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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

O AVARENTO DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 17.06.17

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O AVARENTO

 

 

Havia um homem duma aldeia de Melgaço que, ainda novo, saltou para França e por lá andou a labutar como mineiro. Sendo o trabalho duro e pouco saudável, acabou por voltar quando tinha alguns francos no bolso. Vendeu as fragas que lhe couberam em herança e comprou por tuta-e-meia uma quintarola ao pé de Braga de antigos senhores arruinados.

Vivia sozinho em casa e a sua vida era o amanho contínuo das leiras e das hortas à volta. Uma vaca, galinhas, alguns coelhos e um cão eram as únicas companhias. À excepção dos trabalhos mais pesados, como o das vindimas e o da ceifa, em que tinha de pedir ajuda, evitava o contacto com a vizinhança.

Viam-no por vezes nos caminhos a vergar ao peso de um fardo de palha ou de um carrego de mato, pois carroça não tinha e não usava. Dizia-se que comia caldo aziumado de uma semana e carne de porco gorda, para poupar. E constava-se que com aquela sovinice toda devia ter uma boa maquia debaixo do colchão.

Uma vez por semana ia ao mercado da cidade a pé vender uma dúzia de ovos, uns quilos de batatas, a fruta que lhe sobejava porque não gastava desses luxos e uma galinha gorda. Até que um dia cegou e foi graças aos gritos de desespero que os vizinhos lhe foram acudir.

Alguns mais gananciosos, aproveitaram a ocasião para procurar debaixo do colchão. Mas não encontraram nada. O homem, ou meteu o dinheiro no banco, ou escondeu-o nalgum buraco da casa.

Morreu pouco depois, deixando a quinta aos sobrinhos de Melgaço que mal o conheciam e o deixaram morrer como cão abandonado. Porque não se entendiam entre si quanto às partilhas, a quinta e a casa foram deixadas ao Deus dará.

A casa, com a falta de uso, começou a arruinar-se e hoje em dia dizem que está assombrada com a alma penada do dono, que anda por ali a guardar o dinheiro escondido. Há quem afirme ter visto de noite luzes dentro de casa. Muitos dizem ser mentira, pois as portadas das janelas estão sempre fechadas e, se houvesse luz dentro de casa, não se veria cá de fora.

 

 

 

Fonte: AA.VV., - Literatura Portuguesa de Tradição Oral

                             Projecto Vicial – Univ. Trás-os-Montes e Alto Douro

  1. p.AP14

 

Retirado de: www.lendarium.org/narrative/o-avarento/?category=28

 

Centro de Estudos Ataíde de Oliveira