NÉCTAR DE MELGAÇO
TRIBUTO AO ALVARINHO SOALHEIRO
- Teremos futebolistas leitores – disse ela, com uma gargalhada profunda, baixa, provavelmente causada por fumar Marlboro, mas que, raios, me fez encher o peito e arrepiar a espinha. Comemos o caranguejo, bebemos mais cerveja e falámos de livros, filmes, actores, celebridades, droga, fama, sucesso e eu mandei vir uma lagosta grelhada e Luísa disse que pagava um vinho verde Soalheiro Alvarinho 96, que foi o mais brioso de quantos verdes eu tinha bebido na vida. Mandámos vir outra garrafa e bebemo-la em golos faiscantes, e duas horas e meia depois de termos chegado saímos do ar condicionado para as ruas quentes e vazias, sem trânsito, sem gente, com as árvores ainda mergulhadas no silêncio da sesta.
Último Acto em Lisboa
Robert Wilson
Edição Gradiva
2000
p. 314