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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

UM REPUBLICANO DE S. GREGÓRIO

melgaçodomonteàribeira, 22.07.15

S. Gregório, 1940

 

JOSÉ JOAQUIM DE ABREU

 

Se este homem de leis fosse vaidoso, não teria deixado de usar os apelidos Lima e Castro Laborinhas de Illoa e Abendanho.
Embora nascesse na pacatez de S. Gregório, foi baptizado na paroquial de S. João de Monte Redondo, na vizinha Galiza.
Estudou as primeiras letras na escola oficial de Paços regida pelo professor Joaquim José Durães e levado pelos incitamentos de sua mãe fez os exames exigidos para poder cursar a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, donde em 1904 saiu bacharel formado.
Ainda escolar de leis na cidade do Mondego, casou em S. Gregório em 3 de Abril de 1901com Augusta Maria de Araújo, irmã de António Augusto de Araújo, arguto e benquisto comerciante naquele lugar e ambos filhos dos comerciantes locais José Joaquim de Araújo e mulher Benedita Pires.
O Dr. Abreu foi dos republicanos mais prestigiosos do seu tempo e por isso mesmo o escolhido pelas autoridades superiores da República para montar aqui os serviços do Registo Civil.
Por vezes, mas sempre com muita correcção, desempenhou as funções de administrador do concelho.
A consideração do povo por esta figura republicana melgacense evidenciou-se poucas horas depois da entrada das tropas fiéis à República na cidade do Porto, aquando em 1919 o Reino da Traulitânia ruiu em todo o norte do país. E evidenciou-se por uma grande mole de povo ter acorrido à Praça da República, subindo às salas da administração e aí imposto aos conterrâneos, ao distrito e à nação o nome do Dr. José Joaquim de Abreu para na conjuntura exercer esse melindroso cargo de administrador deste concelho, visto ser preciso ajustar contas com os monárquicos locais.
E se é verdade que na maioria das almas só o ódio esvurmava, louvem-se aqui os chefes da República pela sua superior visão de crimes políticos, que hoje são odientos e amanhã se contam como virtudes.
A comprová-lo está uma resposta dada a políticos do Porto numa casa da velha Rua da Murta por um melgacense ilustre quando o consultaram sobre o destino daqueles:
- Se de Melgaço vier preso algum dos homens apontados pelos senhores, no mesmo momento eu e os meus amigos abandonaremos o Partido Republicano.
E como estas respostas, quantas outras de vultos melgacenses não nos ocorrem neste momento ao bico da pena?
Ora se aqui não há grandeza de alma, onde encontrá-la neste mundo?
Aqui na terrinha também o Dr. Abreu sobre muitos lançou a capa da misericórdia por no seu coração nunca se ter gerado algo capaz de prejudicar direitos ou interesses legítimos dos contrários, pois, segundo dizia, a todos reconhecia o direito de livremente manifestarem as suas ideias e até de por elas se baterem.
O Dr. José Joaquim de Abreu faleceu na sua casa de S. Gregório rodeado dos carinhos da família no dia 20 de Outubro de 1958 e sua esposa finou-se na Orada em casa do seu filho José em 9 de Fevereiro de 1954.
Descansam ambos no cemitério de Cristoval.

 

O MEU LIVRO DAS GERAÇÕES MELGACENSES


Volume I


Edição da Nora do Autor
Melgaço
1989
pp. 608-609