Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

CRÓNICA ESQUECIDA D'EL REI D. JOÃO II

melgaçodomonteàribeira, 03.09.16

1 - 106 - cronica d joão II.jpg

 

 

(…)

Chegou a Lisboa uma delegação de judeus espanhóis, dirigidos pelo velho e respeitado D. Isaac Aboab, o último Gaon de Castela e que já fora mestre de Abravanel.

Vinha acompanhado de trinta rabinos dos mais ilustres de Castela, o bom velho, e solicitou ao Rei a sua clemência e a entrada dos judeus de Castela em Portugal. Os trinta rabinos ficaram alojados no Porto e o Monarca deu as garantias necessárias porque viu na situação um bom negócio. É assim em política. O Rei necessitava, para a expansão e as viagens marítimas, de dinheiro, artífices e gente que trabalhasse a parco soldo em troca da vida. O Porto, os trinta rabinos, pagariam à municipalidade cinquenta maravedis anuais e calcetariam à sua custa a Rua de S. Miguel, os outros cerca de sessenta mil cruzados de ouro e outros ainda oito cruzados de ouro (isentos os recém-nascidos). Entrariam os de Placença por Olivença, Arronches, Castelo-Rodrigo, Bragança, Melgaço… O Rei reuniu-se na sua mui amada Sintra com o Conselho onde alguns dos seus membros recusaram a entrada dos judeus e, como seria de esperar, as próprias comunidades portuguesas de judeus também se opuseram a que os irmãos de Castela entrassem a fronteira porque era impossível ao país aguentar tal intromissão sem problemas. Onde se acoitaria tanta gente? A imigração em massa traria grandes desgraças! Pois bem, respondeu o Rei: seria só por oito meses! Depois partiriam. Far-se-ia uma escolha e navios especialmente contratados seriam cheios dessa malvada gente e eles, os espúrios da terra, levados para os portos que escolhessem…

 

Crónica Esquecida d’El-Rei D. João II

Seomara da Veiga Ferreira

Editorial Presença

Lisboa, Maio, 1996 

P. 241