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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

O MOSTEIRO DE S. SALVADOR DE PADERNE

melgaçodomonteàribeira, 30.09.17

 

 

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Quando, há um ano, se procedia à inventariação e catalogação dum acervo precioso de documentos avulsos dos séculos XVII e XVIII existentes na Secção de Manuscritos do Arquivo Distrital de Braga, descobrimos, num maço de prazos de casas sitas em Ponte de Lima, uma «Carta de Sentença» de 1627 e relativa à demanda que opôs, como autor, o Mosteiro de S. Salvador de Paderne ao réu Gregório de Mogueimas Fajardo, senhor da Quinta de Pontiselas e descendente do «primeiro comendatário de Paderne», segundo Felgueiras Gaio.

Testemunho inédito desta demanda até agora ignorada, o documento descoberto possui também outras informações relevantes, que justificam plenamente a sua análise e que podem ser incluídas em três grupos: no primeiro estão os dados de carácter económico envolvidos na descrição do valor e natureza da renda causadora do litígio; no segundo temos as referências à localização e origem das Casas da Quinta de Pontiselas, que ainda hoje existem apesar das grandes alterações sofridas e que constituem na sua singeleza uma peça valiosa do património arquitectónico melgacense e no terceiro encontram-se os nomes, os quais serviram de ponto de partida ao esboço genealógico da família do réu.

Seguindo a peugada dos teóricos da «História Nova» convém defender o uso, no âmbito da historiografia nacional, da análise globalizante dos documentos, que consiste em extrair das fontes a trama de relações, problemas e referências aí contida.

 

UMA SENHORA DA SOCIEDADE

melgaçodomonteàribeira, 23.09.17

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rua de baixo - vila

 

 

O ANTIGAMENTE

 

 

O passado está sempre presente no dia a dia das pessoas, especialmente daquelas que já passaram da conta. Não há nada que aconteça que não tenha já acontecido, noutro contexto e com outra roupagem, é claro.

Detalhes do quotidiano, principalmente os que nos aborrecem, despertam-nos algo parecido, semelhante ou então a repetição exacta do já acontecido.

Então acontece que os resmungos da minha mulher além de me enfastiarem lembram momentos parecidos connosco e com outros. Inerente a quem já ultrapassou a fase de pular muros, regatos, etc., implica involuntariamente, com o que possa estar no chão. Daí que os entendidos recomendam retirar tapetes, passadeiras, até jornais dos pisos onde circulam as pernas cansadas. Apesar das recomendações as mulheres gostam dos detalhes que possam dar-lhes satisfação pela beleza decorativa que proporcionam às suas casas. Sempre conservam um tapete ou passadeira e o que é pior, esticadinha. Ao passarmos, sem darmos conta, o trapo ou serapilheira que seja, que está no chão, vai na frente, enrugando-se. Ela ou elas reclamam, não só por serem dois anos mais novas, mas por fazerem hidroginástica e anda levantarem melhor as pernas.

Um dia destes, lembrou-me o Dr. Rocha. No início dos anos trinta do século passado (é claro), havia na Vila de Melgaço uma figura muito conhecida, respeitada que gozava da simpatia geral, pelo menos do meu tio Emiliano com quem eu vivia na altura, era o Dr. Rocha, pessoa já idosa, para mim que teria no máximo sete anos. Segundo concluí mais tarde, seria o Notário ou Conservador do Registo Civil, não lembro bem, vivia com a esposa, acho que não tinham filhos, naquela casa do lado esquerdo de quem estava na Câmara, entre a cabine de electricidade e a avenida, na Feira Nova. Mais tarde quem viveu nessa casa durante alguns anos foi o Sr. Alvim com a esposa, D. Alzira e os filhos.

A esposa do Dr. Rocha (nunca lhe soube o nome completo) era uma senhora toda empertigada, o tipo de matrona, tanto física como autoritária, da idade do marido, de nome D. Adelaide, que sempre era evocada como D. Adelaide Rocha, não para a diferenciar de outras Adelaides, que por acaso na altura não as havia, mas porque o seu porte imponente e postura fidalga assim recomendavam. A rigor, tal procedimento mais imanava da subserviência do povo que endeusava quem se arrogasse socialmente superior. Sempre se apresentava em público rigorosamente trajada e ajaezada com as suas jóias apaparicada pelas outras senhoras da sociedade. Este tipo de pessoas para mais se evidenciarem transformavam pequenos actos rotineiros em casos extraordinários. Um domingo, a D. Adelaide Rocha precisou deslocar-se não sei onde e para tal chamou o Emiliano que no seu carro de praça costumava servir o casal. No regresso a D. Adelaide Rocha desembarcou (saiu do carro) no terreiro onde outras senhoras da sua categoria passeavam exibindo-se. Correu para elas afobada, pedindo para ser abraçada e lamuriando: “O patife do Emiliano quase me matou!”, e contou o sucedido. Tinha desenvolvido enorme velocidade. E era verdade! O Emiliano que geralmente não passava dos quarenta quilómetros com o seu Andorinha (Ford modelo A), naquela tarde, aproveitando uma das poucas e pequenas rectas que existiam na estrada, chegou aos cinquenta quilómetros.

   Em casa a D. Adelaide também primava pelo esmero. Naquela época, naquelas paragens, não se conhecia a cera para soalhos, daí que o chão das casas era lavado com água, escovão e sabão amarelo, de joelhos. Uma mulher, criada, contratada ou a dona da casa, molhava, esfregava e enxugava o chão dos aposentos. Era uma tarefa cansativa. A D. Adelaide mandava semanalmente esfregar o chão de sua moradia, e ai de quem naquele dia pisasse fora das passadeiras. O Dr. Rocha que, além do gabinete oficial no edifício dos Paços do Concelho, tinha seu escritório em casa que várias vezes ao dia precisava consultar e, distraído, pisava onde não devia, o que lhe custava intermináveis sermões e admoestações pouco lisonjeiras.

Ano após ano, revoltado com tão enervante rotina, resolveu fazer valer seus direitos de dono de casa. Num dia em que o chão fora esfregado, antes de entrar em casa, encharcou as botas na lama do rego que passava em frente e nos dejectos dos cães e triunfalmente passeou por todos os cómodos da casa. Ninguém soube o que aconteceu depois, mas continuaram a viver harmoniosamente.

 

   Rio, Fevereiro de 2013

                                                                                                                 Manuel Igrejas

 

Publicado em: A Voz de Melgaço   

                                               

EL REY DOM MANOEL E OS CRIMINOSOS GALEGOS

melgaçodomonteàribeira, 16.09.17

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COLLECÇÃO CHRONOLOGICA DA LEGISLAÇÃO PORTUGUEZA

 

 

DOM MANOEL, por graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves etc. A quantos esta nossa Carta virem, fazemos saber, que o Juiz e Officiaes da Villa de Melgaço nos enviaram dizer, que, por se evitarem algumas mortes, roubos e males, que muitas vezes na dita Villa se faziam, por alguns galegos do Reino de Galiza se á dita Villa se vierem acolher e estar, tendo no dito Reino commettidos e feitos graves maleficios; e por ser de vosso escusarem isso mesmo, e outros inconvenientes de nosso serviço, elles fizeram accordo em Camara, que os taes galegos de capa em colo, que os ditos maleficios graves no dito Reino de Galiza commettessem, nom fossem consentidos nem acolhidos em a dita Villa; pedindo-nos que, por quanto em alguma maneira o Alcaide-mór Pero de Crasto lhes ia contra seu accordo, em acolher comsigo os taes: mandassemos que seu accordo que sobre isto tinham feito, lhes seja em tudo guardado e cumprido, e lho confirmássemos. E visto por nós, e por nos parecer seu requerimento justo e honesto, temos por bem e confirmamos-lho, e queremos e mandamos que os taes galegos de capa em colo, e que assim os ditos maleficios graves commetterem e fizerem no dito Reino de Galiza, nom sejam acolhidos nem consentidos na dita Villa, e se cumpra e guarde o accordo dos Officiaes, sobre isto feito, como nelle é contheudo, porque assim é nossa mercê. E mandamos a todos nossos Corregedores, Juízes e Justiças, que assim o façam cumprir e guardar. Dada em a nossa Villa de Almeirim, a 13 dias de Junho. Alvaro Fernandes a fez. Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1500.

Pedindo-me por mercê o dito Concelho e homens bons da dita Villa de Melgaço, que lhe confirmasse a dita Carta, e visto por mim seu requerimento, querendo-lhes fazer graça e mercê, tenho por bem e lha confirmo, e mando que se cumpra e guarde, como se nella contem.

Bastião Lamego a fez, em Lisboa, a 23 de Outubro do anno de 1529 = EL-REI.

 

 

Retirado de: Collecção Chronologica da Legislação Portugueza

                     Compilada e Anotada por:

                     José Justino de Andrade e Silva

                        bacharel formado em direito

                     Lisboa Imprensa Nacional 1859

 

http://books.google.pt

 

MORREU A KAYA

2005 - 2017 

 

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kaya, na rua de baixo, desafia o dono para um passeio e, quem sabe, contar-lhe a história da família

 

 

TRAGÉDIA A CAMINHO DE FRANÇA

melgaçodomonteàribeira, 09.09.17

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NOTÍCAIS DE MELGAÇO Nº 1201, DE 10/6/1956

 

 

Pelos diários de Lisboa soube-se aqui na passada sexta-feira, à tarde, a triste notícia de na fronteira franco-espanhola, próximo da povoação de Tostela e na estrada de Figueras para a França, terem sido avistados pela Guardia Civil dois automóveis de matrícula portuguesa e a escaparem-se à sua fiscalização, e porque não obedeceram às suas ordens balearam-nos, furando os pneus a um dos veículos e ferindo os passageiros do outro. Neles iam emigrantes indocumentados portugueses e espanhóis e dessas balas dois deles vieram a falecer, os nossos conterrâneos de Alvaredo, José Diogo Fernandes (casado) e Bento Fernandes (solteiro, irmão do José Diogo), estando no hospital de Gerona gravemente ferido José Abreu Barreiros (nascido a 3/8/1931), e dois outros, cuja gravidade dos ferimentos se desconhece, Francisco Fernandes Domingues (nascido a 10/6/1928, solteiro, da Sobreira) e António Abreu Gonçalves (nascido a 21/9/1933). Nas cadeias de Gerona encontram-se ainda os nossos conterrâneos, José Augusto Afonso Domingues, Eduardo Besteiro (nascido a 2/11/1924), Franklim Lopes Rodrigues (nascido a 28/2 1927) e Augusto Vilarinho, que morava em Felgueiras. Estes e os feridos seriam mais tarde julgados em Portugal em tribunal militar.(1)

 

  • Eram todos melgacenses.

 

 

Retirado de:

                   Dicionário Enciclopédico de Melgaço

                   Volume I

                   Joaquim A. Rocha

                   Edição do autor

                   2009

                   p- 222

 

PONTES ROMANAS E ROMÂNICAS DE CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 02.09.17

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Ao escolher este tema para o meu primeiro caderno sobre a história e arte das magníficas Pontes que ligam as margens do rio Laboreiro e seus Afluentes, o meu coração de Castrejo bateu mais apressadamente do que é normal: pois tomei uma tremenda responsabilidade perante os meus conterrâneos, quando resolvi soletrar algumas das mais belas páginas do seu rico património histórico e artístico, cujas folhas, constituídas por duro granito da região, continuam a desafiar o tempo e cujas idades se medem por 20 e 8 séculos respectivamente. Apesar da sua já longa existência guardam na sua própria estrutura a mesma grandeza do passado. Por elas passaram os Castrejos de, há já 2.000 anos, e ainda hoje as utilizam para transporem os volumosos cursos de água, no inverno, e os caudais límpidos no Verão. Situada numa grande bacia hidrográfica, esta vetusta freguesia conserva no seu longínquo passado lindas e numerosas pontes que a ligam às civilizações Celta, Romana e Medieval. Embora a sua maior parte haja sido classificada pelo Instituto Português do Património da Cultura, umas como Monumentos Nacionais e outras como Imóveis de Interesse Público, estou certo de que vale a pena descrevê-las em todos os seus pormenores, fazendo o levantamento fotográfico da cada uma, especificando o estilo utilizado na sua construção, com as medidas precisas de altura, comprimento e largura, as vias de comunicação que ligavam e o tempo aproximado da sua construção. É uma tarefa bastante custosa para mim, mas faço-o com o máximo interesse e carinho; pois estas obras de arte e história fazem parte do povo, de quem nasci, e cujo curriculum vitae constitui para mim motivo de orgulho. Os meus defeitos, as suas virtudes estão intimamente ligados ao meu carácter, à minha personalidade. São raízes de um passado, que não volta. Pelo estudo dos seus históricos Monumentos podemos facilmente aquilatar a grandeza e antiguidade da sua civilização. Esperançado em que este meu despretensioso trabalho concorra para um conhecimento mais completo e profundo das antiguidades de Castro Laboreiro, das suas paisagens e das suas gentes, vou iniciar o meu trabalho.

 

Castro Laboreiro, 10 de Julho de 1984

 

Padre Aníbal Rodrigues

 

 

PONTES ROMANAS E ROMÂNICAS DE CASTRO LABOREIRO

 

Autor: Padre Aníbal Rodrigues

 

Edição: Cadernos da Câmara Municipal de Melgaço nº 2

             CÂMARA MUNICIPAL DE MELGAÇO

1985