabelo loiro muito bonito, veio falar com o senhor Mareco, e eu fiquei muito orgulhoso, pois conhecia também o meu pai. Era a dona Micas; fez-me também uma carícia, que me fez corar, de vergonha e prazer. Quando chegamos ao hospital, um edifício enorme, com uma entrada muito larga, e ornamentada com canteiros de flores, já o médico nos esperava.

Era uma espécie de João Semana cá do sítio, cumprimentou com amizade, o Mareco e o meu pai. Era o doutor Esteves, figura muito estimada nestas bandas, pelos seus conhecimentos na medicina, e também pelo seu amor, de notoriedade pública, à raça cavalar. Diziam os entendidos com ironia, que se no caminho encontrasse um homem e um cavalo, doentes, socorria primeiro o cavalo, e só depois o homem.

O médico agarrou o meu pulso e examinou com muita atenção o sítio onde a cobra tinha mordido.

- Dói-te rapaz? - perguntou, fazendo várias vezes pressão, e olhando o meu rosto com o olhar agudo e profundo dos seus olhos verdes.

- Não, respondi! Não dói nada.

O clínico rapou de uma lupa, observou como mais pormenor a ferida, e disse para o meu pai:

- Felizmente não foi víbora, foi uma serpente não venenosa. Inchou muito, porque os dentes deviam estar sujos e infectados, mas não há perigo algum.

Vamos desinfectar a ferida e pronto, podes ir tranquilo. Mas olha com esta lupa, como a mordedura está bem nítida! Olha, vêem-se bem as marcas dos dentes, e o ferrão. Mas está tudo bem. Não haverá complicações.

O Mareco convidou então o meu pai, agora completamente tranquilisado, a visitar uma quinta que ele tinha comprado há pouco, em Prado, e foi a coisa mais linda que eu tinha visto até aí. Era um palacete de dois pisos, com grandes e vastas janelas, umas escadas muito largas que davam acesso ao rés-do-chão, ligeiramente sobre elevado.

O todo construído num terreno amplo, fechado por um muro de tijolos e cimento, com grandes varões de ferro, que o vedavam dos intrusos, mas deixavam passar a vista e a luz. No terreno havia uma profusão de rosas, hortências e jacintos, que lhe davam um ar festivo e encantador.

Como era lindo Melgaço, como era belo este Portugal, pensei eu!

 

In: Ecos dos Montes Laboreiro

António Bernardo

Edição do autor

2008

pp.131-135

UM AVIADOR MELGACENSE

melgaçodomonteàribeira, 19.02.22

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 parque rio do porto

 

Em 27 de Janeiro de 1948 num brutal desastre de aviação ocorrido na Caparica, próximo de Lisboa, morreu o 1º tenente aviador Rui de Barros e Brito, natural desta vila, filho da Sr.ª D. Isabel Desdemona Pita da Barros Brito e do Sr. Custódio da Costa Brito.

O 1º tenente aviador Barros e Brito, que nasceu em 1917, foi promovido a aspirante em Outubro de 1934, sendo um dos nossos primeiros e mais experimentados pilotos de linha, apesar da sua mocidade.

Quando começou a fazer serviço na Direcção Geral de Aeronáutica Civil, foi a Inglaterra estagiar na British Owerseas Airways, onde se familiarizou com a linha de África, que depois começou a percorrer como piloto da D. C. A. C. :

Quando na terceira viagem experimental da Linha Aérea Imperial, o Dakota comandado pelo comandante Eurípedes Silva, na viagem de regresso, teve um desastre em Bafatá, na Guiné, foi o 1º tenente Barros e Brito, comandando outro Dakota, quem foi a Bathurst, levar uma hélice e outras peças necessárias para a reparação do aparelho sinistrado, e trouxe para Lisboa os três passageiros que vinham nele.

Em 1941, foi louvado pela maneira corajosa como procedeu ao salvamento dos destroços de um avião danificado pelo temporal, nos Açores.

 

Padre Júlio Apresenta Mário

Júlio Vaz

Edição do autor

1996

p. 237

 

FÁBRICA DE PIROLITOS

melgaçodomonteàribeira, 12.02.22

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UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA…

 

VIII

 

O julgamento do Lili ainda estava por marcar. Talvez o Delegado do Procurador da República e o próprio Juiz, achassem de somenos importância aquele caso e o protelassem sine-die.

Enquanto isso outro momentoso caso ia a julgamento. Um conhecido industrial, rapaz lisboeta casado com uma moça da terra, convenceu o sogro, industrial de panificação, a montar uma fábrica de gasosas, refrigerante a que davam o nome de pirolito devido ao formato da garrafa e processo de tampa, esfera de vidro que, com a pressão do gás da bebida, era impelida contra uma arruela de borracha no gargalo, interiormente. O cidadão, embora casado, era namorador e foi acusado de desflorar uma rapariga menor de idade. Depois dos trâmites legais, foi indiciado e levado a julgamento. Na noite em que o caso ia ser debatido em plenário o auditório do tribunal esteve repleto. Um caso daqueles era assunto que daria debates entre os advogados e, logicamente, detalhes escabrosos viriam à baila. A rapaziada estava interessada nos detalhes que lhes dariam certa excitação. Verificando que a assistência era formada, na maior parte, por jovens, quase crianças, o juiz mandou que os oficiais de diligências fizessem uma vistoria e retirassem os menores de 21 anos. Formou-se tremendo burburinho, raparigas escondendo-se entre os bancos para passarem despercebidas. O João Antí, um dos oficiais fazia vista grossa e deixou a Rosinda amochada. Foi uma sessão ao gosto de povo que para tal fora ali. O advogado de acusação explorou ao máximo os lances de sexualidade que o acusado teria feito contra vontade da estrupada. Por sua vez, o advogado de defesa atenuava as circunstâncias e incriminava a desflorada como provocadora da situação. Por ser hora tardia, o julgamento foi adiado.

 

                                                                     Manuel Igrejas

Publicado em A Voz de Melgaço

PADRE MELGACENSE NA CÚRIA ROMANA

melgaçodomonteàribeira, 05.02.22

6 a2 - Gave vista de Virtelo.JPG

 gave vista de virtelo

 

PONTIFÍCIO COLÉGIO PORTUGUÊS EM ROMA

O padre José Fernando Caldas Esteves é o novo reitor do Pontifício Colégio Português, enquanto que o cargo de vice-reitor vai ser ocupado pelo padre Paulo José Sequeira Figueiró.

O novo responsável máximo da instituição, que até agora desempenhava a função de vice-reitor, tem 37 anos de idade e 13 de ordenação sacerdotal, pertencendo à diocese de Viana do Castelo.

O padre José Fernando Caldas Esteves, nasceu na freguesia de Gave, Melgaço e estudou nos seminários de Viana do Castelo e Senhora da Conceição, em Braga. Estudou na Universidade Católica, no Porto.

Foi pároco nas paróquias de Soajo e Gavieira, concelho de Arcos de Valdevez.

O novo reitor, que toma posse, hoje, dia 1 de Setembro 2011, juntamente com o vice-reitor, substitui o padre José Manuel Garcia Cordeiro, nomeado bispo de Bragança-Miranda, pelo Papa Bento XVI, a 18 de Julho.

O vice-reitor tem 33 anos de idade e nove de padre, frequentando a Universidade Gregoriana, na capital italiana.

Recorde-se que o Colégio Pontifício Português foi fundado em 1898 para alojar os padres enviados para Roma pelos seus bispos ou superiores com o objectivo de aprofundarem os estudos nas várias áreas do saber humano e teológico.

A instituição pertence à Conferência Episcopal Portuguesa mas depende também da Santa Sé. O seu reitor é nomeado pela Congregação para a Educação Católica, sob proposta dos bispos de Portugal, enquanto o vice-reitor e outros responsáveis são designados pelo episcopado nacional com o conhecimento do Vaticano.

O Pontifício Colégio Português acolhe actualmente cerca de 40 sacerdotes de mais de uma dezena de países.

Além do reitor do Colégio Português, o padre Caldas é secretário da Cúria Romana.

 

http://www.diocese-beja.pt/site/parameters/diocese-beja//files/File/NB4120.pdf

Retirado de:

Notícias de Beja