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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO NA POESIA POPULAR

melgaçodomonteàribeira, 30.03.19

41 c2 - estandarte rancho paderne.jpg

rancho folclórico de paderne

 

 

        

         POESIA POPULAR

 

 

          Não quero amor do monte

          Nem tampouco da ribeira;

          Quero amor de Birtelo

          Por ser terra soalheira.

 

 

          A Cividade dos mouros

          Hei-de mandá-la doirar

          Com pontinhas de alfinetes

          Para o meu amor passear.

 

 

          Adeus vila de Melgaço,

          Feita de pedra morena,

          Que passeia dentro dela

          Quem me a mim dá tanta pena.

 

 

          Sou da terra de Melgaço,

          Meu retiro são os montes

          No dia que te não vejo

          Meus olhos são duas fontes.

 

 

          Ó raparigas do Minho,

          Que fazeis ao que ganhais?

          Trazeis os homens descalços,

          Nem uns sapatos lhes dais!

 

 

          Sou do Minho, sou do Minho,

          Também sou da Minhoteira,

          Sei usar a cortesia

          Como qualquer da ribeira

 

 

          Eu hei-de ir casar a Rouces,

          Que me deram por degredo,

          Terra de muitos ramalhos,

          Onde canta o cuco cedo.

 

 

                               I

 

          Desça o Monte, desça o Monte

          Desça o Monte p’rà Ribeira

          Ouve lá, ó cantador

          Chega-te p’rà minha beira

 

                                II

 

          Desça o Monte, desça o Monte,

          Desça o Monte p’rà Ribeira;

          Apareça o cantador

          Que aqui ‘stá a cantadeira

 

 

          Adeus, Ribeira do Minho,

          Só tu me arrastas paixão,

          Onde tenho os meus amores

          Na raiz do coração.

 

 

          Adeus, fraga da Peneda,

          Adeus, carvalhos tamém,

          Adeus castanheiros verdes,

          Até ao ano que vem!

 

 

          Vou-te dá-la despedida

          Por cima de uma cancela,

          Nunca cuidei de cantar

          Com semelhante t’ramela!

 

 

 

VASCONCELLOS, Leite de – Cancioneiro Popular Português (coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes) Ed. Acta Universitatis Conimbrigensis-Universidade de Coimbra. Vol. I (1973), vol. II (1979), vol. III (1983).

 

Retirado de:

 

ACER – Associação Cultural e de Estudos Regionais

 

http://acer-pt.org/vmdacer/index.php?option=com_content&task=view&id=624&Itemid=65

 

ESTÁ NA HORA DO REGRESSO A CASA

melgaçodomonteàribeira, 23.03.19

48 a2 - antigo escudo da vila, desaparecido.jpg

antigo escudo de melgaço

 

ACHADOS

 

Não sabendo eu explicar a razão pela qual os arqueólogos portugueses, ou outros, nunca se interessaram por Melgaço, à excepção da freguesia de Castro Laboreiro, que nos últimos anos tem sido palco de investigações nesse domínio, não quero contudo deixar de lado o assunto. E a verdade, apesar dessa ausência, aqui e ali ao acaso, vão aparecendo objectos de antanho, os quais logo desaparecem como por bruxedo!

Escreveu Figueiredo da Guerra no “Correio de Melgaço” nº 31 de 5/1/1913: Da idade do bronze apareceram em (Novembro de) 1906, na Carpinteira, S. Paio, em esconderijo subterrâneo (quando se arrancava um pinheiro numa bouça), cinco machados de cobre, tipo morgeano (…), que nós classificamos como modelo grande do Minho. Da mão do nosso amigo Serafim Neves, onde os vimos, passaram ao Dr. José Leite, indo aumentar a colecção oficial de Lisboa.

No adro da igreja do mosteiro de Paderne existia desde tempo imemoriais uma curiosa lápide ornamentada; os paroquianos admiravam o par, representado toscamente, e o comentavam a seu modo. Era nada menos que um cipo luso-romano agora lajeando o pavimento, e tendo na parte superior um nicho com duas figuras, homem e mulher, dando as mãos; no rectângulo inferior e também abaixo dele, a inscrição, que diz: «Fulana, de cem anos, e seu companheiro Valus, filho de Arda, de 50 anos, aqui estão sepultados. O companheiro Pento mandou fazer este monumento.» Este padrão, tão cobiçado pelo Director do Museu Etnográfico de Belém, acabou por seguir para lá em 1906.)

No “Arqueólogo Português”, volume XII, 1907, o Dr. José Leite de Vasconcelos escreveu: «Junto da igreja de Paderne… existia… uma pedra lusitano-romana… ocupa hoje lugar de honra no Museu Etnológico…»

No Notícias de Melgaço, nº 224, de 4/3/1934, escreveram: «Numa propriedade ultimamente adquirida por Avelino Júlio Esteves, perto da nova avenida em construção, em volta das antigas muralhas desta Vila, e quando se procedia a um desaterro para a construção dum prédio, foram encontrados seis sarcófagos, abertos em Piçarra, saibro duro e espesso, calculando-se uma idade de 700 anos. Naquele local existiu em tempos uma capela, que foi demolida. O achado tem sido muito visitado por curiosos, inventando cada qual, a seu belo prazer, interessantes lendas, que a falta de espaço não nos permite reproduzir.»

Leite de Vasconcelos levou alguns desses achados, e ainda bem, para os museus da cidade, de outro modo ter-se-iam perdido. Na década do 90 do século XX, quando se rasgava a estrada Monção a Melgaço, os trabalhadores encontraram diversos objectos de longa idade. Os curiosos logo apareceram e levaram tudo que viram e tinha, do seu ponto de vista, algum valor comercial. (Sobre este assunto ver Jornal de Melgaço, nº 48, de Maio de 1994, Jornal de Melgaço, nº 55, de Janeiro de 1995, Voz de Melgaço nº 1054, de 1/7/1996, Jornal de Melgaço, nº 114, de Maio de 2000, jornal de Melgaço, nº 123, de Março de 2001).

 

 

Dicionário Enciclopédico de Melgaço I

Joaquim A. Rocha

Edição do autor

2009

pp. 22, 23

 

 

ALTO MINHO - ROTEIRO TURÍSTICO

melgaçodomonteàribeira, 16.03.19

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Um roteiro que traduz a riqueza da tradição e a doçura da paisagem

 

 

Viana do Castelo e seu termo, serpenteada por rios tranquilos, coroada por montanhas verdejantes e beijando o Oceano, é, cada vez mais, terra procurada para local de férias e sítio para encontrar sossego, sem esquecer, contudo, um novo ressurgir do tecido social e empresarial que empresta à vida do quotidiano mais certezas e garantia de um melhor futuro.

Conhecer a Região, apesar de tudo, não é fácil, porque as grandes vias de penetração só agora estão aparecendo, e a realidade encontra-se no santuário das povoações onde só chegam os mais curiosos ou os que se dedicam ao estudo dos problemas locais.

O Dr. Francisco Sampaio, é um desses homens, que a par de uma grande sensibilidade poética, de um fino recorte literário, conhece melhor do que ninguém, as gentes e a terra deste Alto Minho.

Aí o temos, neste Roteiro Turístico, calcorreando os vales, trepando os montes, desfolhando a memória das tradições ou ajudando-nos a saborear o rico «pitéu» que fazem da cozinha vianense um dos nossos motivos de orgulho.

Ao acompanhá-lo nesta redescoberta da nossa terra, encontramos novos motivos, novos recantos, novas belezas, e sempre a simpatia da sua gente, que, fidalgamente sabe receber, nem que seja para repartir o pedaço da «broa» ou a «malga» do caldo.

Agradecendo ao Dr. Francisco Sampaio mais este trabalho em prol da nossa terra, convido os leitores a saborearem este «naco» de prosa, e, se puderem, metam pés a caminho, quais novos peregrinos, em busca da paz e do sossego que encontrarão caldeados com o agreste e o belo da paisagem!...

 

Viana do Castelo, 11 de Outubro de 1990

 

     Governador Civil de Viana do Castelo

 

ALTO MINHO – Roteiro Turístico

Francisco Sampaio

Edição Região de Turismo do Alto Minho

1990

 

A MOCIDADE DE D. JOÃO V

melgaçodomonteàribeira, 09.03.19

34 b2 - mercado municipal.jpg

mercado municipal

 

Philippe entretanto ia preludiando com energia, capaz de ombrear com a veracidade atribuída aos Cyclopes. Uma das mãos fez presa no primeiro melão de inverno que encontrou, enquanto a outra, profanando as virentes capelas de salsa, forrageava nas tiras de presuntinho de Melgaço e no real paio alentejano.

Dois cães pouco amáveis, inquietos e felpudos, invadiram a sala, fazendo escolta ao capitão, e tomaram posições junto da sua cadeira, associando-se ao banquete com sinais nada equívocos de usurparem uma parte activa no espectáculo.

 

Retirado de:

Full text of A mocidade de D. João V

Luiz Augusto Rebelo da Silva

Livraria Moderna e Tipografia

R Augusta 47

Lisboa

1907

 

 

 

COROGRAFIA PORTUGUEZA - MELGAÇO MDCCVI

melgaçodomonteàribeira, 02.03.19

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COROGRAFIA PORTUGUEZA, E DESCRIPÇAM DO FAMOSO REYNO DE PORTUGAL

 

 S. Maria da Gave,

ou Gavia, he Vigairaria ´q apresenta o Reytor de Riba de Mouro, rende quarenta mil reis, & para o Commendador setenta mil reis: tem cento & trinta visinhos.

S. Mamede de Parada do Monte,

Vigairaria da mesma apresentaçaõ, que rende ao todo quarenta mil reis, & para o Commendador sessenta & seis mil reis, tem cento & cincoenta visinhos. Aqui se faz o melhor burel de lã das ovelhas Gallegas de todo o mais Reyno, donde he mui procurado para cubertas de camas de Lavradores, ou criados, & ainda de muitos nobres para as meterem entre os cobertores; he mui branco, grosso & macio. Nestas montanhas em `q ha muita caça & veaçaõ, houve antigamente hum Couto, a que chamavaõ Val de Poldros, o qual fez, marcou & defendeo Payo Rodrigues de Araujo, de que possue parte seu sexto neto Manoel de Araujo de Caldas, Sargento mór de Valladares, inda que atenuando em parte das grandes regalias que tinha.

S. João de Lamas de Mouro,

he Abbadia do Ordinario, rende quarenta mil reis, tem quarenta visinhos, que saõ privilegiados de Malta pela Commenda de Távora, a que pagaõ muito foro, não sendo a terra por roim capaz de tanto. Dizem que algum tempo foy esta Igreja de Templarios, & delles, quando se extinguiraõ, passou aos Maltezes. O como sahio delles para o Ordinario nam alcançamos, que naquelles tempos os mais dos contratos erão verbaes. Aqui nasce o rio Mouro, nome que tomou daquelle poderoso, ou regulo, de que já fallamos, & que neste monte tinha sua coutada de recreação para caçar. O rio inda que pequeno, dá saborosas trutas, & se engrossa  com o da Mendeira, que pouco abaixo lhe entra.

 

   Santiago de Penso,

Vigairaria do Mosteiro de Paderne com dez mil reis, ao todo oitenta mil reis, & para os Frades cento & dezoito mil reis, tem duzentos visinhos. Aqui está a Quinta de S. Sybrão, que possue Felippe de Araujo de Caldas, Cavalleiro do Habito de Christo, Capitaõ mór, & Monteiro mór de Valladares; tomou este nome de huma Capella antiga deste Santo Cipriano, que alli está; he tradição foy templo da Gentilidade dedicado a Júpiter: o sitio he funebre, & desacomodado no meyo de hum campo com pouca veneraçaõ, & menos o fora a naõ ser advogado das cezoens, ou maleitas, que muitos enfermos vem alli termendo, & voltaõ saõs.

 

 

Couto de Paderne

 

   Saõ Salvador de Paderne,

Mosteiro de Conegos Regrantes de Santo Agostinho, tomou o nome de sua fundadora a Condeça Dona Paterna, viúva do Conde de Tuy Dom Hermenegildo, que aqui tinhaõ grandiosa quinta, & muitas aldeãs, a qual vendose livre das obrigaçoens conjugaes fez este Mosteiro para nelle se recolher com quatro filhas, acabou-o no anno de 1130. & em seis de Agosto, dia da Transfiguração do Senhor, Dom Payo Bispo de Tuy o dedicou ao Salvador, lançando no mesmo dia à Condeça, filhas, & companheiras o habito de Conegas Agostinhas, de que antigamente tivemos muitos, & hoje só hum Mosteiro tem este Reino em Chellas meya legoa distante de Lisboa: logo lhe meteo para Capellaens, & Confessores sete Clerigos, os quaes no anno de 1138. se fizeraõ Regulares, & a Abbadessa Dona Paterna lhes mandou fazer para a parte do Sul hum claustro com cellas, em que vivessem, ficando as Freyras para o Norte, & o Mosteiro Duplex. Faleceo a Condeça Abbadessa em seis de Janeiro de 1140. & foi sepultada em hum arco da parte de fóra da banda do Evangelho da Capella, que hoje he Sacristia dos Clerigos, aonde se vè sua figura de Conega obrada de meyo relevo sobre o tumulo, & junto de si na mesma sepultura outro de homem armado com huma espada da maõ para o pé; presumimos ser do Conde seu marido, que com ella estará alli enterrado: sucedeo-lhe no cargo de Abadessa sua filha Dona Elvira, a quem ElRey Dom Affonso Henriques fez doação do Couto de Paderne, & da jurisdição civil no anno de 1141. & nella diz lha fazia pelos bons serviços, que lhe fizera, quando elle estava sobre o Casttelo de Castro Laboreyro, a quem tinha cercado, mandandolhe mantimentos, & alguns cavallos, entre elles hum muito fermoso, & jaezado ricamente para sua pessoa. Não se sabe em que tempo se devidirão as Freyras dos Frades, mas acha-se que no anno de 1231. vivião aqui só estes, ou raçoeiros, a quem governava Dom João Pires, que derrubou a Igreja antiga, por ser pequena para os muitos freguezes, que tinhão crescido, & fazendoa novamente, a acabou no de 1264. & he a que existe. Deste foy tam affecto ElRey Dom Affonso o Terceiro, que lhe fez algumas doaçoens, confirmandolhe o Couto no anno de 1248. Em seis de Agosto de 1264. a sagrou Dom Gil Pires de Cerveira (não Egídio, como dizem outros) Bispo de Tuy, ficandolhe o mesmo orago do Salvador. Tem Prior triennal com sete, ou oito Relegiosos, & hum Cura secular com sete mil reis, ao tode setenta mil reis, & para os Frades com as annexas, que se seguem, & Paços, & sabidos perto de tres mil cruzados, de que pagão pensoens: tem quatrocentos & trinta visinhos. Passou este Mosteiro a Commendadores, & nelle o forão sucessivamete dous, ou tres fidalgos do apellido de Mongueymes, & Fajardos, que sendo Gallegos, deixàraõ muita sucessaõ em Portugal, entre ella se acha nesta freguesia a da

Quinta de Pontezellas , que elles fundàraõ, & a possuiu o Capitão Pedro Falcão, por ser casado com filha herdeira de Diogo Ortiz de Tavora, filho de Gregorio Mogueymes Fajardo. O ultimo Commendatario perpetuo, a quem o Chronista dos Conegos Regrantes chama Prior, foy Diogo de Alarcão, por cujo falecimento, permitindo-o ElRey Dom Sebastião, se unio a Santa Cruz de Coimbra no anno de 1594. por Bullas do Papa Clemente Oitavo, com condição, que sempre nelle ficassem Religiosos, que rezassem no Coro os Officios Divinos, & prégassem ao povo, & Clerigos Curas, que administrassem os Sacramentos, razão porque deixàraõ como estava, & foy seu primeiro Prior triennal Dom Nicolao dos Santos. He Couto no civel, & as Freguesias, que se seguem com Juiz ordinario, que faz o Prior, & todos os Officiaes; vem Tabeliães de Valladares escreverlhe hum anno, outros dous no seguinte: o Prior he Ouvidor, no crime, & Orfaõs os de Valladares, & assim o Enqueredor, & Contador; tem duas Companhias, de que o Prior he Capitaõ mór.

S. Thomé do Couço,

Curado annual do Mosteiro de Paderne, rende vinte & cinco mil reis, & para os Frades quarenta mil reis: tem cento & vinte visinhos.

 

   Nossa Senhora de Cubalhão,

Curado do mesmo Mosteiro, rende trinta mil reis, & para os Frades sessenta mil reis: tem oitenta visinhos. Esta Imagem de Nossa Senhora he de pedra, & mui milagrosa. Ha aqui um sitio, a que chamão o Castro, que mostra ser fortificação antiga dos Romanos. Estas duas Freguesias são do mesmo Couto.

P. Antonio Carvalho da Costa

Na officina de VALENTIM DA COSTA DESLANDES

Impressor de sua Magestade, & à sua custa impresso.

Com todas as licenças necessarias. Anno M. DCC. VI.

 

 Retirado de: http://books.google