IGREJA DE SANTA MARIA MADALENA EM CHAVIÃES - MELGAÇO
igreja de chaviães - colecção património de melgaço cmm
AS PINTURAS MURAIS DA IGREJA PAROQUIAL DE CHAVIÃES
Os Reis Magos e as interpretações ao longo dos tempos
A propósito da comemoração dos 500 anos da atribuição da Foral novo à vila de Melgaço, efectuada por D. Manuel I a 3 de Novembro de 1513 – a efeméride cumpriu a 3 de Novembro de 2013 cinco séculos de história – o município melgacense realizou algumas iniciativas de análise histórica ao período quinhentista.
A 3 de Agosto de 2013, inserida no programa da Festa da Cultura, a autarquia promoveu uma palestra relativa ao Foral, proferida pelo professor José Marques (que já transcrevemos em edições anteriores); mas também uma apresentação do valor histórico das pinturas murais de gosto manuelino existentes na Igreja Paroquial de Chaviães, tendo como oradora a professora auxiliar do Departamento de História da Universidade do Minho e Investigadora do CITCEM, Paula Bessa.
O “valioso e notável” conjunto de pinturas murais da Igreja de Chaviães é apontado pela investigadora como sendo das primeiras décadas de Quinhentos, portanto, contemporâneas deste período de Foral novo. Encobertas por camadas de reboco, foi no decurso de obras realizadas no interior daquele templo, há poucos anos, que as pinturas foram descobertas, tendo o pároco de então, Manoel Batista Calçada Pombal (actual presidente da Câmara de Melgaço), defendido a sua preservação e recuperação de um registo de valor histórico.
A análise da professora Paula Bessa indica que “só falta proceder ao seu restauro por técnicos especializados”, que revela uma boa conservação das pinturas, apesar “do aspecto velado que lhes dá a disposição de sais”, como refere neste estudo.
A pintura que ilustramos na imagem, referente aos Reis Magos, merece atente análise da investigadora, que indaga sobre “que razões poderão ter levado os paroquianos de Chaviães a mandarem figurar esta cena num local visível do portal principal da igreja e também da porta sul?”
Segundo o estudo, a figuração, que alude a um episódio importante da infância de Jesus, “o momento em que é reconhecido por gentios como Rei dos Judeus”, era também mote de uma das festas do calendário litúrgico. No entanto, os Reis Magos eram também invocados como protectores de peregrinos e viajantes.
As singularidades desta representação prendem-se com algumas “liberdades” tomadas, nomeadamente por ilustrar os Reis Magos de forma diferente daquilo que era então considerado. A análise de Paula Bessa dá-nos conta dessas diferenças: “Nos séculos XV e XVI, Gaspar é geralmente representado como jovem e imberbe, Baltazar como um homem maduro e, usualmente, negro, representando a África, e Melchior como um velho calvo e de longa barba branca”.
Alheio às “convenções” geralmente seguidas ou livre para interpretar, o autor mudou a fisionomia dos Reis Magos: “Melchior e Gaspar parecem da mesma idade madura, ambos com barba, e é Melchior que é representado como negro” esclarece o estudo.
As irregularidades desta passagem Bíblica estendem-se até à “Adoração dos Magos”: “O prolongamento da cena pela parede do arco triunfal, separando a representação de Baltazar da legenda que o identifica e que fora colocada na parede da nave, a colocação estranha da sua coroa que, em vez de deposta no chão, em sinal de humildade para com a Mãe de Jesus, aparece numa posição elevada”.
As conclusões do estudo apresentado pela investigadora Paula Bessa poderão ser consultadas em publicação alusiva aos 500 anos do Foral de Melgaço, a publicar.
Em A Voz de Melgaço
Texto e fotos de João Martinho e Gabriel Cristiano.
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