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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

CERTO NEGÓCIO DE SERVIÇO D'EL REI

melgaçodomonteàribeira, 19.08.17

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DOMINGOS GOMES DE ABREU COELHO DE NOVAIS

 

Filho legítimo de Domingos Gomes de Abreu e D. Francisca Coelho, de nº 4, nasceu em Melgaço a 21 de Janeiro de 1668 e seguiu a carreira militar falecendo no posto de capitão de uma das companhias do terço do capitão-mor Pedro de Sousa Gama, fundador do morgado da Serra.

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Fez-se armar cavaleiro da Ordem de Cristo em 31 de Dezembro 1698 na igreja da Senhora da Conceição em Lisboa e professou no ano seguinte aos 9 de Fevereiro, no convento de Tomar, nas mãos de Fr. Fernando de Morais, superior do referido convento, renunciando primeiro o ano e o dia do seu noviciado e aprovação.

Frei Domingos Gomes de Abreu casou aos 28 de Novembro de 1700 em Lapela, termo da vila de Monção, com D. Isabel de Faria.

No ano de 1701 aos 30 de Maio tomou posse da Feitoria Geral das Alfândegas da Província do Minho, tocante aos portos secos, molhados e vedados, cargo que exerceu por três anos.

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E em 14 de Março de 1703 comprou a Maria Domingues, viúva e suas filhas e genro, Francisca de Magalhães e Maria de Magalhães, ambas solteiras, moradoras na vila e Águeda Domingues e marido Sebastião Fernandes, moradores no Telheiro, freguesia de Rouças, «a sua mettade do Moinho chamado da Ponte apedrinha que he telhado e preparado e aparelhado com seu pico assim e da maneira que elles vendedores o possuião e parte do nascente com terras de Domingos Esteves Sereiro e do poente com monte delas do monte de prado» por trinta mil réis em moedas de prata correntes no reino.

Pouco depois, um ou dois meses decorridos, pelo conde da Atalaia, Governador das Armas da Província do Minho, foi Frei Domingos de Abreu enviado ao reino da Galiza a certo negócio de serviço de el-rei.

Por razões, que hoje ignoramos, mas que é lícito filiar em questões da Guerra da Sucessão ao trono de Espanha em que el-rei D. Pedro II se envolveu em 1701, o Governador de Vigo prendeu este mensageiro do conde da Atalaia em sua casa e durante cinco dias o meteu nas minas do castelo do Crasto; dali o passou para o castelo de Santo António na Corunha e por fim para o cárcere real para lhe «darem questão de tormento».

Foi nestes aflitivos transes que o familiar do Santo Ofício lembrando-se dos inumeráveis milagres feitos naqueles sítios pela Senhora da Pastoriza, cujo santuário e piedade dos galegos erguera a seis quilómetros da cidade no caminho de Finisterra; foi nesses transes bem dolorosos para seu espírito esclarecido, que o ilustre melgacense a invocou e lhe pediu amparo, prometendo-lhe levantar-lhe capela privativa na sua terra, no vistoso sítio do Coto da Pedreira, se aquela Virgem permitisse a ela voltar dentro de um ano.

E como passados cinco meses e cinco dias em virtude de um decreto especial foi degredado para fora dos limites de Espanha, nunca mais esqueceu o seu voto e se mais cedo o não cumpriu, foi por andar ocupado na Guerra da Sucessão, que naqueles dias se desenrolaram neste termo.

De facto, Frei Domingos Gomes de Abreu, português de lei, patriota exaltado, militar brioso e aguerrido, nunca permitiria que os galegos nos ofendessem impunemente e, por isso, durante esta guerra permaneceu sempre de ouvido à escuta, sempre pronto a fazer pagar caro aos vizinhos da fronteira os tormentos infligidos ao seu corpo e ao seu espírito nas longas e sombrias horas de cárcere.

 

 

O MEU LIVRO DAS GERAÇÕES MELGACENSES

Volume I

Augusto César Esteves

Edição da Nora do Autor

Melgaço

1989

pp. 67-72