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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

1861, A FERA EM FIÃES

melgaçodomonteàribeira, 06.10.18

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fonte da madalena, fiães

 

FIÃES

 

 

Em 1861 foram devastadas as povoações gallegas de Padrenda, Monte Redondo e Gazgoa, por uma féra, que uns diziam ser lobo, outros tigre, outros javalis, etc.

D’alli passou a Portugal e encheu de terror as povoações de Castro Laboreiro e immediatas, fazendo muitas victimas.

Só em um dia, matou duas creanças de 11 anos, em Castro Laboreiro, devorando uma e despedaçando outra. Não era raro encontrar aqui um braço, acolá uma perna, além um craneo; principalmente nas freguezias gallegas.

Tudo andava horrorisado. Ninguem sahia de noite; e, mesmo de dia, só bem armado e nunca só.

O povo, sempre propenso ao maravilhoso, ligou varias historias sobrenaturaes a este acontecimento. Segundo uns, era a féra – um filho indigno, amaldiçoado por seus paes. Segundo outros era um Caim que tinha assassinado um seu irmão. Outros pretendiam que era uma alma do outro mundo. Os mais espertos sustentavam que era um lobishomem – e os mais serios, teimavam que era, nem mais nem menos, o diabo em pessoa.

Combinaram-se todos os povos d’estes sitios para fazerem uma grande montaria ao animal feroz, qualquer que fosse a especie a que pertencesse. Reuniu-se grande numero de povo no terreiro da capella d’Alcobaça, limites de Fiães e Castro Laboreiro, e mais de 300 homens investiram com a floresta das Ramalheiras.

Não appareceu a fera, mas achou-se um rapaz, de 14 annos, horrorosamente ferido por ella, e salvo por umas vaccas, que andava guardando, as quaes se atiraram resolutamente ao animal feroz, e o fizeram fugir. O rapaz escapou. Esta féra appareceu n’estes sitios por duas vezes, com intervallo de dois annos, demorando-se de cada uma alguns mezes.

Desappareceu sem se saber como, nem para onde.

Tambem nunca se chegou a saber positivamente que especie de animal era.

Pelos signaes que davam os que tiveram a infelicidade de o ver, suppõe-se ser um grande tigre, fugido da jaula de qualquer domador de féras.

 

PINHO LEAL, Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de,

Portugal Antigo e Moderno, Lisboa, Livraria Editora Tavares

Cardoso & Irmão, 2006 (1873), p. Tomo III, p.184

 

Retirado de:

 

CEAO – Centro de Estudos Ataíde Oliveira

 

http://www.lendarium.org/narrative/fiaes/?place=78