FRONTEIRAS A SALTO
primeiros metros dum país, primeiros metros da nossa terra
O escritor neo-realista Assis Esperança publicou, em 1963, o romance Fronteiras, cujo título denuncia o tema. Aventura e drama continuavam a misturar-se no forçado exílio para que arrastado o trabalhador do campo e da cidade, maioritariamente compelido a buscar em terra estranha as condições de vida que a pátria não lhe proporcionava. Na Europa, a França, Luxemburgo e Alemanha perfilavam-se como destinos procurados. A emigração clandestina, tentada a salto apesar do forte controle ditatorial salazarista, constituía o recurso de que grande parte se via forçada a servir-se. As redes e caminhos do contrabando ofereciam-se por todo lado. Do litoral ao interior do país, alimentava-os esmagadora procura de trabalho para mão de obra não especializada. No romance de Assis Esperança se confirma que os engajadores não paravam de recrutar «homens da Beira Litoral e do Alto Minho, os de Castro Laboreiro numa percentagem ainda tão razoável que (…) levava a pensar que naquela e, possivelmente noutras regiões serranas apenas acabariam por ficar algumas mulheres, os velhos e as crianças». A obra oferece a surpresa de ser uma mulher, e com alguma escolaridade, a protagonista que vai demandar trabalho além fronteiras.
Retirado de:
Estudos em Homenagem a Luís António de Oliveira Ramos
Universidade do Porto