O ÚLTIMO SUSPIRO...
Cabeçalho do último número
AOS NOSSOS PRESADOS ASSIGNANTES
A Espada do Norte, successora do Melgacense vai suspender a sua publicação. Com o presente número completa um anno de vida e, triste é dizel-o, esse curto lapso de tempo em que sempre pugnou pelos interesses d’este concelho, foi assignalado por contrariedades que lhe assoberbaram a vida e que agora determinam a sua suspensão.
Para quem veja as coisas superficialmente, este facto seria um triste symtoma revellador da decadência intellectual e moral a que se chegou ou de que nunca saiu este concelho.
Precisamos, pois, desvanecer essa má impressão que por muitos motivos se nos afigura injusta.
A nossa terra tem elementos de sobra para sustentar um jornal que dê uma ideia dos seus adiantamentos e defenda, quando fôr mister, os seus legítimos interesses.
Como se explica então a morte do Melgacense e seguidamente a da Espada do Norte?
Vejamos.
Quando alguns generosos rapazes, filhos d’aqui, que nas longínquas plagas da América luctam victoriosamente pela vida, tiveram a ideia alevantada de dotar a terra com um jornal que foi o Melgacense, escolheram para seu redactor um cavalheiro competentíssimo, distincto entre os mais distinctos da nossa terra.
Militando activamente na política com paixão e sinceridade, afigurava-se a este cavalheiro que só a parcialidade política em que se alistara poderia fomentar as prosperidades do paiz. D’ahi um certo interesse ao defender a ideia acalentada com amor e filha da convicção politica de quem peleja com sinceridade.
Esta atitude não satisfez a todos porque é da ordem do mundo haver as differenças de pensar. Começou então o Melgacense a viver vida attribulada. Passou a novo redactor, e este, com um desinteresse partidário que sobremaneira o honra entendeu que só a mudança de título faria desaparecer certas desintellegencias.
Chrismou-se então em Espada do Norte. Mas, como tantas vezes acontece, d’onde se esperava a salvação resultou a morte.
Um sympathico filho d’esta terra que nas terras do Pará segue com olhos d’amor os progressos da mãe-pátria e que entre os seus patrícios e amigos fazia propaganda do jornal de que elle fôra um dos mais enthusiastas iniciadores, não levou a bem a mudança de título porquê como elle dizia, para a colónia portugueza o título Melgacense representava uma carta de família n’aquellas remotas paragens.
Sem o auxílio e boa vontade de João Pires Teixeira, que não é outro o sympathico patrício a quem fazemos referência, a Espada do Norte viveu um anno mas não pôde continuar.
Alguém que dá razão às observações de João Pires Teixeira e que, como elle, sente por esta abençoada terra o mesmo carinhoso amor, vae refundir a Espada do Norte no Melgacense que será o seu successor.
Passando a novo proprietário e nova redacção o Melgacense prosseguirá dos seus antecessores na vontade de ser útil ao concelho e, embora por um processo completamente diverso, nem um momento duvidaremos recommenda-lo aos nossos presados assignantes.
Pereira d’Araujo