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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

OS SICÁRIOS DE MELGAÇO EM CAMILO

melgaçodomonteàribeira, 27.02.16

 

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ESTRELLAS FUNESTAS

 

CAMILO CASTELLO BRANCO

 

 

Uma noite, caindo a ponto falar-se na pertinacia boçal do conde de Monção, disse o alcaide o seguinte:

- Traz-me á memória um successo, que se deu, depois da vossa ida para Portugal. Fui eu avisado de que dois homens suspeitos tinham chegado a Segóvia, e saíam de madrugada a fazer excursões pelos arrabaldes. Mandei-os espionar, e soube que elles estanceavam por estes sitios, indagando dos aldeãos qual terra vós teríeis ido habitar. Com esta informação fiz prender os homens. Pedi-lhes o passaporte, e vi que os viandantes eram portuguezes, naturaes de Melgaço, e contractadores de carneiros. Não sei por que instincto, retive-os até me darem abono. Não conheciam ninguém em Segóvia; mas deram-se pressa em escrever para Portugal. No entanto, perguntei-lhes o que tinham elles vindo fazer nos arredores d’esta quinta. Responderam que andavam em cata de gado para comprarem. Redobraram as minhas suspeitas. Inquiri o que tinham elles com uma familia, que se alojava n’esta quinta. Tartamudearam e confirmaram a certeza de seus máos intentos. Quinze dias depois, recebi ordem do governo madrilense para dar soltura aos presos. Não tinha outro remédio: soltei-os. Escrevi para Madrid, pedindo que se averiguasse na repartição competente quem afiançára aquelles dois presos. Tive em resposta que o ministro recebera directamente uma carta de seu parente, o conde de Monção. De proposito vos occultei este episodio em minhas cartas, cuidando em não vos aggravar as desgraçadas apprehensões. Agora vos digo que isto me fez apprehender muito a mim. Segundo o que Filippe me contou, o aviltado conde, a meu parecer, aprazou a vingança de cobarde. Aquelles homens eram sicarios enviados por elle. Já passou um anno, e naturalmente o conde está esquecido da affronta e da vingança; mas, ainda assim, recommendo-vos toda a cautela, que os mais temidos dos inimigos é aquelle que nos foge. Não me oppuz; porém não approvo a vossa vinda para logar tão ermo. Antes queria ver-vos na cidade, onde as emboscadas traiçoeiras são menos possiveis, e a minha vigilancia mais apontada.

 

Estrellas Funestas

Camilo Castello Branco

Parceria António Maria Pereira

1906

 

Ler EBook: http://www.gutenberg.org/files/31694/31694-h/31694-h.htm 

 

O CÃO DE CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 20.02.16

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A HISTÓRIA DO CÃO DE CASTRO LABOREIRO

 

 

A origem do cão de Castro Laboreiro, perde-se na memória dos tempos, considerando-se uma das raças mais antigas da Península Ibérica.

Pensa-se que, tal como os seus parentes, Cão da Serra Estrela e Rafeiro do Alentejo, teria descendido do Dogue do Tibete que, dos Himalaias irradiou para todo o mundo, acompanhando as deslocações  populacionais que ocorreram ao longo dos tempos e teria dado origem aos molossos e cães tipo montanha.

O solar desta raça situa-se na região que lhe deu o nome – Castro Laboreiro, situado no Noroeste Peninsular, que compreende a serra da Peneda e planalto de Castro Laboreiro, a ajuizar pelos testemunhos orais e até alguns escritos, a sua distribuição, no passado, poderia até chegado à zona da serra do Soajo, mas não se deve confundir esta raça com o sabujo que existiu nesta mesma região do Soajo.

Com o evoluir dos tempos, a sua distribuição ficou circunscrita à freguesia de Castro Laboreiro, uma área muito fechada e com poucas influências externas, podendo assim manter as suas características únicas.

A partir dos anos 60, a forte emigração que afectou toda esta região e a melhoria das vias de comunicação originaram a entrada de novas raças como o Cão Pastor Alemão entre outras, que levaram a uma degeneração da raça devido aos cruzamentos efectuados.

Também o abandono da actividade pecuária levou à grande diminuição do efectivo desta raça que ficou à beira da extinção. Mas a acção determinada do padre Aníbal Rodrigues, pároco local, e o apoio de alguns habitantes locais foram mantendo alguns núcleos, não permitindo o seu desaparecimento.

Também se verificou a manutenção de alguns núcleos fora do seu solar, principalmente na região de Lisboa, que encontram a sua preponderância na formação do Clube do Cão de Castro Laboreiro.

A realização do concurso tradicional anual que se vem realizando ininterruptamente desde 1954, com o apoio do C.P.C., no dia 15 de Agosto, em Castro Laboreiro também tem contribuído para a sua salvaguarda.

A região de Castro Laboreiro situa-se a uma altitude média de 1000m é propícia a pastorícia extensiva, que desde sempre constituiu a riqueza desta região, com rebanhos de Bovinos, Caprinos e Ovinos. Mas nesta região também existem, os predadores, cujo seu digno representante é o Lobo Ibérico. Por isso os pastores sempre necessitaram de meios de defesa e o principal sempre foi o Cão de Castro Laboreiro.

Este guarda de rebanhos por excelência, sempre pronto a defender o seu quinhão e enfrentando valentemente o lobo sem qualquer receio, é um guardião fiel e dedicado. Fica sempre junto ao rebanho, mesmo quando o pastor está ausente a realizar outras tarefas, está muito adaptado ao clima rigoroso da região e mesmo à noite quando o rebanho, o nosso guardião está alerta e de guarda à sua propriedade.

 

Retirado de: 

Sendas da Gallaecia

 

Publicado por Gallaicos

 

http://sendasdagallaecia.blogspot.com/search/label/cao%20Castro%20Laboreiro

LENDAS DO VALE DO MINHO

melgaçodomonteàribeira, 13.02.16

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O Vale do Minho é um espaço de forte identidade cultural, com características muito próprias e particulares, subjacentes à riqueza do seu património (arqueológico, edificado, gastronómico e etnográfico), e a um tipo de vivência que referencia e cataloga a sua população.

Estamos perante uma região detentora de produtos culturais de excelência, reconhecida pela sua tradição em festas e romarias, pelo folclore e artesanato e por uma elevada qualidade de vida.

No cerne desta riqueza cultural destaca-se o património lendário da Vale do Minho, o qual tem vindo a sofrer ao longo do tempo um tratamento menos adequado, de deturpações e perdas permanentes e irremediáveis.

Perante a necessidade de recuperar este legado histórico de valor e variedade notáveis emergiu uma vontade colectiva de garantir a sua preservação e continuidade através das gerações mais novas.

Neste contexto, a Associação de Municípios do Vale do Minho assumiu este desfio e, no âmbito do projecto “Promoção e Gestão da Imagem do Vale do Minho”, co-financiado pela Medida 1.4. – Valorização e Promoção Regional e Local – da ON/Operação Regional Norte, promoveu o levantamento das lendas do Vale do Minho.

Esta tarefa, que implicou um criterioso trabalho de pesquisa e de estudo da região, foi desenvolvida e concretizada pelo Centro de Estudos de Antropologia Aplicada da Universidade Fernando Pessoa.

Como resultado, considerou-se oportuno e enriquecedor proceder à edição da presente monografia que retratasse o Mundo Lendário da Vale do Minho, surgindo como uma narração de qualidade do património oral desta região e um meio de sustentar e garantir a sua preservação e divulgação junto de todos os que evidenciem curiosidade por este testemunho da cultura popular das gentes do Vale do Minho.

 

Valença, Maio de 2002

 

O Conselho de Administração da Associação de Municípios do Vale do Minho

 

 

Lendas do Vale do Minho

Álvaro Campelo

Edição Associação de Municípios do Vale do Minho

2002

 

FRONTEIRAS A SALTO

melgaçodomonteàribeira, 06.02.16

 

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primeiros metros dum país, primeiros metros da nossa terra

 

O escritor neo-realista Assis Esperança publicou, em 1963, o romance Fronteiras, cujo título denuncia o tema. Aventura e drama continuavam a misturar-se no forçado exílio para que arrastado o trabalhador do campo e da cidade, maioritariamente compelido a buscar em terra estranha as condições de vida que a pátria não lhe proporcionava. Na Europa, a França, Luxemburgo e Alemanha perfilavam-se como destinos procurados. A emigração clandestina, tentada a salto apesar do forte controle ditatorial salazarista, constituía o recurso de que grande parte se via forçada a servir-se. As redes e caminhos do contrabando ofereciam-se por todo lado. Do litoral ao interior do país, alimentava-os esmagadora procura de trabalho para mão de obra não especializada. No romance de Assis Esperança se confirma que os engajadores não paravam de recrutar «homens da Beira Litoral e do Alto Minho, os de Castro Laboreiro numa percentagem ainda tão razoável que (…) levava a pensar que naquela e, possivelmente noutras regiões serranas apenas acabariam por ficar algumas mulheres, os velhos e as crianças». A obra oferece a surpresa de ser uma mulher, e com alguma escolaridade, a protagonista que vai demandar trabalho além fronteiras.

 

Retirado de:

Estudos em Homenagem a Luís António de Oliveira Ramos

Universidade do Porto

 

http://books.google.pt