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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

O ÚLTIMO SUSPIRO...

melgaçodomonteàribeira, 08.11.14

Cabeçalho do último número

 

AOS NOSSOS PRESADOS ASSIGNANTES

 

   A Espada do Norte, successora do Melgacense vai suspender a sua publicação. Com o presente número completa um anno de vida e, triste é dizel-o, esse curto lapso de tempo em que sempre pugnou pelos interesses d’este concelho, foi assignalado por contrariedades que lhe assoberbaram a vida e que agora determinam a sua suspensão.

   Para quem veja as coisas superficialmente, este facto seria um triste symtoma revellador da decadência intellectual e moral a que se chegou ou de que nunca saiu este concelho.

   Precisamos, pois, desvanecer essa má impressão que por muitos motivos se nos afigura injusta.

   A nossa terra tem elementos de sobra para sustentar um jornal que dê uma ideia dos seus adiantamentos e defenda, quando fôr mister, os seus legítimos interesses.

   Como se explica então a morte do Melgacense e seguidamente a da Espada do Norte?

   Vejamos.

   Quando alguns generosos rapazes, filhos d’aqui, que nas longínquas plagas da América luctam victoriosamente pela vida, tiveram a ideia alevantada de dotar a terra com um jornal que foi o Melgacense, escolheram para seu redactor um cavalheiro competentíssimo, distincto entre os mais distinctos da nossa terra.

   Militando activamente na política com paixão e sinceridade, afigurava-se a este cavalheiro que só a parcialidade política em que se alistara poderia fomentar as prosperidades do paiz. D’ahi um certo interesse ao defender a ideia acalentada com amor e filha da convicção politica de quem peleja com sinceridade.

   Esta atitude não satisfez a todos porque é da ordem do mundo haver as differenças de pensar. Começou então o Melgacense a viver vida attribulada. Passou a novo redactor, e este, com um desinteresse partidário que sobremaneira o honra entendeu que só a mudança de título faria desaparecer certas desintellegencias.

   Chrismou-se então em Espada do Norte. Mas, como tantas vezes acontece, d’onde se esperava a salvação resultou a morte.

   Um sympathico filho d’esta terra que nas terras do Pará segue com olhos d’amor os progressos da mãe-pátria e que entre os seus patrícios e amigos fazia propaganda do jornal de que elle fôra um dos mais enthusiastas iniciadores, não levou a bem a mudança de título porquê como elle dizia, para a colónia portugueza o título Melgacense representava uma carta de família n’aquellas remotas paragens.

   Sem o auxílio e boa vontade de João Pires Teixeira, que não é outro o sympathico patrício a quem fazemos referência, a Espada do Norte viveu um anno mas não pôde continuar.

   Alguém que dá razão às observações de João Pires Teixeira e que, como elle, sente por esta abençoada terra o mesmo carinhoso amor, vae refundir a Espada do Norte no Melgacense que será o seu successor.

   Passando a novo proprietário e nova redacção o Melgacense prosseguirá dos seus antecessores na vontade de ser útil ao concelho e, embora por um processo completamente diverso, nem um momento duvidaremos recommenda-lo aos nossos presados assignantes.

 

                                                                  Pereira d’Araujo