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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

TOMÁS JOAQUIM, UM BANDIDO SOCIAL

melgaçodomonteàribeira, 28.08.21

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 s.paio

MOVIMENTAÇÕES ABSOLUTISTAS NO PERÍODO DE IMPLANTAÇÃO DO LIBERALISMO

 

Célia Maria Taborda da Silva

 

No Alto Minho era o bando de Tomás Joaquim Codeço, mais conhecido por “Quingostas”, que desestabilizava a tranquilidade liberal. Natural de uma aldeia do concelho de Melgaço, actuava em toda a região minhota, assaltando a casa de constitucionais e libertando presos políticos ao mesmo tempo que aclamava o usurpador. Tinha ligações com alguns dos oficiais miguelistas de Braga e contactos com os carlistas da Galiza. Os militares liberais fizeram inúmeros esforços para o capturar, chegaram até a ter pessoas infiltradas no bando mas todas as tentativas para o apanhar redundaram em fracasso. Isto porque gozava de apoio popular como todos os “bandidos sociais”. Tal como o “bandido nobre”, de que Eric Hobsbawm fala na sua obra, Rebeldes primitivos, era considerado um herói pela comunidade, por isso, o protegiam. Contrariamente aos meros salteadores, os bandidos sociais permaneciam dentro da sociedade camponesa de onde saíram e eram considerados pela sua gente como heróis ou justiceiros, razão porque os ajudavam e apoiavam. As acções desse bandido eram aceitáveis dentro dos seus valores de comportamento, como quem rouba aos ricos para dar aos pobres ou mata para limpar a sua honra ou a de algum familiar. É esta relação entre o camponês e o rebelde que dá significado ao banditismo social e isso que o diferencia dos simples ladrões de estrada. O bandido social não roubava o camponês mas apenas os senhores ricos. Por esse motivo a sua popularidade só ocorria dentro do seu enquadramento regional, A este propósito, Hobsbawm adverte que um homem podia ser bandido social na sua terra e um simples ladrão fora dela. Este fenómeno, pré-político, foi desaparecendo com a modernização, por ter o seu suporte em sociedades baseadas na agricultura, lutando pela manutenção de valores tradicionais.

Tomás Codeço acabaria por ser preso em Janeiro de 1839 e assassinado em seguida pela escolta que o devia conduzir à prisão. Esta morte marcaria um ponto de viragem da luta absolutista na região pois não se voltaram a formar guerrilhas até 1846, altura em que renasceu a esperança miguelista.

Apesar dos movimentos de aclamação de D. Miguel e a formação de guerrilhas terem sido relevantes não lograram qualquer efeito prático, uma vez que os absolutistas não voltaram ao poder. No entanto, estes movimentos realistas contribuíram para aumentar a instabilidade de uma época conturbada e dificultar a tarefa dos governos liberais na implantação do liberalismo.

 

Retirado de: absolutistas.pdf