JOGA-SE EM MELGAÇO
Sueca
Fui a Melgaço, p’la serra,
e ia morrendo de pasmo;
nos Cafés da nossa terra
joga-se com entusiasmo.
Joga empregado, patrão,
o rico, pobre, maltês;
comerciante, artesão
aristocrata, burguês.
Cabo, sargento, tenente,
alfaiate, meirinho;
tudo joga, minha gente,
a cerveja ou alvarinho.
Não sei se acreditais,
‘té eu entrei na jogança;
o meu parceiro Morais,
pra jogar veio de França.
No meu tempo de moçito,
jogava no escondidinho;
o sumo e o pirolito
substituíam o vinho.
Agora, joga-se ali,
na saleta principal;
e a bebida sorri,
borbulhando em espiral.
Joga-se em Prado, Paderne,
em Cubalhão, Remoães;
em todo o lado se joga,
em Lamas e Chaviães.
Um pedaço de alcatifa
cobre a mesa de jogar;
não sei se saiu na rifa,
ou se foi ganho ao bilhar.
A senhora da limpeza,
quando o chão vai aspirar,
aproveita e limpa a mesa,
prò jogo continuar.
E é tanta a emoção,
tanta punhada ali dada,
que até se ouve em Monção
a enorme barulhada.
Joga-se copas e burro,
também vai uma bisquinha;
inventam-se novos jogos,
mas a sueca é rainha.
Fala-se já em campeonato,
numa tournée sem destino;
querem subir ao estrelato,
tornar Melgaço um casino.
Quando chegar o Agosto,
não se admirem de nada;
Melgaço não terá rosto,
perdeu-o numa jogada.
Joaquim Rocha