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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

A EUROPA EM QUE VIVEMOS

melgaçodomonteàribeira, 24.03.16

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professor álvaro domingues

 

Inspecção antes da entrada no aeroporto “iria infernizar a vida das pessoas” 

 

23 Mar, 2016 – 11.30 . André Rodrigues

 

“Os atentados não são coisas evitáveis. Temos de nos habituar a viver numa sociedade de risco e a aceitar esse risco sem a ilusão de que tudo se pode planear ou evitar” diz Álvaro Domingues, especialista em transportes.

 

Os atentados de Bruxelas colocaram a segurança das redes de transportes públicos na ordem do dia. De Nova Iorque a Londres, as autoridades responderam aos ataques desta terça-feira com reforços de segurança visíveis em aeroportos, estações de caminhos-de-ferro e de metropolitano.

Mas pode a Europa adaptar protocolos de vigilância mais apertada  no acesso aos terminais de transportes? Em entrevista  à Renascença, Álvaro Domingues, especialista em transportes da Universidade do Porto, reconhece que a ideia é compreensível, mas não se adequa à normalidade desejável para o dia-a-dia dos cidadãos.

 

Há na Europa uma relativa facilidade no acesso às zonas públicas dos aeroportos que contrasta com a prática comum noutros países – Turquia, Israel, Rússia e alguns países africanos – que para travar o risco de ataques terroristas, inspecionam passageiros, viaturas e bagagens ainda antes da entrada no edifício do aeroporto. Faria sentido adoptar um protocolo de segurança semelhante no espaço europeu?

Creio que não. Essa reacção é compreensível numa situação dramática como a que aconteceu em Bruxelas, mas não me parece exequível. Isso iria infernizar completamente a vida das pessoas.

O terrorismo na Europa veio para ficar e para durar. Por outro lado, há uma certa invisibilidade neste tipo de fenómenos, que são muito difíceis de perceber. Portanto, por muito que nos custe, creio que isto é um sinal dos tempos e vamos ter que viver com esta questão.

Mas não é novidade que os terminais de transportes são alvos apetecíveis para os terroristas. Como evitar que um atentado ponha em causa a normalidade do dia-a-dia das pessoas?

Para mim, a solução equilibrada é continuarmos a fazer a vida de todos os dias porque as ocorrências e circunstâncias em que um atentado pode acontecer são infinitas. Desde os atentados de Nova Iorque em 2001 até à estação de comboios de Madrid ou o aeroporto de Bruxelas, todos sabemos que os terminais de tráfego muito frequentados são um alvo porque passa lá muita gente e porque o terrorista quer sempre visibilidade mediática. E o morticínio garante-lhe essa visibilidade. É assim. Não há volta a dar. Mas o efeito pode ser semelhante em termos mediáticos noutras circunstâncias e noutros lugares muito diferentes destes.

Acho que não podemos construir respostas de fiscalização das pessoas e dos utentes à medida que os atentados se forem diversificando nos locais onde ocorrem. Temos de fazer a vida normal de todos os dias sem cairmos nesta paranoia securitária e nesta ilusão de que, com esta vigilância, as coisas vão ser evitadas.

Portanto, a bem da segurança, não aceita a possibilidade de se deslocar com ainda mais antecedência para o aeroporto, estando eventualmente disposto a enfrentar várias horas de fila num posto de controlo?

Isso não resolve nada. Nem era exequível em nenhum aeroporto português. E muito menos em aeroportos de grande tráfego como Heathrow (Londres, Inglaterra) ou Frankfurt (na Alemanha).

Além disso, levar-nos-ia a uma espiral de absurdo, porque não é isso que vai evitar os atentados. Nem os atentados são coisas evitáveis. Temos de nos habituar a viver numa sociedade de risco e a aceitar esse risco sem a ilusão de que tudo se pode planear ou evitar.

Essa conversa é válida para o que aconteceu em Bruxelas ou para um acidente rodoviário de grande envergadura. Há sempre uma alminha esforçada a dizer que tudo se podia evitar ou prever. Mas nestes tempos complexos que vivemos, a sociedade só funciona com uma certa espontaneidade. Eu não posso estar constantemente a criar “checkpoints” de cada vez que uma coisa destas acontece. Isso poderia desencadear o inferno na vida das pessoas. Imagine o que seria sair de casa, entrarmos nos transportes, chegarmos ao nosso local de trabalho e sermos revistados a todo o momento. Isso é impossível. Não pode ser.

 

ENTREVISTA RÁDIO RENASCENÇA