OS NOVOS LUSÍADAS
Certo dia, como se fora um qualquer lunático, passou-me pela cabeça continuar «Os Lusíadas», obra escrita por Luís Vaz de Camões no século XVI. Se ele, em circunstâncias assaz difíceis, sem a preciosa ajuda dos computadores e seus programas, sem livros de história ali à mão, sem dicionários, sem enciclopédias, sem nenhuma biblioteca de apoio. Conseguiu levar a cabo aquela imensa epopeia, aquele monumento literário, aquele alforge de saber e imaginação, também eu, ser humano como ele, poderia construir algo parecido. Acontece que génios como Camões só surgem no planeta de cem em cem mil anos; logo, teremos muito que esperar e desesperar. Os seus vastos conhecimentos, a sua capacidade de apreender tudo aquilo que o rodeava, as suas leituras da juventude, a sua vivência, a sua escrita empolgante, são irrepetíveis. Apesar de saber tudo isso, vou dar início a este louco empreendimento, sabendo de antemão que vai ser obra pequena, defeituosa, inacabada. A vida é assim, não se pode parar. Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco na prosa, Amália Rodrigues no fado, José Afonso na canção, Travassos, Eusébio, Figo e Cristiano Ronaldo no futebol, Livramento nos patins, Joaquim Agostinho no ciclismo, Carlos Lopes, Fernando Mamede, e Rosa Mota no atletismo, etc., foram figuras cimeiras na sua arte, na sua profissão. No entanto, outros artistas foram bons, ou aceitáveis, sem contudo atingir a perfeição dessas estrelas. «Parar é morrer», já diziam os nossos antepassados. Por isso, mãos à obra. A história de Portugal é riquíssima, há muita matéria-prima a explorar. Quem sabe se esta ousada iniciativa não irá estimular alguém com mais talento e saberes do que eu? Aguardemos.
Em mil e quinhentos sai do Restelo
A frota comandada por Cabral;
Os navios levam pão, chirelo,
Muita carne, conservada em sal…
Iam em busca de terras, dum selo,
Para a nobre causa de Portugal.
Descobriram, “por acaso”, o Brasil,
Rico de matas, ouro, rios mil.
………………..
Vou abraçar os meus velhos amigos,
Se é que ainda algum por lá mora;
Comerei com eles belos formigos,
O estonteante doce de amora;
Fumeiro, vinho, são ora inimigos,
Mas por eles nosso paladar chora.
Os anos destruíram nossa mente,
Oxalá dê fruto nossa semente.
OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de «Os Lusíadas» de Camões)
Joaquim A. Rocha
Edição do Autor
Janeiro 2018
pp.5, 29, 180
Joaquim A. Rocha edita o blogue Melgaço, Minha Terra