A ANGELINA DA PONTEPEDRINHA
Na Rua de Baixo
O ANTIGAMENTE
Na Pontepedrinha, lugar um pouco mais elevado que o regato na subida para o Monte de Prado (antigo campo de futebol), ficava a casa do Castro e Angelina, casal com muitos filhos. Embora algo isolada, a casa, sempre havia por ali muitas mulheres que iam do Mascanho e das Carvalhiças lavar a roupa no regato, e todas as tardes as conversas eram animadas comentando a vida alheia. Era a Angelina muito popular por ser bastante activa e muito faladeira. Era conhecida como a Angelina da Ponte Pedrinha a maior mentirosa das redondezas. Não inventava casos ou dava respostas ofensivas. Era de espírito alegre, galhofeira, que as outras pessoas tomavam como bazófia sempre que ela se engrandecia como mais abastada que as outras criaturas. Tinha solução para tudo no seu imaginário. Era uma humorista nata sem saber mas as outras pessoas não lhe reconheciam essa qualidade. Na época de crise passava ela e a família as necessidades que todos passavam, mas não se dava por achada. Na frente das outras pessoas, recomendava aos filhos que fossem jantar ou cear pois tinham sardinhas e bifes no forno, porém havia só uma sardinha para cada dois filhos. Gabava-se de grandes conhecimentos com pessoas gradas e amizades, alardeando sempre que a conversa permitia ser parente do rei da Bélgica.
Quando alguma das suas amigas se queixava de percalços financeiros superados a duras penas, reclamava: “és muito burra, se tivesses falado comigo tinha-te arranjado um bom empréstimo com fulano (dizia o nome de conhecido capitalista da terra)”. Sempre tinha solução fácil para assuntos já resolvidos através dos seus grandes conhecimentos. Quando o assunto requeria solução noutra terra, geralmente alguma cidade, se tivessem recorrido a ela teria preparado uma roupa nova para ir falar com o senhor fulano. Os preparativos compreendiam uma saia nova, blusa, vestido ou sapatos, nunca se apresentaria de maneira vulgar ante seus amigos importantes, dizia.
Certa tarde, no meio de um grupo de pessoas, uma mulher lamentava-se da contrariedade que o seu homem teve com a Repartição de Finanças por uma décima atrasada. A Angelina não teve meias medidas, num rompante bazofiou: “Ó rapariga, se tivesses falado comigo era só fazer meia dúzia de camisolas de dormir e ir a Lisboa falar com o Salazar.” A Maria do Umberto, garotinha, perguntou: “Ó tia Angelina, camisolas? Você ia dormir com o Salazar?”
Nesse dia ela embatucou e desconversou.
Rio, Agosto de 2012
M. Igrejas
Publicado em: A Voz de Melgaço