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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

JOSÉ SERRANO

melgaçodomonteàribeira, 28.06.14

 

 

Quem sou?

 

De tantas coisas que fiz…

Comecei em estudante;

Fui lavrador e soldado,

Escriturário e ajudante.

Fui professor e polícia…

Fui mandado e comandante!!!

 

Emigrei, depois mais tarde,

P’ra terras desconhecidas

Onde vi, quase o início

Tantas ilusões perdidas,

E quando me dei conta

Da minha mente varridas!!!

 

Dei serventia a “maçons”…

Fui trolha… fui carpinteiro;

“Telhador” e electricista!

Fui pintor e jardineiro;

Desenhador… capataz!

E também fui picheleiro!!!

 

Desde criança que tive

Grande amor à poesia,

E nos poucos livres

Insonsos versos fazia,

Que uma pedra sepulcral

Ao ouvi-los se mexia!!!

 

José Serrano??? Poeta?!

Nunca o foi! Nem se-lo-à!

Mas enquanto tiver vida

O que puder ‘screverá

Mas a saúde, por vezes,

Mal nos deixa andar por cá!!!

 

Não fales, assim, não fales!

Deixa-me ser como sou;

Não pod’ria ser poeta

Aquel’ que jamais prestou

E nos planaltos da Serra

Tanta coisa imaginou…!!!

 

 

Uma Vida Entre Poesia

 

José Maria Rodrigues (José Serrano)

 

Câmara Municipal de Melgaço

 

2007

  

UMA DOAÇÃO NO SÉCULO XII

melgaçodomonteàribeira, 21.06.14

 

Ruínas - Convento de Fiães

 

DOAÇÃO DE AFONSO PAIS E OUTROS AO MOSTEIRO DE FIÃES EM 1157

 

 

   No extremo Norte de Portugal, a raiar com Espanha, assenta a velha freguesia de Fiães na encosta do Pomedelo ou Pernidelo.

   Do seu antiquíssimo e célebre Mosteiro, sobranceiro à vila de Melgaço, resta a Igreja Paroquial em estado muito precário de conservação e um montão de ruínas, entre as quais, para cúmulo da desgraça (ó Céus!...) se construíram há anos currais de gado.

   Não vou hoje historiar o passado glorioso desse importantíssimo Mosteiro de Beneditinos que cedo receberam a reforma de Cister, mas apenas dar a conhecer o documento que traçou os limites que a freguesia ainda conserva passado oito séculos.

   Afirma-se que o Mosteiro foi fundado pelo ano de 851 e depois arruinado. Ao certo não consegui saber ainda da sua origem.

   Sabe-se de certeza que ele floresceu no século XII, sendo atribuída à generosidade de Afonso Pais a sua restauração. De facto quem folhear o livro das datas do referido Mosteiro, existente no Arquivo Distrital de Braga, encontra muitas doações feitas por Afonso Pais.

   Há porém um documento importante para a História do Mosteiro de Fiães que não encontrei no livro das datas.

   Às minhas mãos veio uma cópia antiga. Trata-se da doação ao Mosteiro do território que constitui a freguesia actual e que foi couto noutras eras. Nas inquirições de Afonso III alegaram o D. Abade, os frades e o sacristão que o Mosteiro tinha couto delimitado por padrões (marcos de pedra) e que o tinham por doação de fidalgos, mas sem carta de El-Rei.

   Com o fac-símile do pergaminho em questão, apresento aos leitores a sua leitura corrente e tradução.

 

 

      Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e em honra da beata Maria sempre Virgem e de todos os santos. Eu Afonso Pais juntamente com meus irmãos e irmãs Pedro Pais, Egas Pais, Fernando Pais, Garcia Pais, Gudina Pais, Hónega Pais, Mór Pais, Maria Pais, Hónega Mendes, Mór Mendes. Eu Oroana com meus filhos Pedro Nunes, João Gomes, Álvaro Sarracines juntamente com meus irmãos e minhas irmãs. Eu Pedro Bauzoi juntamente com meus irmãos. Eu Nuno Dias juntamente com meus irmãos e minhas irmãs. Eu Pedro Peres com meus irmãos e minhas irmãs. Eu Paio Peres, Guilherme Peres. Eu Rodrigo Goterres com meus irmãos. Eu Ferrão Ventre com meus irmãos. Gonçalo Peres com seus irmãos. Fernando Nunes com seus irmãos. Pedro Soares com seus irmãos. Fernando Nunes com seus irmãos. Pedro Nunes com seus irmãos. Fazemos documento de segurança daquele monte que se chama Fenais, que nós resolvemos por vontade própria doar aos servos de Deus, Abade João e sua congregação, tanto aos presentes como aos que depois deles vierem e aí perseverarem na santa vida beneditina; possuam-no para sempre por direito de herança por nossa doação, pelas nossas almas e pelas almas de nossos pais, porque é breve a nossa vida. Estabelecemos-lhe limites a principiar em Penha de Ervilha, depois por Costa Má, até Curro de Loba, partindo pelo rio Doma, pelo vale Gaão, depois pelo outeiro da Aveleira, a seguir pelo coto da Aguieira e depois desde o Vidual até Penha de Ervilha e fechou. Nós acima nomeados damos esta herança para exercer o culto de Deus enquanto houver um homem que o faça. Se for retirada do culto de Deus cada um receba o seu quinhão. Se vier alguém ou viermos nós, tanto da nossa família como de estranhos, que queira violar esta nossa doação, seja excomungado e condenado perpetuamente como Judas traidor do Senhor.

   Por estes limites que mencionamos concedemos (o monte) àquele Mosteiro que está situado no referido monte de Santa Maria. Nenhuma autoridade nem homem algum se atreva a arrotear ou lavrar (neste monte) sem ordens dos mesmos frades. Eis a pena que nós estabelecemos e outorgamos: restitua a mesma herança em dobro ou com suas melhorias e dois mil soldos para a Congregação. Reinando em Portugal o Rei Afonso com a sua mulher a Rainha Mafalda. Vigário particular do Rei Gonçalo de Sousa. Na Sé de Tui o bispo Isidoro. Senhor de Valadares Sueiro Aires. Era de 1195 no dia que é 14º das calendas de Setembro (19 de Agosto de 1157). Nós como acima dissemos a vós Abade João com vossos Frades nesta escritura se segurança por nossas mãos roboramos.

   Como testemunhas Sueiro, João, Pedro, Fernando, Munho. Pelo notário Pedro.

 

   A tradução é livre, porquanto há expressões más de traduzir à letra e o latim é defeituosíssimo.

   Da expressão mons fenales, Montes Fenais (que produzem feno) deve vir a palavra Fiães, embora se pretenda que ela vem de Fiam, medida antiga.

   Os limites traçados neste documento são os actuais. Penha de Ervilha redundou em Par d’Ervilha. (Par é contracção de pêra, pedra).

   «Curro de Loba» é hoje de Lobo. O rio Doma que aparece várias vezes no livro das datas chamou-se depois Várzeas e hoje tem o nome de Trancoso. Frente a S. Gregório ainda há na Galiza Puente Barjas, Ponte das Várzeas. Vale Gaão deve ser o monte Gonle, perto de Pousafoles.

   Os restantes nomes ainda existem.

   Riba de Mouro (Monção), 26-6-47

 

                                                                                      Bernardo Pintor

 

Obra Histórica

Padre Manuel António Bernardo Pintor

Edição do Rotary Club de Monção

2005

pp. 19-23

 

O REGEDOR VINGATIVO

melgaçodomonteàribeira, 14.06.14

 

Igreja paroquial de Prado

 

PADRES EM TRIBUNAL

 

 

    Em 29 de Julho de 1912, chegaram a Melgaço o capitão José Augusto Soares e o tenente Joaquim Carlos Pereira Brandão, a fim de procederem a corpo de delito no processo instaurado contra o ver. Francisco António Gonçalves, reitor de Prado, acusado de conspirar contra as instituições vigentes etc, etc.

    Esta acusação era infundada, como facilmente convence o teor do documento emanado do Tribunal Marcial de Braga, que tal é:

    «Cópia»

    Serviço da República

    Comando da 8ª Divisão do exército

    2ª Repartição Nº 944

    Contra o Pároco da freguesia de Prado, concelho de Melgaço, foi instaurado um processo que teve por base uma participação do regedor daquela freguesia, datada de 9 de Julho findo, na qual o referido pároco era arguido de conspirar contra as instituições vigentes e ameaçar com a entrada de Paiva Couceiro no país, o mesmo regedor e demais membros da Junta da Paróquia. Pelas provas produzidas no corpo de delito, demonstra-se que a participação é completamente destituída de fundamento e verdade, sendo lícito concluir-se em face dos próprios depoimentos das testemunhas dadas pelo participante, que devem considerar-se insuspeitas que este valendo-se das actuais circunstâncias e da sua qualidade de autoridade, teve somente em vista comprometer o arguido com quem não mantém boas relações de amizade. É pois repugnante e vexatório acto para as instituições que nos regem, o procedimento desta autoridade pelo atentado que representa à liberdade dum cidadão, que, sem culpa, mas vítima somente dum vil esforço, esteve preso por mais de quinze dias, enquanto a sua inocência não pôde ser demonstrada.

    E por que o facto é incontestavelmente grave, encarrega-me Sua Ex.a o General Comandante desta Divisão, de o comunicar a V. Ex.a para os fins que tiver por conveniente.

Saúde e Fraternidade.

Quartel General em Braga, 3 de Agosto de 1912.

 

 

P. Júlio Vaz Apresenta Mário

P. Júlio Vaz

Edição do autor

1996

p. 246

 

OS MEUS SONETOS (E OS DO FRADE)

melgaçodomonteàribeira, 07.06.14

 

 

INÊS NEGRA

 

 

Estavas, linda Inês, tão repousada,

Saboreando a árdua e sã vitória,

Sobre a traidora vil de má memória,

Que chamam por desdém d’Arrenegada!

 

Eis senão quando, mente arrebatada,

Não temendo ferir honra e glória,

Apaga, com um só golpe, da História,

Tua figura de heroína abençoada!

 

Querem metamorfosear-te em lenda,

Levar-te para o museu das velharias;

Roubar-te o nobre troféu cobiçado.

 

Regressa, bela virago, à contenda,

Desenterra as armas das armarias,

Reconquista teu renome ameaçado!

 

 

Joaquim Rocha – Os Meus Sonetos (e os do frade)