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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

A MULHER FATAL DE CAMILO

melgaçodomonteàribeira, 23.02.19

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festa da cultura 2013

 

A MULHER FATAL

E passou assim este grão caso, cuja narrativa hei-de levar seguida com a possível seriedade. Chamava-se Virgínia. Bom agouro de nome! Virgínia de Menezes Picaluga de Ias Cuencas. Os apelidos estão explicados no brasão do portal. Cuencas vem de fidalgos gallêgos que se entroncaram com os Picaluga de Melgaço em 1524.

Virgínia, dama de vinte e seis annos e bellesa solida, vive na sua quinta das Açudes. É só, solteira e rica. Veio para alli; mas não se sabe d’onde. Eu sei. Depois direi d’onde e como foi. O que lá consta é que seu pae, Christovao de Picaluga, a mandara pequenina para longes terras, e na velhice a chamara, e reconhecera para os effeitos de succeder na casa paterna.

 

Camillo Castello Branco

A Mulher Fatal

Romance

4ª Edição

Lisboa

Parceria António Maria Pereira – Editores Livreiros

 

Retirado de:

www.archive.org/stream/amulherfatalrom00brangoog/amulherfatalrom00brangoog_djvu.txt

 

O FORAL DE D. AFONSO III

melgaçodomonteàribeira, 16.02.19

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inscrição junto a porta na muralha

 

OS FORAIS ANTIGOS DE MELGAÇO, TERRA DE FRONTEIRA

 

O primeiro foral de Melgaço esteve em vigor até à outorga de nova carta, em 29 de Abril de 1258. As razões que terão motivado a concessão de novo foral a Melgaço devem encontrar-se através do estudo da política seguida por D. Afonso III.

O caos político que submergiu o reino no tempo de D. Sancho II deu lugar à intervenção directa da Santa Sé, tendo o Sumo Pontífice Inocêncio IV, após o encerramento do concílio de Leão (1245), expedido uma bula a ordenar aos portugueses a obediência ao infante, que, nos começos do ano seguinte, entrava em Lisboa, intitulando-se visitador, curador e defensor do reino. No termo de uma luta encarniçada, D. Sancho II, derrotado, retirou-se para Toledo, onde viria a falecer nos primeiros dias de 1248. D. Afonso III foi então aclamado rei, ocupando-se, nos anos seguintes, na conquista definitiva do Algarve, que constitui uma das principais fases do programa de estabelecimento definitivo das fronteiras de Portugal, assim como na reorganização administrativa do reino. Neste contexto se enquadram as inquirições realizadas em 1258, bem como a outorga de numerosos forais e cartas de foro, a publicação de legislação adequada e a convocação de cortes gerais, tendo os municípios participado pela primeira vez nas de Leiria em 1254…….

O novo foral não agradou às gentes de Melgaço. O diploma introduzia modificações a que os moradores teriam dificuldade em se adaptarem. O maior problema esteve certamente no censo anual a pagar ao monarca.

Com efeito, o tributo a pagar ao rei tinha sido fixado no tempo de D. Sancho II em 1000 soldos leoneses, a pagar em três prestações, ao longo do ano. No novo foral estipulava-se um tributo anual de 350 morabitinos velhos, também em três prestações fixas, nas datas acostumadas. Este valor foi fixado na previsão do pagamento de um morabitino por morador, o que fazia que se elevasse para 350 o número de moradores na vila. Essa mudança do panorama demográfico obrigaria a uma redistribuição das terras reguengas que o rei tinha doado ao concelho, a qual, para além de outras perturbações no que dizia respeito às benfeitorias introduzidas pelos seus exploradores, forçosamente diminuiria as parcelas, perspectiva suficiente para provocar uma onda de descontentamento.

O rei acolheu com compreensão as reclamações dos habitantes de Melgaço, que desejava continuar a ter por aliados e sentinelas da fronteira. E assim repôs o estado anterior das coisas outorgando, com pequenos ajustamentos, em 9 de Fevereiro de 1261, uma carta de confirmação do foral concedido por D. Afonso Henriques.

Quanto acabamos de dizer ajuda-nos a ver a forma humana como os nossos primeiros monarcas dialogavam com as populações, exercendo um poder moderador, ainda muito afastado dos figurinos absolutistas das eras moderna e contemporânea.

Para a defesa da fronteira, para a manutenção da ordem, para o povoamento e desenvolvimento do país, o rei sabia que era preciso o concurso de todos e, por isso, uma das suas primeiras preocupações era a de compatibilizar e congraçar os mais diversos interesses e de criar estímulos que promovessem a consecução dos objectivos comuns.

 

Revista da Faculdade de Letras

António Matos Reis

http://ler.letras.up.pt

 

 

 

ERA UMA VEZ...

melgaçodomonteàribeira, 09.02.19

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A INÊS NEGRA

LENDA DE MELGAÇO

Era uma vez…

 

… Antigamente, havia muitas lutas e batalhas entre Portugueses e Espanhóis, porque ambos queriam ser donos das melhores terras! Numa altura em que Melgaço pertencia a Espanha (Castela), travou-se uma dessas batalhas, em que dentro das muralhas estavam os soldados de Castela, a tentar proteger as terras, e fora das muralhas, os soldados Portugueses, que tentavam reconquistá-las!

Apesar de primeiro terem tentado chegar a acordo, para evitar conflitos, os Reis não se entenderam, e por isso o Rei de Portugal acabou por decidir atacar as muralhas! Mas entretanto, uma mulher, a quem chamavam de Arrenegada por ter preferido ficar do lado de Castela, encheu-se de orgulho e de coragem, e decidiu desafiar uma outra mulher, que vivia fora das muralhas, Inês Negra.

 

Inês era uma mulher do povo, que tinha abandonado Melgaço quando esta Vila se pôs ao lado do Rei de Castela. A Arrenegada desafiou Inês para uma luta entre as duas, e com a concordância dos dois Reis, ficou decidido que quem ganhasse, ficaria dono das terras de Melgaço!

 

No dia da luta entre Inês Negra e a Arrenegada, toda a gente veio assistir, cada um gritando pela sua favorita, como num jogo de futebol, em que cada um grita pelo seu clube! A luta foi forte, com armas, unhas e dentes, ora uma parecia ganhar vantagem, ora a outra, até que finalmente, se ouviu um forte grito… por breves momentos, ninguém conseguiu perceber o que estava a acontecer, até que a Arrenegada se levantou e fugiu para o castelo, escondendo as nódoas e o sangue com as suas mãos! Inês Negra venceu!

 

Com a vitória de Inês, os soldados castelhanos abandonaram as muralhas, praticamente sem oferecer resistência, e Melgaço voltou a ser de Portugal!

 

LENDAS ENCANTADAS DO VALE DO MINHO

LIVRO DE CONTOS TRADICIONAIS E ACTIVIDADES

Edição: Associação dos Municípios do Vale do Minho

2011

 www.valedominho.pt

 

MELGAÇO, ACÇÃO CULTURAL E RECREATIVA

melgaçodomonteàribeira, 02.02.19

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fonte termal

ACÇÃO CULTURAL E RECREATIVA

 

A vila possui uma grande herança natural, histórica e cultural marcada pelo Parque Nacional Peneda-Gêres e pela recente revitalização do Parque Urbano Rio do Porto, pelos mais variados monumentos de arquitectura religiosa, civil e militar como as pontes romanas que se destacam pela simplicidade e plena integração na natureza (Rocha, 1993).

Esta região tem a sua origem no povo castrejo, de raça celta, que habitava as construções chamadas de castros e viviam com base no nomadismo entre terras serranas (brandas) durante os meses de maior calor e nas terras ribeirinhas (inverneiras) nos meses de temperaturas mais frias. Praticavam a caça, a pesca e a agricultura, cultivando na serra apenas a batata, centeio e pastagens, e na terra ribeirinha os cereais variados, fruta e vinhos.

Ao longo dos anos foram passando, pelo lugar de Melgaço, várias civilizações como os Romanos que ao longo do território deixaram marcas da sua cultura, através de construções como as pontes que vão ligando as margens do rio Laboreiro.

Após quatro ou cinco mil anos, este território continua a demonstrar uma forte ocupação humana. Aqui, tiveram grande destaque as culturas dolménica e castreja comprovadas pela presença de várias construções como as antas e os dólmenes e também alguns menires. Como monumento nacional adquiriu evidência o pelourinho, de 1560, e a igreja matriz, como exemplo do estilo românico do século XII, que mais tarde, em 1775, foi completada com um coro, torre e capela-mor.

O desenvolvimento gerado pelo comércio tradicional e serviços, adquiriu maior expressão através das obras de requalificação de alguns espaços públicos da vila, tais como: a Casa da Cultura; os Núcleos Museológicos da Torre de Menagem, da Praça da República, Memória e Fronteira e o Museu do Cinema; as Piscinas Municipais; a revitalização das margens do Rio do Porto; o Centro Cordenador dos Transportes; e a praça urbana no recinto da feira, que vão proporcionando o aumento do turismo através do impulso cultural, social e de lazer.

Deste modo, quando visitamos a vila, o acesso e reconhecimento dos diversos espaços museológicos existentes no concelho é simples e rápido, mostrando a valorização do património enquanto conjunto através da criação de uma rede denominada Melgaço Museus, da qual fazem parte o Núcleo Museológico da Torre de Menagem e as Ruínas Arqueológicas da Praça da República, Núcleo Museológico de Castro Laboreiro, Museu de Cinema e Espaço Memória e Fronteira. O Núcleo está instalado na Torre de Menagem do Castelo, em plena zona histórica, valorizando a Torre e dando a conhecer o património arquitectónico, histórico e cultural de Melgaço. Associadas a este Núcleo existem as Ruínas, situadas na Praça da República, onde é possível observar e interpretar parte da história medieval do concelho. O Espaço Memória e Fronteira é dedicado à preservação da história recente do concelho, relacionada com o contrabando e emigração, conduzindo o visitante pelas histórias da História. O Núcleo Museológico de Castro Laboreiro centra-se na história e tradição da freguesia de Castro Laboreiro, a maior e mais antiga do concelho. Divulga aspectos relacionados com a paisagem e com as vivências locais. Na casa anexa à sede, numa construção tipicamente castreja, é retratado o ambiente de uma casa local, na segunda metade do século XX. O Museu de Cinema de Melgaço – Jean Loup Passek, inaugurado em 2005, encontra-se instalado em plena zona histórica da Vila, no edifício da antiga guarda-fiscal. Tem por base o espólio coleccionado ao longo da vida pelo francês Jean Loup Passek e doado ao Município, conta com duas exposições, uma de carácter permanente e outra temporária, distribuídas pelos dois andares do edifício. A Casa da Cultura de Melgaço é um serviço público, que tem por finalidade promover e valorizar o património cultural de Melgaço, com o objectivo da compreensão, permanência e construção da identidade do concelho e a democratização da cultura. É um espaço de encontro e convívio aberto à intervenção e dinâmica cultural do concelho (Melgaço, 2013).

No parque termal do Peso, os edifícios da fonte termal e do balneário apresentam-se como exemplos únicos da arquitectura do ferro e arquitectura neo-clássica que devem ser incluídos neste grupo de elementos culturais, diversificando a oferta e valorizando este espaço termal. Observando o parque percebemos rapidamente as suas enormes potencialidades, com uma envolvente natural propiciadora de actividades ao ar livre e grande dinamismo social e cultural.

Os locais de lazer, recreio e cultura são sempre necessários à promoção de um equipamento, onde os espaços exteriores complementam os interiores, fomentando o pleno equilíbrio entre vertentes terapêuticas e paisagísticas, conservando e valorizando a permanência num ambiente propício à saúde e bem estar.

 

Medeiros, Daniela Faria Vilela Lourenço

RECUPERAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DO PARQUE TERMAL DO PESO

http://hdl.handle.net/11067/1506

Universidade Lusíada do Porto

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

Porto 2013