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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

CASTRO LABOREIRO HOJE II

melgaçodomonteàribeira, 11.11.15

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Ribeiro de Baixo, Castro Laboreiro

 

 

CTT na Junta e escola a 16 quilómetros

Há pouco mais de um ano, Castro Laboreiro quase perdia o posto dos CTT. Em protesto, a população cortou a única estrada que liga a freguesia à sede do concelho. A estação acabou mesmo por fechar, mas os serviços foram transferidos para um balcão na junta de freguesia, que funciona três horas por dia. É lá que se fazem os pagamentos das contas, que se recebem as reformas. Isso e pouco mais.

Crianças, nem vê-las. Elisabete Sousa, funcionária do posto de turismo e Secretária da Junta de Freguesia, explica: “As poucas que temos aqui são obrigadas a ir à escola em Pomares”. Desde o ano 2000 que o Ministério da Educação decidiu que Castro Laboreiro não tinha crianças em número suficiente para frequentar as seis escolas espalhadas pelo extenso território da freguesia.

Francelina é proprietária de um dos restaurantes de Castro Laboreiro e tem duas filhas na escola em Pomares. Todos os dias, sujeitam-se a mais de 30 quilómetros de estrada, entre ida e volta. No Inverno, “a preocupação é muito maior”, diz. É que a neve bloqueia a estrada “e o autocarro não arrisca vir por aí acima para vir buscar as crianças”. A solução? “Ou vai lá o meu marido levá-las de propósito ou, então, não vão às aulas”.

A todos os transtornos, acrescenta-se o cansaço das filhas que “saem de casa muito cedo de manhã e só regressam já noite cerrada”. Ficam, muitas vezes, “tão exaustas que nem conseguem fazer os trabalhos de casa”.

Do jardim-de-infância ao quarto ano de escolaridade, é a Pomares que todos vão parar. De lá, os miúdos migram para Melgaço. Depois, chega a hora da universidade. Adultos para se fixar na terra? “Infelizmente, não”, responde Elisabete, com o sorriso amargo de quem antecipa o definhar da terra que a viu nascer.

Vão resistindo os negócios do turismo e da restauração, o principal cartão-de-visita desta zona que beneficia da envolvente do Parque Nacional Peneda-Gerês, mas que se debate com défices que, não sendo tão prioritários como os serviços essenciais, condicionam o dia-a-dia de quem cá vive ou visita a aldeia.

 

Sem telemóveis nem multibanco

Das três operadoras móveis nacionais, só duas funcionam mais ou menos bem e não em toda a freguesia. E o multibanco “só em Melgaço”, diz Fernando, dono de um hotel que também é restaurante e café. Este empresário de hotelaria diz que o estabelecimento “até nem trabalha mal”, mas “nota-se uma quebra no poder de compra” dos clientes, “que são, sobretudo, os espanhóis e os portugueses que viajam com cada vez menos dinheiro”.

É aqui que a crise entra na conversa. Fernando procura empregados para trabalhar na recepção e no serviço à mesa. “Fala-se tanto de desemprego e eu não encontro ninguém que queira trabalhar. Alguma coisa não bate certo”.

Vítor também entra na conversa. É cliente habitual e amigo do dono do hotel. Sempre que pode, vem de Salvaterra de Magos a Castro Laboreiro. É um amante da fotografia, da beleza natural e dos trilhos para as caminhadas. “Por isso, aqui juntei o útil ao agradável. Pena é que as nossas autoridades não estejam atentas ao potencial inesgotável de Castro Laboreiro”.

Fernando concorda. Diz que o turismo em Portugal está viciado por lugares comuns. “No nosso país, o turismo é todo canalizado para as zonas mais evoluídas, como o Algarve. Nós, os pequenos, acabamos sempre esquecidos”. Ou quase sempre. “Aqui só se lembram de nós quando é para pagar os impostos”, desabafa.

 

(continua)